segunda-feira, 8 de abril de 2024

Está cada vez mais difícil a relação do público com o jornalismo: Saiba as razões

Para assinalar a data 7 de abril, de comemoração ao Dia do Jornalista, o Comitê de Civismo e Cidadania da Associação Comercial de São Paulo – COCCID, promoveu na sede da entidade um debate sobre ética profissional no jornalismo.


O coordenador, Samir Nakhle Khoury, convidou para discutir o assunto os jornalistas Fábio Marckezini, Denise Campos de Toledo e Douglas Nascimento. Também fui convidado, mas como não estava em São Paulo, participei via online. 

Os palestrantes foram enfáticos em afirmar que o bombardeio contra a mídia parte das redes sociais e tem a ver com a polarização política.

Denise Campos de Toledo, por exemplo, há anos cobre economia e o mercado financeiro.

Se ela disser que as finanças do país estão indo bem, quem não gosta do atual governo fará ataques a ela. Se escrever que tudo vai mal, a bronca virá dos apoiadores do presidente.

Para não ter que responder, nem acessa as redes. Seu trabalho todos sabem, é profissional, ético e responsável, mas conforme ela explicou, "as comunidades virtuais costumam ser implacáveis"!

Douglas Nascimento comentou que recebe comentários do tipo: “Essa notícia a Folha não dá”! Para em seguida salientar: “Não dá, porque nas redes sociais nem todas as informações são verdadeiras.”

De fato, um jornalista profissional, que atua sob princípios éticos, faz primeiro a apuração da notícia para só depois publicá-la. 

Na fase de perguntas alguém questionou: Por que a imprensa só traz notícias ruins?

Convidado a interagir via online, considerei em viva voz que notícias boas também são trazidas pela mídia, mas no emaranhado de acontecimentos muitas vezes ninguém percebe.

Se a previsão do tempo disser que vai chover, quem mora na capital paulista não irá gostar, mas quem reside no interior, em meio às plantações, ficará feliz. Queda da inflação também é uma boa notícia, diminuição do desemprego, outra.

Notícias, porém, que contrariam interesses políticos nem sempre são benvindas, daí surgem as fake news.

Há os que compartilham mesmo sabendo que se trata de uma notícia falsa pelo fato de concordar com o que está escrito.

Citei na conversa online, uma matéria do Jornal Nacional que esclareceu: “Chá de inhame, não cura a dengue”. Nas redes alguns vídeos gravados por pessoas desinformadas garantem que sim. Especialistas disseram que não. Quem está certo?

No lugar de um jornalista, qual seria sua atitude? O WhatsApp é um aplicativo maravilhoso, muito útil, ele serve para o compartilhamento de informações pessoais ou em grupos, mas não é fonte de notícias.


Encerrado o encontro, no dia seguinte, leio no grupo do Coccid: “...vivemos na imprensa, trevas bem piores que no regime militar...”

Me admirei, foram duas horas de conversas e nem todos entenderam o que foi comentado!

No tempo dos generais, ninguém sequer sonhava com o aparecimento da internet. A única rede social existente era o telefone fixo, ainda assim para tê-lo instalado era preciso se inscrever no plano de expansão, pagar em prestações e aguardar cerca de dois anos ou mais.

Havia um mercado paralelo para o fornecimento de telefones, mesmo assim o governo não permitia a livre concorrência, nem as importações. As estatais detinham tudo. 

Hoje muitos nem sabem que era desse jeito, porque nasceram depois da redemocratização, outros que viveram a época, se esqueceram ou preferem não lembrar.

Havia no país uma censura prévia estabelecida dentro das redações dos jornais, só não sofria censura quem praticasse o jornalismo “chapa branca”, aquele que só publicava notícias que interessavam ao regime.

A prática desse jornalismo ainda existe, mas de outra maneira. Agora com os canais de mídias alternativas, alguns influenciadores digitais fazem uso da liberdade de expressão para comentários que sabem ser imprecisos, mas sempre favoráveis a um segmento político.

“Falsos jornalistas que não estudaram para ingressar na profissão, ocupam espaços nas redes sociais para desacreditar a verdadeira imprensa”, lembrou Fábio Marckezini, durante o evento do Coccid.


Integram o Coccid, pessoas que apoiam a integração entre o povo e a sociedade constituída, isto se dá através das ações de civismo discutidas em cada encontro.

Este trabalho é de grande importância para o Brasil atual, porque existem ainda aqueles que só compreendem o civismo dos tempos das aulas de Educação, Moral e Cívica do curso ginasial que assistíamos na década de 1970.

Sim, eram boas aquelas aulas! Graças a elas aprendemos a cantar o Hino Nacional, Hino da Independência, da República, a entender e respeitar os símbolos nacionais e a nossa bandeira.

O civismo hoje, entretanto, não se limita a esses ensinamentos, possui uma dimensão maior que passa pelo direito de acesso de todos à cidadania.

Ser cidadão é sentir-se tratado com igualdade perante a lei e a todos, para possibilitar ao Estado, a abertura de caminhos para o desenvolvimento pessoal e social de cada um.

Isto já foi alcançado por países democráticos que investem na educação, portanto, trabalhar em favor da cidadania, é cultivar o crescimento da democracia que sabemos, ainda é imperfeita no Brasil.



A imprensa tem papel fundamental neste aprimoramento da democracia, para isso depende de jornalistas honestos, livres, éticos e responsáveis.

Precisamos também aprimorar o jornalismo e para isso se faz necessária a participação de todos verdadeiramente interessados em construir uma nação melhor, sem revanchismos.

O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Roberto Mateus Ordine, está de parabéns por apoiar e manter ativo o Comitê de Ética e Cidadania – Coccid.

Promover eventos que aproximam o público da mídia, é algo importantíssimo no sentido de se desenvolver a crítica e a autocrítica.



Para assistir a reunião do COCCID. Acesse:




Leia também Blog do Geraldo Nunes: Blog do Geraldo Nunes: Virou moda desacreditar a mídia, falar mal do jornalismo e dos jornalistas: Entenda os motivos

4 comentários:

  1. Hoje o que mais acontece é se dar soluções simplistas para problemas complexos. Porém a vida está mais complexa do que nunca. É preciso ler e ouvir pessoas gabaritadas, que tenham se debruçado sobre as questões e tentado entender um pouco além da superfície. Por isso a importância da imprensa profissional. No dia que não tivermos mais jornais responsáveis como Folha, Estadão, O Globo e outros, que investem em RH, ou seja, em jornalistas e analistas, para trazer as notícias e as análises com o mínimo de credibilidade, nesse dia vamos chorar as pitangas, porque o mundo ficará muito pior.

    ResponderExcluir
  2. Maurício Bevilacqua8 de abril de 2024 às 15:11

    Que a imprensa continue a informar e a esclarecer. Não é possível - nem é desejável - agradar os que não querem isso.

    ResponderExcluir
  3. O papel da imprensa é crucial para o aprimoramento da democracia. Jornalistas honestos, livres, éticos e responsáveis desempenham um papel fundamental na garantia da transparência, na prestação de contas dos governantes, na disseminação de informações precisas e na promoção do debate público saudável.

    ResponderExcluir
  4. O órgão que faz uma publicação em massa de uma notícia ou opinião tem que ser responsável pela veracidade desta publicação e pelos efeitos da inverdade. Opiniões devem ter quantidade limitada a seguidores diretos.

    ResponderExcluir