Em plena Copa do Mundo no Catar, assistindo um jogo pela televisão, alguém da família me veio com essa pergunta:
Como se fazia para saber
os resultados do futebol quando ainda não havia emissoras de rádio no Brasil?
Lembrei então do meu amigo
jornalista e memorialista Ademir Medici, que levantou essa questão em 2019, em
um artigo no Diário do Grande ABC, publicado no ano do centenário da primeira
conquista de um torneio internacional pela seleção brasileira.
Em 1919 aconteceu no Rio de Janeiro, a terceira edição do campeonato sul-americano de futebol, hoje chamado de Copa América, cuja disputa aconteceu no campo do Fluminense, nas Laranjeiras, com a participação de quatro seleções: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, bicampeão do certame.
No ano de 2019, cem anos depois, o Brasil entrou em campo para mais uma Copa América, vestindo uma camisa branca para lembrar o uniforme utilizado naquela conquista.
Quem não viajasse ao Rio
de Janeiro para assistir presencialmente os jogos do sul-americano de 1919, teria que aguardar pelos jornais
do dia seguinte para saber os resultados.
“Foi quando o Estadão anunciou a boa-nova: manter um plantonista no campo do Fluminense e este, pelo telefone, enviaria todos os lances da partida para a redação”, escreveu Ademir, na edição do dia 29 de maio de 2019, data de 100 anos daquela conquista.
“Cada telefonema recebido virava um cartaz colocado em frente à sede do jornal, localizada na Praça Antônio Prado, daqueles tempos.”
Da mesma forma, defronte ao jornal, com
ansiedade, uma multidão se aglomerava do lado de fora para ler as informações do jogo no qual o selecionado brasileiro bateu a Argentina por 3 a 1.
A partida final foi Brasil x Uruguai, um jogo eletrizante com vitória da seleção brasileira por 1 a 0, gol de Friedenreich.
Contei essa história antes,
para mostrar o quanto o rádio foi importante para a consolidação do futebol
como esporte popular no Brasil.
Hoje em dia, mesmo com a maior parte dos
jogos sendo transmitida pela televisão, as rádios brasileiras ainda têm no
futebol sua grande fonte de faturamento e seus narradores seguem queridos pelos
ouvintes.
Esta relação de amor entre o rádio e o esporte, começou em 19 de julho de 1931 quando a Rádio Educadora Paulista transmitiu, por meio de Nicolau Tuma, a primeira partida completa de futebol na história do Brasil.
Foi um jogo entre as
seleções dos estados de São Paulo e Paraná que resultou na vitória dos
paulistas por 6 a 4.
A foto acima mostra Nicolau Tuma se preparando para transmitir o jogo, tendo ao seu lado um técnico de som e um antigo aparelho telefônico, além de um jogador da seleção paulista pronto para ser entrevistado.
As partidas eram narradas
à beira do gramado porque não havia cabines de rádio, implantadas no Brasil somente a
partir de 1940, quando o Estádio do Pacaembu foi inaugurado e passou a oferecer esse conforto aos narradores.
De lá para cá muitos
locutores esportivos iniciados no rádio ganharam projeção nacional e até mesmo
internacional.
Carlos Eduardo Galvão Bueno, por exemplo, começou no rádio transmitindo pela Gazeta 890 AM, em 1974.
Galvão Bueno assinou
contrato com a Rede Globo de Televisão em 1981, sendo esta Copa do Mundo de
2022, sua décima copa como narrador e isso merece registro.
Importantes locutores esportivos brilharam exclusivamente no rádio, entre eles Fiori Gigliotti, Joseval Peixoto, Pedro Luiz, Osmar Santos, José Silvério e por aí adiante.
Na atualidade, Ulisses
Costa, Eder Luiz, Oscar Ulysses e Nilson César marcam presença entre os principais
narradores paulistas nas transmissões que acontecem ao vivo diretamente do Catar.
Paro por aqui, porque
diante de mais uma Copa do Mundo, certamente novos nomes surgirão para marcar
presença no rádio e brilhar.
Viva os 100 Anos de Rádio
no Brasil! Viva o Futebol Brasileiro!