sábado, 5 de agosto de 2023

Amador Bueno da Ribeira: o “Rei de São Paulo” precisou se esconder no Mosteiro de São Bento

Após a fundação do Colégio de Piratininga pelos jesuítas em 1554, o cacique Tibiriçá fixou sua moradia na área em que está o atual Mosteiro de São Bento.

Oito anos depois, em 1562, o cacique morreu e no lugar onde ele vivia foi feita uma capela e só bem depois seria feira a primeira edificação do que viria a ser o atual Mosteiro de São Bento. 

Para ser erguido, a participação de Fernão Dias Paes, o bandeirante caçador de esmeraldas, foi fundamental. 

Antes de entrar nesses detalhes vamos explicar a diferença entre mosteiro e igreja. Neste se reúnem os monges que se dedicam exclusivamente à oração e contemplação.

Quanto às igrejas, são elas voltadas à sociedade cuja administração fica por conta dos padres ou mesmo frades para a celebração de missas, casamentos, batizados e à organização de eventos com a participação dos fiéis para obras de caridade.

A ajuda prestada por Fernão Dias foi a de garantir o terreno e parte recursos pagos para a construção.

Na época era ele o capitão-mor da província, cargo equivalente ao de governador nos dias atuais.

Naquele tempo as dimensões de São Paulo não se limitavam ao burgo de Piratininga, abrangiam as terras equivalentes ao atual território paulista e mais ainda, parte do Mato Grosso e todo sul do país até a região do Prata.

Ao final de 1634 as obras do mosteiro foram concluídas e Fernão Dias seguiu para Minas Gerais em busca das tão sonhadas esmeraldas.

Morreu no ano de 1681 e seus ossos foram trasladados para São Paulo e sepultados no altar do mosteiro que ajudou construir.

Antes desse desfecho houve um episódio singular também envolvendo o Mosteiro de São Bento que foi a aclamação pelo povo de Amador Bueno da Ribeira para fazer dele “Rei de São Paulo”.

Conta a história que em 1580, Portugal perdeu seu rei Dom Sebastião em uma batalha no Marrocos e como era ainda muito jovem, não deixou sucessores. 

Isto levou Portugal a submeter-se durante 60 anos ao domínio espanhol, por serem os reis de Espanha, os parentes mais próximos de Dom Sebastião.

Somente em 1640 com a ascensão ao trono de Dom João IV, houve a restauração da monarquia em Portugal, mas no Brasil os paulistas buscaram implantar um regime autônomo e assim se ver livre da coroa portuguesa.

Para isso era necessário escolher um rei e por aclamação, Amador Bueno da Ribeira, então capitão-mor da província, foi o nome escolhido.

Amador Bueno não aceitou o cargo e como a insistência da população continuava, precisou desembainhar a espada e bradar ao povo sua fidelidade ao novo rei de Portugal.

Ainda assim tentaram convencê-lo, mas irredutível refugiou-se no Mosteiro de São Bento e lá permaneceu algumas semanas entre os monges até que os ânimos da população se acalmassem.

Três anos após este acontecimento histórico, Dom João IV, em 22 de setembro de 1643, enviou uma carta de agradecimento ao ato de fidelidade expressado por Amador Bueno da Ribeira que não aceitou ser “Rei de São Paulo”.


Até 1897 a construção do Mosteiro de São Bento se manteve semelhante à da pintura acima.

Quando São Paulo começou a se transformar em metrópole, o apelo desenvolvimentista promoveu a demolição do antigo mosteiro e a construção de um novo templo em 1910, cuja conclusão se deu em 1922.


Os restos mortais do bandeirante Fernão Dias Paes e de seus familiares foram mantidos e permanecem na capela-mor do atual mosteiro.

Em maio de 2007, o Mosteiro de São Bento hospedou o papa Bento XVI em sua primeira visita ao Brasil.

 

Fontes: Taunay, Afonso d'Escragnolle. O Epos bandeirante e São Paulo Vila e Cidade. São Paulo: Editoria Anhembi, 1958.

Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986

Monteiro, John Manuel. Negros da Terra. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.

3 comentários:

  1. Belissimo texto, confrade Geraldo. Sintético como do jornalista, profundo como do historiador.

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  2. Nossa história tem sabor das deliciosas conversas ao pé do fogão à lenha, quando relatadas pelo Confrade Geraldo Nunes. Tal característica sobressai em sua fala e também em sua escrita, de tal sorte que conseguimos absorver seus ensinamentos!

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