Os prédios gêmeos do Anhangabaú que aparecem nos antigos cartões postais da Pauliceia, trazem a marca de um estilo de construção que a cidade perdeu, o art nouveau. Não ficaram remanescentes, no lugar surgiram arranha-céus também requintados, mas sem o mesmo glamour.
Os Palacetes Prates servem de exemplo de como era aristocrática a São Paulo de antigamente, foram inaugurados em 1911 e durante anos serviram de sede para a Prefeitura Municipal, a Câmara de Vereadores e o Automóvel Clube de São Paulo, cuja história é cheia de curiosidades.
No limiar do século 20 surgiram os primeiros carros
motorizados em São Paulo. Eram veículos caríssimos trazidos inteiros dentro de
navios e que ao serem desembarcados, eram trazidos de trem até a capital
paulista.
Os proprietários desses carros eram cidadãos requintados
e entre eles já existia o espírito de competição. Todos queriam saber quem
possuía o carro mais possante ou dirigia melhor em altas velocidades. Além
disso, já se reclamava das ruas esburacadas e da falta de rodovias.
Para organizar as competições esportivas e pressionar as autoridades pela melhoria das vias públicas foi inaugurado Automóvel Clube de São Paulo, em 11 de junho de 1908, antes ainda da construção desses dois palacetes.
A iniciativa de se implantar os prédios “gêmeos”, partiu do conde Eduardo da Silva Prates, um empreendedor do setor imobiliário que foi também presidente da Associação Comercial de São Paulo.
Prates era muito bem visto pela população, se preocupava com coisas que os empresários de hoje não levam em conta, como a preservação do patrimônio histórico e cultural.
Ao mesmo tempo em que construía edifícios, custeava reformas
como as verificadas na Igreja de Santo Antônio, na Praça do Patriarca. A título
de benemerência, se fez mordomo da Santa Casa de Misericórdia. Em sua homenagem os dois prédios passaram a
ser chamados de Palacetes Prates.
Projetados pelo engenheiro agrônomo Samuel das Neves e seu filho Christiano Stockler das Neves, formado em arquitetura pela Universidade da Filadélfia, nos espaçosos sobrados também funcionaram a Prefeitura Municipal e a Câmara de Vereadores.
Um terceiro prédio do conde Prates, foi inaugurado do outro lado do Viaduto do Chá. A princípio abrigou um hotel, depois recebeu novo inquilino, o jornal Diário da Noite.
Só que em 1938 o imóvel foi vendido para o conde
Chiquinho Matarazzo. Ele decidiu demolir o prédio antigo e construir um novo
para servir aos escritórios de suas empresas.
O dono do Diário da Noite, Assis Chateaubriand, não
aceitou a ideia de retirar as pesadas rotativas do prédio alugado e se negou a
desocupar o recinto. Depois de muitas brigas com ameaças de morte em ambos os
lados, Chateaubriand retirou suas máquinas e as transferiu para um edifício
próprio na Rua 7 de Abril.
No lugar se construiu o Edifício Matarazzo, inaugurado em 1942. A prefeitura continuou em um dos Palacetes Prates até 1948 e ao se mudar deixou todas as dependências disponíveis para a Câmara de Vereadores que deu ao prédio o nome Palacete Anchieta.
Alguns anos depois o Automóvel Clube vendeu seu
edifício a uma construtora que após a demolição ergueu no lugar um arranha-céu que
levou o nome Edifício Prates.
Como os vereadores também buscaram novas instalações, no
atual Palácio Anchieta, o segundo palacete veio abaixo em 1969.
Agora temos na esquina da Rua Líbero Badaró com Viaduto o Chá, conforme a foto, o Edifício Grande São Paulo, de 128 metros de altura, 10 elevadores e 40 andares. Bem a seu lado está o irmão gêmeo do mesmo tamanho e altura.
No cartão postal acima, de 1968, ainda aparece um dos palacetes que na época já estava com os seus dias contados. Em São Paulo as pessoas duram mais tempo que suas casas.
A derrubada desses palacetes do centro é apenas um dos tantos
casos já acontecidos nesta cidade. Entre o final dos anos 1970 e durante a década de 1980 foi a vez dos casarões da Avenida Paulista darem lugar às torres e arranha-céus. Esta situação foi lembrada por Caetano Veloso
na letra da música Sampa: “A força da grana que ergue e destrói coisas belas”.
Geraldo, estas fotos de São Paulo antiga são muito boas, traga mais reportagens assim.
ResponderExcluirParabéns.
ResponderExcluirHistória e Geografia juntos
Ótima matéria. Parabéns!
ResponderExcluirRECEBI NO MESSENGER MENSAGEM DA GUIA DE TURISMO - VERA LÚCIA DIAS:
ResponderExcluirLembrança de adolescente. Um grande portal com alguns degraus e entrada pela Líbero Badaró. Nosso ginásio era de aplicação da Puc (hoje Parque Augusta). Meninas simples, em geral filhas de empregadas domésticas . Fomos fazer trabalho sobre funcionamento da Câmara. Me impressionou o pé direito gigante, quadros na parede e um salão grande onde discutiam. Foi rápido e estávamos bem assustadas.
E, aconteceu um fato complicado. Estavam votando se Roberto Carlos receberia o título de cidadão paulistano (recebeu em 1966). Algumas colegas estavam com fichário na mão e tinham foto do artista. (Eu e uma amiga éramos as únicas que gostavam do Fino da Bossa). Fotografos fizeram imagens de algumas. No dia seguinte o maior problema. Saiu no jornal que estudantes apoiavam R. Carlos. Os pais ficaram furiosos "é isso que vcs foram fazer na Camara"?