sexta-feira, 7 de julho de 2023

Está na hora do mercado imobiliário agradecer São Paulo e abraçar a luta pela recuperação do nosso centro histórico

A função de São Paulo para o Brasil é a de oferecer oportunidades de trabalho e lucro para os que procuram a cidade vindos de outros lugares ou mesmo que nasceram e aqui vivem.

Nosso empresariado é forte, competente e capacitado, disso ninguém duvida, mas enquanto no mundo todo se investe de fato em qualidade de vida, aqui busca-se disfarçadamente se fazer o contrário.  

Os vereadores paulistanos em defesa de uma suposta melhoria no bem-estar da população, aprovaram o novo Plano Diretor Estratégico e atenderam a quase que queria o mercado imobiliário.

As mudanças irão permitir a construção de mais edifícios residenciais em bairros próximos às estações do Metrô, já superlotados de prédios.


Se de um lado a decisão irá facilitar o acesso de mais pessoas ao transporte coletivo, de outro a forte concentração de torres residenciais em um mesmo espaço trará desajustes na qualidade vida desses novos moradores e daqueles que já estão estabelecidos.

Ouvi do meu amigo cronista Antônio Penteado Mendonça que na Alemanha, as edificações novas são obrigadas a respeitar a incidência de sol nos imóveis que foram construídos antes. 

Lá não se faz sombra no prédio alheio, aqui não estão nem aí, só pensam em construir mais e mais sem uma análise detalhada dos impactos ambientais que cada construção pode causar. 


O risco é o de transformar bairros hoje considerados aprazíveis, em lugares inóspitos. São Paulo pode virar uma Gotham City sem que haja um Batman para nos proteger.

Imagine a decadência de bairros considerados classe média como a Pompeia, Perdizes ou a Vila Mariana, transformados em Santa Cecília, Vila Buarque ou Campos Elíseos? O que será de nós?


Não gosto do termo especulação imobiliária, porque os setores de compra e venda, associado ao da construção civil cumprem o importante papel de gerar empregos e renda. Isto movimenta a economia e ajuda o país todo a crescer.

Entre dezembro de 2021 e janeiro de 2023, a construção civil contratou 194.398 trabalhadores com registro em carteira, acréscimo de 8,5% no mercado de trabalho, conforme balanço do Sinduscon-SP, entidade que representa o setor.

Em cada esquina um novo empreendimento está sendo lançado, basta circular pela capital dos paulistas para se perceber isso e aqui, tudo que se constrói é vendido rapidamente, seja imóvel popular ou de alto padrão.

O Anuário 2022 do Secovi-SP, apontou a venda de 69.340 imóveis residenciais novos, recorde para o setor. 

Nos últimos 12 meses a quantidade de unidades vendidas cresceu 4,9% em relação a 2021 quando houve a entrega de 66.092 apartamentos prontos para morar e agora já ocupados pelos seus proprietários.

Perde-se na qualidade de vida? Certamente esses novos moradores não pensam assim. Eis por que São Paulo é uma cidade contraditória!

Bairros aprazíveis estarão em breve superlotados de prédios, pessoas e carros; ao mesmo tempo em que o centro segue cada vez mais vazio e decadente. 

Fotos aéreas sempre mostram a região central repleta de arranha-céus, mas quem mora em São Paulo sabe que a realidade é outra.

Boa parte desses prédios não tem mais serventia, alguns até foram emparedados para se evitar invasões e seus proprietários, há anos não pagam o Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU.

A lei 15.234, de 2010, estabelece que o imposto predial em atraso dobre de preço a cada ano se a dívida não for paga, mas na prática essa lei não funciona porque não interessa ao dono de um imóvel fechado pagar o imposto.

Além disso, por se tratar na maioria de condomínios, cada caso é analisado separadamente pela justiça e os processos de desapropriação quando ocorrem se tornam longos.

O mercado imobiliário tem meios parta contornar o assunto, mas prefere deixar em banho-maria até que algum fato valorize os terrenos para motivar a recuperação e o acerto de contas em atraso com a prefeitura.

A construção de um bulevar em torno do Palácio dos Campos Elíseos, ainda em estudos, certamente traria incentivos para a revalorização imobiliária do centro histórico da metrópole.

Sabemos que há outros empecilhos, a cracolândia entre eles, mas se nada for feito pela região central e bairros circunvizinhos como República, Arouche, Santa Cecília e mesmo parte de Higienópolis, a cidade toda pode entrar em colapso habitacional, ou seja, a degradação abraçando tudo.

O centro precisa ser recuperado com urgência pois, como expliquei, o homem-morcego mora em Gotham City.

Que tal pensarmos mais a respeito?




Fontes: Sinduscon- SP: Construção gera 38,9 mil novos empregos em janeiro: https://sindusconsp.com.br/construcao-gera-389-mil-novos-empregos-em-janeiro/#:~:text=No%20acumulado%20de%2012%20meses,empregados%20em%20dezembro%20de%202021

Portal Ape 11: Mercado imobiliário de São Paulo: 2022 bate recorde de vendas, aponta Secovi: https://www.ape11.com.br/mercado-imobiliario-de-sao-paulo/#:~:text=O%20valor%20total%20transacionado%20foi,(47%2C3%20mil).

Portal Secovi-SP: https://secovi.com.br/por-uma-cidade-mais-democratica/

 

 

4 comentários:

  1. Verdade, excelente reflexão Geraldo, há tantos prédios antigos maravilhosos que precisam ser restaurados. É um patrimônio cultural, o centro da cidade que ao longo do tempo foi perdendo o seu encanto e sofre, como tudo, o desgaste do tempo. Foi uma promessa de campanha do governador, que poderia encontrar estes patrocinadores.

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  2. Parabéns, Geraldo. Precisamos fazer com que o centro seja novamente frequentável!

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  3. Só acredito numa mudança quando houver um casamento perfeito, de um(a) candidato(a) comprometido, digno, se unindo a uma população que vote nele ou nela e, uma vez eleito, juntos, pensando e trabalhando juntos, com uma equipe competente e esclarecida, construam modificações pra valer. Sem isso, nada feito. Utopia? Não sei. Todo morador quer mais qualidade de vida.

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