segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Como se fazia para saber o resultado do futebol quando o rádio ainda não existia?

Em plena Copa do Mundo no Catar, assistindo um jogo pela televisão, alguém da família me veio com essa pergunta:

Como se fazia para saber os resultados do futebol quando ainda não havia emissoras de rádio no Brasil?

Lembrei então do meu amigo jornalista e memorialista Ademir Medici, que levantou essa questão em 2019, em um artigo no Diário do Grande ABC, publicado no ano do centenário da primeira conquista de um torneio internacional pela seleção brasileira.


Em 1919 aconteceu no Rio de Janeiro, a terceira edição do campeonato sul-americano de futebol, hoje chamado de Copa América, cuja disputa aconteceu no campo do Fluminense, nas Laranjeiras, com a participação de quatro seleções: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, bicampeão do certame.

No ano de 2019, cem anos depois, o Brasil entrou em campo para mais uma Copa América, vestindo uma camisa branca para lembrar o uniforme utilizado naquela conquista.

Quem não viajasse ao Rio de Janeiro para assistir presencialmente os jogos do sul-americano de 1919, teria que aguardar pelos jornais do dia seguinte para saber os resultados.

“Foi quando o Estadão anunciou a boa-nova: manter um plantonista no campo do Fluminense e este, pelo telefone, enviaria todos os lances da partida para a redação”, escreveu Ademir, na edição do dia 29 de maio de 2019, data de 100 anos daquela conquista.

“Cada telefonema recebido virava um cartaz colocado em frente à sede do jornal, localizada na Praça Antônio Prado, daqueles tempos.

Da mesma forma, defronte ao jornal, com ansiedade, uma multidão se aglomerava do lado de fora para ler as informações do jogo no qual o selecionado brasileiro bateu a Argentina por 3 a 1.

A partida final foi Brasil x Uruguai, um jogo eletrizante com vitória da seleção brasileira por 1 a 0, gol de Friedenreich.

Contei essa história antes, para mostrar o quanto o rádio foi importante para a consolidação do futebol como esporte popular no Brasil.

Hoje em dia, mesmo com a maior parte dos jogos sendo transmitida pela televisão, as rádios brasileiras ainda têm no futebol sua grande fonte de faturamento e seus narradores seguem queridos pelos ouvintes.

Esta relação de amor entre o rádio e o esporte, começou em 19 de julho de 1931 quando a Rádio Educadora Paulista transmitiu, por meio de Nicolau Tuma, a primeira partida completa de futebol na história do Brasil.

Foi um jogo entre as seleções dos estados de São Paulo e Paraná que resultou na vitória dos paulistas por 6 a 4.

A foto acima mostra Nicolau Tuma se preparando para transmitir o jogo, tendo ao seu lado um técnico de som e um antigo aparelho telefônico, além de um jogador da seleção paulista pronto para ser entrevistado.

As partidas eram narradas à beira do gramado porque não havia cabines de rádio, implantadas no Brasil somente a partir de 1940, quando o Estádio do Pacaembu foi inaugurado e passou a oferecer esse conforto aos narradores.

De lá para cá muitos locutores esportivos iniciados no rádio ganharam projeção nacional e até mesmo internacional.

Carlos Eduardo Galvão Bueno, por exemplo, começou no rádio transmitindo pela Gazeta 890 AM, em 1974.

Galvão Bueno assinou contrato com a Rede Globo de Televisão em 1981, sendo esta Copa do Mundo de 2022, sua décima copa como narrador e isso merece registro.

Importantes locutores esportivos brilharam exclusivamente no rádio, entre eles Fiori Gigliotti, Joseval Peixoto, Pedro Luiz, Osmar Santos, José Silvério e por aí adiante.

Na atualidade, Ulisses Costa, Eder Luiz, Oscar Ulysses e Nilson César marcam presença entre os principais narradores paulistas nas transmissões que acontecem ao vivo diretamente do Catar.

Paro por aqui, porque diante de mais uma Copa do Mundo, certamente novos nomes surgirão para marcar presença no rádio e brilhar.

Viva os 100 Anos de Rádio no Brasil! Viva o Futebol Brasileiro!

domingo, 20 de novembro de 2022

Conheça o pioneirismo do rádio brasileiro nas transmissões esportivas das copas pelo mundo afora

O terceiro Campeonato Mundial de Futebol realizado na França, em 1938, é considerado um marco na história do rádio brasileiro.

Durante o evento aconteceu a primeira transmissão esportiva em rede nacional, feita diretamente da Europa.


O jogo de estreia da seleção brasileira, em 12 de junho de 1938, foi contra a Tchecoslováquia e a partida terminou empatada em 1x1.


Coube a façanha ao locutor esportivo paulista, Leonardo Gagliano Neto, de narrar os jogos para uma cadeia de emissoras formada pelas rádios Clube do Brasil e Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, Cosmos e Cruzeiro do Sul de São Paulo, mais a Rádio Clube de Santos.

Os demais quatro jogos que o Brasil participou, além da partida final Itália 4x2 Hungria, foram do mesmo modo irradiados, com uma qualidade de som que surpreendeu a todos.

Naquele tempo, as transmissões radiofônicas de longa distância, eram feitas por emissões de ondas curtas integradas por um sistema de antenas coligadas.


Essas informações fazem parte da monografia elaborada pela saudosa professora de radiojornalismo, Gisela Swetlana Ortriwano, ainda nos tempos em que fui seu aluno na Universidade Metodista – UMESP – São Bernardo do Campo – SP.

Nesse trabalho, Gisela escreveu que em 1938, o Brasil parou para ouvir as irradiações de Gagliano Neto:

“O povo, incrédulo e fascinado com os sons vindos do outro lado do oceano, vibrava. Quem não tinha rádio em casa, se aglomerava no Largo do Paissandu, em São Paulo, ou diante da Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro”.

De 1938 até 2022 foram exatas 20 copas do mundo transmitidas pelo rádio. Enumerar todos os radialistas que participaram dessas transmissões internacionais, ao longo de 84 anos, seria por demais trabalhoso. Mas se faz necessário, homenagear o torcedor brasileiro que acompanha o futebol com muito gosto pelo rádio.


Ainda existem aqueles que comparecem ao estádio, levando seu radinho de pilha. Outros exageram, como é o caso do seu Zé do Rádio, conhecido torcedor do Sport Recife. 

Ele carrega consigo um aparelho gigante para ver e ouvir o que falam de seu time toda vez que vai ao estádio. 

O seu Zé garante que o rádio é um "amigo fiel", porque o ajuda compreender tudo que acontece no gramado com os detalhes, que só os repórteres esportivos sabem transmitir.

Há também, como é o meu caso, os que gostam de ouvir as transmissões esportivas pelo rádio do automóvel, geralmente em uma estrada movimentada nos domingos de volta para casa.

A conversa alegre que envolve o futebol, torna a rotina do tráfego menos cansativa. Nos lares, há os que acompanham na poltrona as imagens pela televisão e a narração do jogo pelo rádio, se bem que a tecnologia dificultou essa prática, por causa dos downloads que causam delay e atrapalham a sincronia entre o som do rádio e a imagem da TV. 

Isto colocou o rádio ainda mais na frente quando o assunto é informação. Quando o locutor esportivo grita gol, a diferença entre o tempo real e codificação de alguns provedores costuma variar de 6 a 30 segundos até que a TV consiga mostrar a bola na rede. 

Por isso, quando o jogo está morno, bola pra lá - bola pra cá, alguns ainda preferem acompanhá-lo somente pelo rádio, graças ao dinamismo que os narradores esportivos acrescentam ao movimento dos jogadores em campo.


Certamente não está faltando ouvintes para as emissoras de rádio que estão transmitindo esta Copa do Mundo direto de Doha, no Catar. 

Notei que a quantidade de anunciantes, em vez de diminuir, aumentou neste mundial em relação à copa transmitida da Rússia, em 2018.

A CBN, por exemplo, vendeu 9 cotas de patrocínio, algo acima da média. Parabéns aos gestores. 

Isto se deve à ampliação dos recursos da tecnologia que agora possibilitam ouvir rádio via internet pelos aplicativos nos celulares em android e nos smartphones. 

Este avanço fez aumentar a quantidade de ouvintes e por conseguinte de patrocinadores. 

Conclusão: O rádio seguirá vivo por tempo indefinido, contrariando aqueles que, vez por outra, anunciam seu fim.

Confira a lista das rádios brasileiras que estão transmitindo em rede, a Copa do Mundo 2022 ao vivo no Catar:

Rádio CBN

Rádio Globo FM Rio

Rádio Bandeirantes

Band News FM

Transamérica FM

Energia 97 FM

Jovem Pan

Rádio Itatiaia

Rádio Jornal Pernambuco

Rádio Gaúcha


    Desejo sorte ao scratch brasileiro


Fontes: Portal Money Times e FRANÇA 1938, III COPA DO MUNDO - O RÁDIO BRASILEIRO ESTAVA LÁ – Monografia: Gisela Swetlana Ortriwano – Graduada em Jornalismo pela ECA/USP - 1972 e mestra em História do Rádio

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O jornalismo no Rádio demorou para ser aceito

Dois noticiários radiofônicos serviram de modelo para a leitura de notícias nas rádios brasileiras a partir da década de 1940.

O “Repórter Esso” começou como noticiário de guerra. Levava esse nome por causa do patrocinador, a Companhia Esso Brasileira de Petróleo, era a maior distribuidora de combustíveis do país naquela época.

Este noticiário ia ao ar de hora em hora, com notícias extraídas dos jornais impressos ou telegramas sobre a guerra enviados pelas agências internacionais. Sua duração era de cinco minutos.

“O Grande Jornal Falado Tupi”, por sua vez, começava às 7 da manhã, com uma hora de duração. Seu noticiário seguia o roteiro dos jornais publicados diariamente pela imprensa.

Trazia primeiro as manchetes do dia e depois era dividido em blocos de acordo com as editorias: notícias nacionais, internacionais, esportes, cultura, assuntos locais, etc.

Dirigido em São Paulo pelo jornalista Corifeu de Azevedo Marques, o “Jornal Falado”, foi ao ar pela primeira vez, em 1942, mesmo ano da estreia do “Repórter Esso”. 

Com o término da Segunda Guerra, esses noticiosos já consagrados, seguiram na programação, mas certos dirigentes da mídia não acreditavam que a leitura de notícias no rádio pudesse dar mais audiência que os programas musicais ou de entretenimento.

O jornalismo na mídia radiofônica passou a ganhar força mesmo, a partir de 1962, com a estreia na Rádio Bandeirantes do jornal Primeira Hora, cujo nome ainda é o mesmo no horário das 7 da manhã na Band Rádio.

“Se a televisão tem imagens, a qualidade do rádio está no som”, explicava Alexandre Kadunc, criador do Primeira Hora, que instituiu vinhetas, trilhas sonoras e frases de efeito que aguçavam a imaginação dos ouvintes.

Uma dessas trilhas, o “canto do uirapuru”, revelava os sons de um pássaro da Amazônia, ouvido somente uma vez por ano. 

“Quando o uirapuru canta, as outras aves silenciam para ouvi-lo, ressaltava o mestre Kadunc com quem muito aprendi como repórter iniciante, quando de sua passagem pela Rádio Capital, entre 1978 e 1982. 

Sua equipe de jornalistas na Bandeirantes tinha um nome: “Titulares da Notícia”.

Na mesma época, também pelo prefixo 840 AM, Vicente Leporace lançou “O Trabuco”, que entrava no ar após o “Primeira Hora”.

Leporace lia as notícias dos jornais impressos para em seguida comentá-las fazendo uso de seu senso crítico sempre aguçado.

A trilha de seu programa, que soou por 16 anos nos lares brasileiros, dizia: “Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai comentar as notícias dos jornais. Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai dar um tiro nos assuntos nacionais”.

Em 16 de abril de 1978, um domingo, Leporace morreu e “O Trabuco”, não foi ao ar na segunda-feira. Ninguém sabia quem seria capaz de substituí-lo diante dos microfones.

Para seu lugar chamaram Salomão Ésper, que costumeiramente substituía Leporace nas férias, e junto com ele, para alicerçar o conteúdo de opiniões se juntaram José Paulo de Andrade e Joelmir Betting, mas o programa precisou mudar de nome para Jornal da Bandeirantes Gente que segue na grade da emissora com outros apresentadores.


Mas quando o assunto é jornalismo no rádio, a marca Jovem Pan precisa ser citada. Inaugurada em 1944 com o nome Rádio Panamericana, ganhou de início, o título de “Emissora dos Esportes”.

O sucesso do programa Jovem Guarda, transmitido pela televisão Record, pertencente aos mesmos donos da Panamericana, ofereceu uma nova roupagem à rádio que antes só falava de futebol. 

Sua programação passou a ter programas que abordavam a música jovem, com a participação dos cantores da TV, complementada por assuntos que abordavam os temas da atualidade da época, com isso aos poucos, a notícia passou a ter prioridade.

Comandada nos bastidores pelo jornalista Fernando Luiz Vieira de Mello, a Jovem Pan levou ao ar ainda na década de 1960, o jornal da “Equipe Sete e Trinta”, lido nas vozes dos locutores, Antônio Del Fiol e Antônio Alexandre, com os comentários de Ney Gonçalves Dias.

A partir de 1969 se tornou possível a transmissão de programas ao vivo via satélite. Este avanço tecnológico possibilitou a criação do “Jornal de Integração Nacional”, com repórteres ao vivo direto de Brasília e do Rio de Janeiro.

Alguns anos depois o nome passou a ser, “Jornal da Manhã” e nele foram incorporadas as canções da Sinfonia Paulistana, obra imortal do compositor Billy Blanco, em homenagem à cidade de São Paulo.


Amanhecendo: “A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição. Porque tudo se repete, são sete, e às sete explode em multidão! Portas de aço levantam, todos parecem correr, não correm de, correm para...Para São Paulo crescer! Vam bora, vam bora, olha a horam vam bora, vam bora...!”

Grande São Paulo:São Paulo que amanhece trabalhando, São Paulo que não pode adormecer! Porque durante a noite, o paulista vai pensando, nas coisas que de dia vai fazer...”

Tudo o que foi contado nesta postagem, é apenas uma parte das muitas histórias sobre o jornalismo no rádio que completa agora em 2022, os seus 100 anos de existência no Brasil.

No próximo post, em razão da Copa do Mundo, traremos fatos interessantes ligados às narrações esportivas para em seguida concluir a série com as previsões que sempre anunciam para breve o fim do rádio.

Por hora, vamos brindar aqui mesmo, o centenário do rádio, ouvindo duas peças musicais da Sinfonia Paulistana de Billy Blanco:

Amanhecendo: https://www.youtube.com/watch?v=diJyOleyOVc

 


Grande São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=E8zCnw1hSrc



 

 

sábado, 5 de novembro de 2022

1950: Surge a televisão e o rádio passa a buscar novos rumos

O rádio viveu sua fase áurea durante a década de 1940, mas eis que, exatamente em 1950, surge a televisão.

A partir de então, o rádio enfrenta sua primeira crise causada pela perda de audiência, uma vez que a recente novidade tecnológica reunia, não apenas o som, mas também a imagem.


Passou a ficar caro para os donos das rádios manter o mesmo cast de artistas exclusivos, todos passaram a dar preferência para a televisão e o rádio precisou se reciclar, buscar novos caminhos.

O primeiro passo foi a extinção gradual dos programas de auditório que deram lugar aos musicais em discos e estes, por sua vez, começaram a revelar novos valores.


Surgiram assim os disc-jóqueis e alguns deles entraram para a história da Música Popular Brasileira, como é o caso de Carlos Imperial, no Rio de Janeiro e Antônio Aguillar, em São Paulo, este ainda ativo, aos 93 anos completados em 18 de outubro último.

Aguillar está agora em uma emissora online, a Rádio Calhambeque e, ao longo de sua carreira, trabalhou em várias rádios AM e FM.

Como disc-jóquei revelou para o sucesso, inúmeras cantoras, cantores e grupos musicais.

Nomes como Carlos Gonzaga, Tony e Celly Campello, Demétrius, além do conjunto The Clevers, que depois passaria a se chamar Os Incríveis, passaram por ele e ganharam fama através de seus programas.

Nascia com isso um novo público adepto ao rádio, formado por jovens, sempre em busca das novidades musicais.


Atendendo a um pedido do apresentador Chacrinha, foi Antônio Aguillar quem revelou aos ouvintes de São Paulo, um até então desconhecido, mas promissor intérprete da música jovem, chamado Roberto Carlos.

Quem o descobriu no Rio de Janeiro foi Carlos Imperial, mas Aguillar o ajudou muito na capital paulista, divulgando suas músicas através dos programas de rádio.

Então aconteceu o inevitável, a televisão chamou Roberto Carlos para apresentar nas tardes de domingo, um programa chamado Jovem Guarda, que fez dele um dos principais nomes entre todos da MPB.

O Rádio seguiu em frente, vieram depois as emissoras em AM, voltadas exclusivamente à música gravada em discos.

Foi o caso da Excelsior, chamada de "A Máquina do Som" tendo à frente a voz inconfundível de Antônio Celso.


Outras emissoras seguiram o mesmo caminho como a Difusora de São Paulo, comandada pelo sempre elogiado diretor-artístico, Luiz Fernando Magliocca.

Nesta mesma época, entre as AMs, surgiu um seguimento mais popular, formado pelos comunicadores dentre os quais tiveram destaque, Hélio Ribeiro, Barros de Alencar, Luís Aguiar, Enzo de Almeida Passos e outros vieram depois, como Eli Corrêa.

A partir da metade da década de 1970, as emissoras em FM proliferaram levando ao ar uma programação musical mais segmentada.

O Rádio no Brasil, que agora completa 100 anos, tem ainda muitas histórias a serem contadas.


Nesta foto de 2012, Aguillar está ao lado deste blogueiro em um encontro musical no Restaurante Quintal Brasil.