Em 1822, São Paulo tinha 28 ruas, pouco mais de 1.800
casas e menos de 7 mil habitantes.
Na Zona Leste inteira havia apenas 36 casas e mesmo
com poucas acomodações Dom Pedro decidiu pernoitar na Penha e seguir para o
burgo paulistano somente no dia seguinte.
Por que ele fez isso?
O príncipe regente se hospedou na residência dos
padres, lugar próximo de onde está a Igreja Velha da Penha.
Como não havia prédios, de lá era possível avistar toda
a cidadezinha localizada acima da planície pela qual se estendia a antiga Estrada
da Penha, hoje Avenida Celso Garcia.
O ambiente político era tenso, desde o Dia do Fico, em
9 de janeiro daquele ano.
O príncipe regente anunciou que iria ficar no Brasil e tal
iniciativa aflorou o sentido de independência na população.
Dom Pedro contornava as exigências vindas das cortes
de Lisboa, ao mesmo tempo em que internamente, sofria pressões para que se posicionasse o quanto antes.
De duas províncias, Minas Gerais e São Paulo, vieram
ameaças para que tomasse uma posição rapidamente.
Caso contrário, a independência seria proclamada por
outros meios, se necessário até, fazendo uso de armas.
Com o objetivo de aparar arestas, Dom Pedro parte do
Rio em viagem, primeiro à Vila Rica.
Após longas conversas reconquista o apoio dos mineiros,
mas ainda faltava abrandar os ânimos em São Paulo.
A província paulista era governada por uma junta provisória, formada em parte por apoiadores e outra por descontentes.
A contenda resulta na eclosão, em 23 de maio de 1822, de uma revolta à qual se deu o nome “Bernarda de Francisco Inácio”.
A população paulistana revoltada chegou a hostilizar
soldados enviados de Santos pelo príncipe regente.
O Coronel Francisco Inácio de Souza Queiroz, integrante
da junta governativa, subira o tom de voz em defesa da independência do Brasil.
A chegada de Dom Pedro à Penha acontece no início da
tarde de 24 de agosto, um sábado.
Daria tempo de chegar ao Paço da Sé ainda com o dia
claro, mas ele decide pernoitar porque temia uma reação.
Pede a seu secretário, Francisco Gomes da Silva, o Chalaça,
que se dirija antes ao burgo paulistano para sentir os ânimos.
No início da noite, o príncipe é informado que tudo estava
tranquilo.
Assim sendo, no dia seguinte, segue na direção da
Ladeira do Carmo.
Ao chegar é recepcionado com toda pompa pelo arcebispo
Dom Mateus de Abreu Pereira.
Dom Pedro permanece em São Paulo de 25 de agosto a 5
de setembro, faz costuras políticas e aquieta os ânimos de Francisco Inácio ao
garantir que a independência estava próxima.
No Palácio do Governo localizado onde agora está a
reconstruída igreja do Pátio do Colégio, o príncipe passa a receber os interessados em
fazer pedidos, era o famoso “beija-mão” daqueles tempos.
Foi num desses eventos que conheceu Domitila de
Castro, a mulher que se tornaria a mais amada e odiada do Brasil.
A futura Marquesa de Santos, não viajou com ele para o litoral, aliás não há nenhum registro histórico que acuse a presença dela no litoral paulista sequer uma vez na vida.
Dom Pedro foi a Santos dar instruções para que ficassem de prontidão para enfrentar um possível ataque de Portugal à região
portuária quando anunciasse sua decisão.
Sua volta para São Paulo aconteceu em um sábado, 7 de setembro de 1822, quando a Independência do Brasil foi proclamada, às margens do Ipiranga.
Fontes: Bomtempi, Sylvio/Viagem de D. Pedro a São
Paulo e o Paço da Penha de França – 1822/Rotary Club de São Paulo/Penha/1972
Santana, Nuto/A Bernarda de Francisco Inacio/Sociedade
Impressora Brasileira/1ª Edição/São Paulo/1938