sábado, 23 de abril de 2022

A Praça da Liberdade e a saga do Cabo Chaguinhas

No bairro da Liberdade existe na praça principal, a Igreja da Santa Cruz das Almas dos Enforcados.

Tive a satisfação de entrevistar, em 1994, a jornalista Elsie Dubugrás, então editora-chefe da Revista Planetaque completava 90 anos.

Nosso assunto foi o livro São Paulo do Tempo da Garoa que ela havia lançado naquele ano com o apoio institucional do SBT de Sílvio Santos.

Na ocasião ele me falou a respeito da saga do Cabo Chaguinhas, assunto contido em seu livro.

“No século 19, o cabo Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, foi condenado sob a acusação de ser um dos organizadores de uma rebelião na sede do Batalhão de Caçadores onde servia.

Nas discussões, feriu a faca o filho do Intendente, uma espécie assim de prefeito da cidade.

O militar foi julgado e condenado à prisão, mas o mandatário para demonstrar poder, exigiu a morte do réu por enforcamento.

No dia da execução, acontecida no ano de 1821, por motivos inexplicáveis, a corda que deveria enforcar o cabo Chaguinhas rompeu-se três vezes.

Após a terceira tentativa, a pequena multidão que assistia à cena considerou que Deus não queria a morte do acusado e passou a pedir sua liberdade.

O carrasco, entretanto, não concordou com a ideia e concluiu seu intento ao matar o condenado com as tiras de couro obtidas de um carroceiro que passava pelo local.


Após o acontecimento, a notícia se esparramou pelo burgo paulistano e o povo passou a venerar o cabo Chaguinhas e a rezar por sua alma.

Para se preservar o culto de reverência a essa e outras almas, foi construída a igreja dos enforcados, pequena e humilde, mas muito frequentada.”

Dona Elsie me explicou que o pelourinho onde se castigava e se vendia escravos funcionava na atual Praça da Liberdade e que o nome do bairro veio somente depois da abolição, em 1889.

Para a Liberdade se mudaram os primeiros imigrantes italianos vindos para São Paulo e somente a partir da década de 1920 é que se instalaram os japoneses e demais orientais que deram o rosto que o bairro tem hoje.

Elsie Dubugrás, faleceu aos 102 anos, no dia de seu aniversário, em 2 de março de 2006. Escreverei mais sobre ela em próximas postagens, porque se trata de uma pessoa extraordinária que merece ser lembrada.

Já não trabalho mais como repórter aéreo, mas qualquer hora embarco novamente neste helicóptero de recordações para contar outros acontecimentos relativos a essa nossa São Paulo histórica cheia de fatos curiosos.

Um comentário:

  1. Legal, novamente parte da nossa história que não conhecemos.

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