sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Luiz Gama, “Zumbi da Pauliceia”

São Paulo tem histórias importantes ligadas aos negros que pela força do preconceito e outras razões ficaram durante anos no esquecimento.

O Dia da Consciência Negra foi instituído para que se reflita e se relembre acontecimentos que ajudam reforçar a ideia de que todos os seres humanos possuem direitos iguais, independentemente da cor ou da raça.

Parece óbvio, mas a discriminação racial embora velada, ainda predomina em vários segmentos de nossa sociedade

Luiz Gama, viveu e morreu em São Paulo e a meu ver deveria ser chamado de, “Zumbi da Pauliceia”.

Foi o único intelectual negro do século 19 que passou pela difícil experiência de ser escravo.

Nasceu em 1830, em Salvador – Bahia, filho de uma negra liberta de origem africana chamada Luiza Mahin, com um pai branco português.

Aos 10 anos foi vendido ilegalmente como escravo pelo próprio pai e nesta condição chegou a São Paulo.

Interessado em estudar, aprendeu a ler e escrever com 17 anos, ainda na condição de escravo, com a ajuda do jovem estudante de Direito, Antônio Rodrigues do Prado Junior.

Depois por esforço próprio obteve autorização para assistir as aulas do curso de direito na Academia do Largo São Francisco, na condição de “ouvinte” e deste modo, passou a trabalhar como rabula, termo usado para definir aquele que possuía conhecimento jurídico suficiente para advogar, mesmo sem possuir diploma.

Pela via judicial, ele próprio conseguiu conquistar sua liberdade e posteriormente de muitos outros escravos.


Lutando quase que sozinho, conseguiu a soltura de aproximadamente 500 cativos e percebam, foi um feito notável, se considerarmos que agia exclusivamente com o uso da lei.

A sua morte aos 52 anos, causada pelo diabetes, comoveu a cidade de São Paulo e o caixão foi carregado pelo povo que seguiu a pé, desde o bairro do Brás onde morava, até o cemitério da Consolação.

O féretro foi acompanhando por quase quatro mil pessoas, quantidade correspondente a 10% da população da época.

Seu sepultamento aconteceu, em 25 de agosto de 1882 e diante do túmulo, onde só existe uma placa com sua data de nascimento e morte, se fez uma tribuna improvisada e se deu voz a discursos emocionados.

Um de seus amigos, Antônio Bento, promotor público e depois juiz, de cor branca e abolicionista, continuou seu trabalho pela libertação de todos os escravos da Província de São Paulo, cuja abolição completa aconteceu antes ainda da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel.

São acontecimentos importantes, vividos na capital paulista que não podem ser esquecidos.

Na década de 1930, em comemoração ao centenário do nascimento de Luiz Gama, um busto em sua homenagem foi instalado no Largo do Arouche, pago na ocasião pela comunidade negra da cidade.


Em 2015, a OAB reconheceu Luiz Gama como advogado e o reconhecimento dele, como profissional de imprensa, se deu em 2018 por iniciativa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.

Seu nome consta no Livro de Ouro dos Heróis e Heroínas da Pátria do Panteão Tancredo Neves, em Brasília.


Lançado em agosto último, com o título “Doutor Gama”, este filme conta a história do líder abolicionista brasileiro e segue em exibição nos cinemas.


Luiz Gama é nome de rua no bairro do Cambuci, em São Paulo e no bairro Maracanã, no Rio de Janeiro, além de outras cidades do país.


Este é o retrato original com o rosto deste herói brasileiro.



Fontes: Luiz Gama, a saga de um libertador/Pompeia,Magui/Peirópolis/São Paulo/1ª edição/2021/. Jornal Correio Paulistano – Arquivo do Estado de São Paulo e Jornal Unidade – SJPESP.

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