sexta-feira, 21 de maio de 2021

German Lorca e a arte da fotografia neste “Festival do Adeus" ao lado de Eva Wilma e Bruno Covas

German Lorca, o fotógrafo do IV Centenário de São Paulo, se foi aos 98 anos. Paulistano do Brás, completaria 99 agora, em 28 de maio.

Apesar da idade avançada, sua despedida veio de surpresa no início deste mês, porque não foi acometido pelo coronavírus. Morreu de causas naturais.


Seu falecimento aconteceu em 8 de maio, lamento não ter postado antes minha crônica sobre German Lorca, mas em seguida veio a notícia da morte de Eva Wilma e logo depois de Bruno Covas, que fez aumentar ainda mais o trágico "Festival do Adeus" pelo qual o País está passando.

Sempre gostei da personalidade de Eva Wilma, na TV Tupi protagonizou  séries divertidas como Alô Doçura e Confissões de Penélope, além de ter sido a primeira a interpretar Ruth e Raquel, na primeira versão de Mulheres de Areia, novela de Ivani Ribeiro. 

Nos anos de chumbo não se fez intimidar, saiu às ruas quando necessário, para pedir o fim da censura, do AI-5 e a abertura política.

Não me conformo em saber que hoje existem pessoas pedindo o contrário.


Na foto histórica acima, Eva Wilma aparece caminhando de mãos dadas ao lado de outras atrizes, entre elas Tônia Carrero, Odete Lara e Norma Bengell, em uma passeata na Avenida São João.

Após a democratização, voltou às ruas em 2011, para defender um quarteirão de 20 mil m², no Itaim-Bibi, que a prefeitura pretendia vender a uma incorporadora do mercado imobiliário.

A aquisição do terreno colocaria abaixo uma área verde dotada de serviços públicos e culturais gratuitos, entre os quais uma escola e biblioteca infantil.


Ao lado de moradores, a atriz participou das reivindicações para a devolução do terreno à municipalidade e a prefeitura pressionada, voltou atrás em sua decisão.


No ano de 2019, foi inaugurado o Espaço Cultural Itaim, na primeira gestão de Bruno Covas como prefeito, conforme foto de Helcias Bernardo de Pádua.

“Quarteirão da Cultura”, localizado entre as ruas Horácio Lafer, Salvador Cardoso, Cojuba e Lopes Neto, foi devolvido à população em definitivo.


Voltando a falar de German Lorca, preparei para a "Revista “Matarazzo em Foco", da jovem produtora de livros Thaís Matarazzo, em 2018, um pequeno artigo sobre a exposição de fotos promovida em homenagem ao fotógrafo no Espaço Itaú Cultural.

Na matéria coloquei a imagem postada no início deste texto, da velha senhora de costas, conduzindo a criança em direção à Oca do Parque do Ibirapuera ainda em construção.

A estampa é considerada uma obra de arte, graças ao olhar sensível do seu autor, sempre observador dos pequenos detalhes.

Na foto, a senhora representa a cidade de 400 anos e a criança significa o futuro na direção do que é novo, um edifício moderno construído dentro de um parque público prestes a ser inaugurado, em 1954.

German Lorca era filho de imigrantes espanhóis, morou no Brás quando aquele bairro era iluminado por lampiões de gás e suas ruas repletas de gente proveniente de vários países, pisando sobre paralelepípedos.

Naquele ano, Lorca foi contratado pela prefeitura para ser o fotógrafo oficial das cerimônias alusivas ao IV Centenário de São Paulo.

No registro acima feito das escadarias da catedral da Sé, suas lentes mostram a multidão, tendo ao fundo o Edifício Santa Helena, demolido em 1976 para as obras do metrô Sé.

No ano de 2018, recebeu a singela homenagem quando se fez a exposição de suas fotos na Avenida Paulista com o título, "German Lorca: Mosaico do Tempo, 70 Anos de Fotografia."

Na mostra apareceram 150 figuras entre as quais as imagens registradas pelo fotógrafo no Parque do Ibirapuera, logo após sua inauguração.

“As coisas mudaram, mas ainda sinto prazer em fotografar a cidade”, contou German Lorca pelo telefone, na breve entrevista com ele por ocasião da mostra no Itaú Cultural.

  

Sobre Bruno Covas, tenho também algo a dizer. Foi o mais jovem prefeito que São Paulo já teve e o primeiro a morrer no exercício do cargo.

Assumiu a prefeitura com 38 anos em 2018 e a deixou em 2021, por causa de sua morte causada por um câncer cruel. Lutou o quanto pode. Tinha 41 anos.

Com ele se foi um importante defensor da democracia, nesses tempos de polarização e desrespeito às instituições.

Pessoas como Bruno Covas, Eva Wilma e German Lorca sempre farão falta e cada vez mais.



  Colaborou: Helcias Bernardo de Paula, historiador do Itaim-Bibi, biólogo e jornalista.

Um comentário:

  1. É, parece que o Chefe, lá em cima, anda chamando muita gente boa para fazer companhia a Ele........

    ResponderExcluir