sábado, 9 de setembro de 2023

Quem são e de onde vêm os ciganos? A origem deste povo continua envolta em mistério

Sou um paulistano do Moinho Velho e quando menino, neste bairro próximo à estrada de Santos, víamos ciganos por lá.

As mulheres tinham feições indianas e pele clara, eram exóticas porque usavam saias longas e coloridas um tanto fora de moda e longe de ser o estilo da época.

Os homens ciganos, geralmente morenos de cabelos lisos, eram vistos com certo temor, associados sempre a roubos, trapaças e desaparecimento de crianças.

Nunca, entretanto, houve acusações contra aquelas pessoas que conviveram conosco à distância no mesmo bairro.

Dia desses conversando com um amigo dos tempos da faculdade de jornalismo, Fernando Torres, ele me disse acreditar que pode ter tido ancestrais ciganos por causa do seu sobrenome.

O primeiro cigano a entrar no Brasil foi João Torres, ao lado de sua esposa Angelina, deportados que foram de Portugal para as terras brasileiras, em 1574.

Os ciganos eram perseguidos pela Inquisição, tribunal da Igreja Católica que julgava "crimes" contra a fé.

Como conviviam entre os mouros do norte da África e os cristãos europeus, os ciganos oscilavam do paganismo ao cristianismo e isso bastava para serem acusados de heresia.

Para o Brasil migraram pelo menos três etnias ciganas: Calon, Rom e Sinti; cada uma delas com culturas e costumes próprios.

Os Calons são oriundos da Espanha e Portugal e as outras duas etnias possuem raízes na Turquia, Grécia e Romênia, mas todas elas derivam originalmente de um único ramo surgido na Índia.

O censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, apontou acampamentos ciganos em 291 dos 5.565 municípios brasileiros, maior parte em Minas Gerais, Bahia e Goiás, mas o levantamento não teve continuidade em 2022.

Juscelino Kubitschek de Oliveira pode ter sido o único presidente de origem cigana em todo o mundo.

Um imigrante da atual República Tcheca, Jan Nepomuscky Kubitschek, descendente de ciganos, foi o bisavô materno de Juscelino.

O primeiro Kubitschek de Diamantina, cidade onde nasceu JK, chegou por lá em 1830 e seu apelido era João Alemão pelos olhos azuis, cabelos ruivos e sotaque forte.

A família do ex-presidente jamais se pronunciou a respeito e o próprio JK nunca afirmou publicamente ter qualquer ascendência cigana.

Existe no Brasil uma data oficial dedicada a esses povos, o Dia Nacional do Cigano, comemorado em 24 de maio, criado por meio de um decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.

A justificativa se deu por reconhecimento à contribuição da etnia na formação da história e da identidade cultural brasileira.

No calendário cigano a data é dedicada à Santa Sara Kali, negra de cabelos lisos, a padroeira dos povos ciganos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães mataram cerca de 400 mil ciganos, vitimados pela ideologia nazista que defendia a criação de uma raça supostamente pura, a ariana, na Europa.

Hoje calcula-se que existam entre 2 e 5 milhões de ciganos no mundo, concentrados principalmente na Europa Central.

Fontes:

Ciganos no Brasil: https://ratycalon.blogspot.com/2014/10/1574-joao-torres-e-angelina-o-comeco-de.html?m=1

Revista Super Interessante - Ainda hoje, a origem do povo cigano continua envolta em mistério: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-sao-e-de-onde-vem-os-ciganos

Portal Rádio Câmara dos Deputados: https://www.camara.leg.br/radio/programas/307709-especial-ciganos-1-conheca-o-fascinio-do-povo-cigano-0911/

3 comentários:

  1. Quando morava em Campinas nos anos 80 houve uma migração grande de ciganos na cidade. Eles armavam barracas em terrenos baldios em meio a outras casas. A saúde pública intervia. Más não lembro de problemas sérios.

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  2. A gente via ciganos nas ruas há 50 anos, e hoje parecem não mais existir. Sei que é ignorância minha, mas me surpreende que ainda existam. Não se prendem propriamente a países, nem às ordens tradicionais de convivência, então ficamos confusos.

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  3. Querido Geraldo os ciganos acampavam no Morro do Isolamento, onde estão os hospitais das Clínicas e o Emílio Ribas. O casarão de meus bisavós calabreses era bem em frente, na av. Rebouças, na virada do XIX para o XX. Mamãe, ainda criança, ia lá vê-los, ficou encantada com o primeiro samovar que conheceu, e com uma zíngara de nome Rosita. Nossa simpatia por esse povo é, portanto, bem antiga. Beijo gratíssimo pela lembrança e pela ótima matéria !!!

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