sábado, 17 de fevereiro de 2024

Esquina da Ipiranga com Avenida São João mistura dor e amor

Certa vez fui convidado a fazer uma palestra sobre a esquina mais famosa do Brasil: Ipiranga com Avenida São João.

Para dar ênfase ao assunto preparei uma análise da letra de Sampa, música de Caetano Veloso lançada em disco por ele, no ano de 1978. 

O encontro foi para promover o lançamento de uma coletânea organizada pela saudosa Thais Matarazzo e o livro, com a assinatura de vários autores, alcançou bom resultado nas vendas.

Comecei a explanação dizendo que não há mais uma música que enalteça São Paulo, como a marcha Quarto Centenário, de Mário Zan e JM Alves. 

Essa música serviu de referência durante anos, mas já não é mais lembrada: “São Paulo terra amada, cidade imensa de grandezas mil! És tu, terra adorada, progresso e gloria do meu Brasil...”

Outro sucesso que caiu no esquecimento é o da dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho; “Eh,eh,eh São Paulo, Eh São Paulo, São Paulo da garoa, São Paulo que terra boa...”

Em um concurso da Rede Globo, em 2004, para saber qual a canção que melhor definiria a cidade em seus 450 anos, ganhou Trem das Onze de Adoniran Barbosa e Sampa ficou em segundo lugar.

Embora bonitas, nenhuma das duas músicas citam diretamente o nome São Paulo, embora Sampa tenha passado a servir de abreviatura nas conversas e em alguns textos.

Rio de Janeiro sim, é a cidade campeã em músicas que a enaltecem, não é por menos, tamanha sua beleza.

Cidade Maravilhosa e Samba do Avião, são dois exemplos, porém a mais bela de todas, ao meu ver, é Valsa de uma Cidade, de Antônio Maria e Ismael Neto: “Rio de Janeiro, gosto de você, gosto de quem gosta deste céu, desse mar, dessa gente feliz...” Lindeza! Não é mesmo?

Sampa, é uma entre tantas canções que contam a história do nordestino que chega e encontra dificuldades na cidade grande.

Caetano Veloso que hoje está com 81 anos, veio da Bahia para São Paulo em 1965, quando tinha 23. À noite seguia para a esquina famosa que na época, servia de ponto de encontro dos músicos à espera de oportunidades.

Todos se reuniam em frente  a um bar que já não existe mais, o Jeca e lá faziam contatos para conseguir algum lugar para se apresentar. Isso explica o início da letra, conforme o cartaz:

Mas tem gente que detesta a música Sampa, já ouvi pessoas dizerem que em vez de enaltecer, a letra escracha São Paulo quando diz: “...da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas...”

De fato, na letra, Caetano faz críticas e elogios: “Ainda não havia para mim Rita Lee, a sua mais completa tradução...” Ele a conheceu nos Mutantes dois anos depois de chegar, nos festivais de música da TV Record.

Chuta o balde de novo ao dizer: “chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto...porque ésavesso do avesso, do avesso do avesso.”

Cita verdades na estrofe; “a força da grana que ergue e destrói coisas belas...” Em seguida enaltece os poetas, “seus deuses da chuva”.

Principal metrópole da América do Sul, nossa cidade recebe pessoas vindas de quase todas as partes do mundo: “Pan-America de Áfricas utópicas... 

“Túmulo do samba”, definição de Vinicius de Moraes para São Paulo em um momento de raiva, foi lembrada por Caetano que retruca: “Mais possível novo quilombo de zumbi...”.

Sim! Porque de Sampa sempre partiram as decisões ou iniciativas que ajudaram a mudar a história do país. 

Foi assim com a Proclamação da Independência, as greves de 1917, a marcha das famílias, em 1964 e o movimento das Diretas Já, 20 anos depois.

Ao finalizar sua música, Caetano Veloso cita os Novos Baianos, grupo musical de Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Baby Consuelo e afirma: “Os Novos Baianos passeiam na tua garoa e novos baianos te podem curtir numa boa”. Este final a meu ver é magnífico!


Na conclusão da palestra sobre a famosa esquina expliquei que as letras de Caetano Veloso sempre levantam polêmicas.

Sampa pode não ser a mais bela canção já feita para São Paulo, porém é a mais inspirada. Concordam ou não? Peço respeito a Caetano Veloso para os que forem comentar.

Durante uma fase da minha vida passei diariamente por essa essa esquina, quando fui bancário e trabalhei no Banco Itaú da Praça da República. 

De vez em quando compareço ao Bar Brahma para "bater o ponto" e matar saudades deste lugar emblemático próximo de onde ficava o Cine Ipiranga e o Cine Marabá.


Obs: Algumas fotos extraídas do Google, outras de meu acervo particular


4 comentários:

  1. Caetano não deixa de dizer verdades sobre São Paulo. Gosto da música e amo minha cidade, apesar dos pesares. Esther Saba

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  2. Olá Geraldo Nunes,,, grande abraço amigo,,,,eu tbm tenho muitas recordações boas dessa esquina famosa,, pois fui off boy quando menino cheguei em "Sampa" vim da minha terra (Paraná),, foi esplêndido o desafio de conhecer a cada e meu maior desafio ,, chagava a me perder nesta imensidão de cidade e foi minha maior escola esse trabalho,, pois aprendi e conheci os "macetes" desta cidade ,, lembro até do "Luizinho" (guarda de trânsito) dando bronca nos pedestres que " queimavam" a faixa ou o farol da esquina do Mappin.... e eu mocinho sempre sonhando em comprar um blazer na loja Peeters ...kk mais tarde na seguencia da vida me tornei um motorista de táxi...,, pois conhecia Capital nas palmas das mãos...e ouvia o JORNAL DA ELDORADO,,, ouvia seus boletins do helicóptero Ford,,,, aí eu criei um slogan e telefonava pra rádio dizendo ,, aqui é Alcides.... UM TAXISTA FELIZ,,, até que um dia fui convidado por vc para voar contigo,,, tive a honra e o prazer desse seu presente... levei uma câmera Panasonic 320 kkk (monstruosa) e filmei o grande vôo...o Cmte era o Ulisses... filmei VHF. Alcides Ferreira via Web

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  3. Sua análise é um testemunho da riqueza cultural e histórica de São Paulo, e sua paixão pela cidade é evidente em suas palavras.

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  4. Não gosto da frase A deselegância discreta de suas meninas..... tá falando da mulheres da vida que trabalhavam lá ou da mulher paulistana.... Espero que seja das mulheres da vida,pois não eram paulistanas e sim as que fugiam para cá para melhor vida e acabavam assim....Yara Cristina via Messenger

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