domingo, 14 de novembro de 2021

Luxuosa torre ao lado do antigo Hospital Matarazzo tem previsão para ser inaugurada em dezembro na região da Paulista

Tenho histórias pra contar sobre o antigo Hospital Matarazzo, depois rebatizado com o nome Hospital Humberto I.

Uma delas é que certa vez conduzi para lá, dentro de um carro de reportagem, um rapaz atropelado na avenida Brigadeiro Luiz Antônio por um motorista que fugiu.

Naquele tempo não havia serviços de resgate como hoje, nem do Corpo de Bombeiros, muito menos o Samu. 

Visitei naquele hospital uma senhora que ali morou por exatos 50 anos, deitada em uma cama.

Maria de Lourdes Guarda sofreu uma lesão medular, perdeu todos os movimentos do corpo, exceto dos braços e não podia nem ficar sentada ainda que fosse em uma cadeira de rodas.

Passou a vida toda hospitalizada, o centro médico se tornou sua casa. Acreditem: Os passarinhos faziam companhia a ela.

Todas as manhãs a janela de seu quarto era aberta e durante o dia, os pássaros entravam, assentavam na cabeceira da cama ou no fio da antena da televisão e dona Lourdes conversava com eles. Presenciei isso em uma visita.

Parecia estar dentro de um conto de fadas e se alguém viu isto também, peço a gentileza de confirmar. Sempre haverá os que negam existir acontecimentos inusitados e bonitos assim.

Outro grande companheiro da paciente era o telefone fixo com o qual ligava para as autoridades pedindo ajuda para o hospital ou para a entidade que presidia: Fraternidade Cristã de Pessoas Doentes e Deficientes.

Em 1993, devido a uma dívida financeira elevadíssima, o Hospital Humberto I fechou suas portas em definitivo, mas ainda assim, Maria de Lourdes Guarda seguiu morando ali, auxiliada por pessoas amigas. Diagnosticada com um câncer, foi transferida ára o Hospital Santa Catarina, onde permaneceu até o dia de sua morte no ano de 1996.

Recentemente os jornais trouxeram que toda a área em torno dos prédios do antigo complexo hospitalar entrou em sua fase final de restauração.

No lugar funcionará um empreendimento com o nome, Cidade Matarazzo.

Atrás do prédio da antiga maternidade, uma torre abrigará um hotel de 151 quartos para hóspedes e 122 suítes residenciais, com inauguração prevista para o mês de dezembro..

Dentro do mesmo terreno foi montado um boulevard, em torno dos novos e dos antigos edifícios que serão ocupados por escritórios, centro cultural, lojas e áreas de gastronomia e lazer.

Inaugurados em 1904 pela família do conde Francesco Matarazzo, os prédios do Hospital Humberto I, foram tombados em 1986 pelo patrimônio histórico.

Mas o terreno de 27 mil metros quadrados sempre despertou o interesse do mercado imobiliário, por estar na região mais valorizada da capital paulista.

Em 2011, o empresário Alexandre Allard, adquiriu toda a área que ocupa o quarteirão das alamedas Rio Claro, São Carlos do Pinhal e rua Itapeva. Pela compra, pagou mais de R$ 1 bilhão.

Para tocar seu empreendimento assumiu o compromisso de levar em conta a recuperação e a preservação do que foi tombado.

Allard decidiu então contratar para o projeto, o renomado arquiteto francês Jean Nouvel, que tem no currículo obras emblemáticas como o Instituto do Mundo Árabe, de Paris, a filial do Museu do Louvre, em Abu Dhabi e a Galeria Lafayette, de Berlim.

No sábado, 13 de novembro de 2021, o cardeal Dom Odilo Scherer celebrou missa em ação de graças pela conclusão das obras de recuperação da capela de Santa Luzia, construída pela família Matarazzo quando da fundação do complexo hospitalar

Durante entrevista, Allard informou que até agora foram investidos cerca de R$ 2,7 bilhões no megaprojeto, considerado o maior entre todos os que foram levados adiante pela iniciativa privada nos últimos anos em São Paulo.

Além do projeto arquitetônico que permite a convivência do antigo com o novo, a cidade irá ganhar a partir da abertura ao público, um novo ponto de geração de negócios, empregos, lazer e cultura.

Todos sairão lucrando, isso faz parte da inspiração paulistana de buscar o progresso voltado ao bem comum da sociedade.

Seguem abaixo algumas fotos dos projetos do arquiteto Jean Nouvel:

Filial do Museu do Louvre, em Abu Dhabe

Galeria Lafayette, em Berlim 



Fontes: Portal Cidade Matarazzo e Estadão Conteúdo

8 comentários:

  1. Muito interessante, seu relato e o novo empreendimento que trará modernidade e beleza local, além de preservar os prédios históricos.
    A história de vida de Maria de Lourdes Guarda e os passarinhos...
    O hospital que já não existe...
    E assim é a vida que vai passando, deixando lembranças que também se perdem no tempo... Mudam os cenários e os personagens na grande metrópole.
    Seu relato é importante para manter a memória e valorizar a vida que continua. Parabéns pelo seu trabalho, Geraldo!

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  2. Esse hospital sempre foi envolto em mistério para mim. É que passava pela rua Itapeva e só via o grande muro escuro, não entendia que ali havia um hospital... Estou curioso de visitar a capela de Santa Luzia, protetora dos olhos. Me lembra a igreja de Santa Luzia na rua Tabatinguera... Todo o resto ali deverá ficar bonito, mas não me interessa muito, parece que será um polo de alto padrão... Valeu pelo seu relato de fatos acontecido na pré-história da nova São Paulo que surge rsrs.

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  3. A sensibilidade do autor em resgatar a memória paulistana com apuração jornalística impecável somada à ênfase a dramas e histórias humanas emocionantes como a da dona Maria de Lourdes atribui ao trabalho documental notas líricas únicas, que informam por meio do coração. Grande texto!

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  4. Ótimo relato, Geraldo Nunes! Trouxe-me muitas recordações. Fiquei várias vezes internada no Hospital Humberto Primo, então, Hospital Matarazzo. Eu dizia que era meu hotel de veraneio, pois as cirurgias eram feitas nas férias escolares. Maria de Lourdes Guarda era minha amiga e companheira de luta no movimento por direitos das pessoas com deficiência, nos anos 1980. Perdi a conta das vezes em que fizemos reuniões em seu quarto, no hospital. Não cheguei a ver os passarinhos. Mas, creio que só pode ser verdade. O local era abençoado, com toda a certeza. A Lourdes era uma pessoa alegre, de mente positiva e entusiasmada. Sempre disposta a ajudar quem precisasse. Aquele dedo com o qual discava os números naquele telefone fixo era muito poderoso. Ela ligava para vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, artistas e jornalistas famosos e até para presidentes da República. Todos atendiam alegremente seus pedidos de ajuda, nunca para ela, sempre para os outros. Faleceu, aos 69 anos, em 5 de maio de 1996, de câncer, no Hospital Santa Catarina, para onde foi, quando sua doença se agravou. Foi enterrada na sua cidade natal de Salto e, em 30 de setembro de 2011, seus restos mortais foram transladados para o altar da Sagrada Família, na igreja matriz da Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrat, em Salto. Como parte do processo de beatificação pelo Vaticano, ela já é considerada Serva de Deus.
    https://dj.org.br/maria-de-lourdes-guarda-3/

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  5. Não vejo a HR de abrir ao público e eu poder visitar .foi meu primeiro emprego de 1967 a 1971. Conheci Maria de Lourdes. Frequentava todos Domingos está capela. Casei tive meu primeiro filho. Depois. Muita saudades

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  6. Parabéns Geraldo, belíssimo relato. Fale a pena registrar essa arquitetura e sua história em uma tela. Abraço

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  7. Desconhecia boa parte desta história. Genial. Parabéns pela forma como aborda.

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  8. Capela de Sta. Luzia foi minha Pia Batismal e dos meus 5 irmãos mais moços. Os registros constam da Sacristia da Paróquia Imaculada Conceição, sito Av. Brigadeiro Luiz Antônio, Convento dos Frades Francisco Capuchinhos. Esta Capela está a cargo da Prelasia do Opus Dei, onde minhas irmãs e minha mãe são numerário.

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