Dando continuidade em nosso blog à série sobre eleições, falaremos da trajetória política de Adhemar Pereira de Barros, interventor, prefeito e governador paulista.
Foi candidato na maioria dos pleitos realizados entre as décadas de 1940 e 1960, perdendo e ganhando eleições.
Nasceu em Piracicaba no dia 22 de abril de
1901, formou-se em Medicina, tendo lutado por São Paulo na Revolução Constitucionalista de 1932.
Ingressou na política, assim que foi promulgada a constituição exigida pelos paulistas em1934, tendi sido eleito para um mandato de deputado estadual que deveria durar quatro anos, onde ficou apenas dois (1935 - 1937).
O motivo foi a implantação do Estado Novo pelo então presidente Getúlio Vargas que mandou fechar todas as casas legislativas.
Depois, convidado pelo próprio Getúlio foi designado interventor federal em São Paulo, cargo correspondente ao de governador, onde permaneceu de 1938 a 1941.
Com o fim da Ditadura Vargas, se elegeu governador novamente, desta vez pelo voto direto seguindo à frente do executivo paulista de 1947 a 1952.
Foi se tornou prefeito da capital ao ganhar a eleição de 1957 e reeleito governador em 1962.
Em seu dia-a-dia foi aprendendo a lidar com as estratégias eleitorais, implantando ideias hoje chamadas de marketing político.
Além dos panfletos, programas de rádio, matérias pagas em jornais e revistas havia marchinhas musicais da dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho apresentando canções favoráveis a ele.
Sua marca registrada nas campanhas passou a ser o trevo de quatro folhas e o slogan: "Adhemar pra ganhar".
Mas, de onde
vinha o dinheiro para se pagar tudo isso? Essa era a grande pergunta e acusações de corrupção não faltavam.
Além de político, era um empresário bem sucedido, dono da Chocolates Lacta e da Rádio Bandeirantes, entre outras empresas.
A emissora depois, seria transferida ao genro também empresário João Jorge Saad.
Contam que certa vez em um comício Adhemar teria dito: "No meu bolso nunca entrou dinheiro público." Na plateia, alguém retrucou: "Calça nova, doutor!"
A verdade é que nunca se explicou direito de onde vinham as verbas para as suas campanhas.
Os opositores e parte da imprensa deram então um nome a esses procedimentos, “Caixinha do
Adhemar”.
A. de Barros, como escrevia o Estadão para insultá-lo, contratou uma equipe de cinema para a montagem do cinejornal Bandeirantes da Tela, mais conhecido pela sigla BT.
Apresentado de 1947 a 1956, em edições quinzenais, as produções traziam as realizações do então governador pelo ponto de vista favorável a ele e seus apoiadores.
Esses filmes hoje pertencem ao acervo da Cinemateca
Brasileira, por sinal fechada, sob risco de perda de seu imenso
material ali arquivado.
Em uma foto extraída do livro comemorativo de 80 anos do TRE-SP, lançado em 2012, vemos estampada a abertura do cinejornal Bandeirantes da Tela.
Médico, mas principalmente político, Adhemar Pereira de Barros costumava dizer em seus discursos não se esquecer das obrigações condizentes à missão de clinicar.
De fato, realizou muito em prol da saúde pública, tendo inaugurado o Hospital das Clínicas, administrado pela Faculdade de Medicina da USP.
Sua esposa, dona Leonor Mendes de Barros, pessoa muito caridosa, foi a primeira mulher de um político a
promover benemerências.
No bairro do
Belenzinho, na capital paulista, funciona até hoje um hospital público com o nome
dela, na Avenida Celso Garcia, 2477.
Adhemar levava a família em seus comícios e após discursar, era abraçado por esposa e filhos.
O populismo
tão comentado nos dias de hoje, fazia parte de suas estratégias de marketing político. Ao mesmo tempo em que abraçava as angústias dos mais pobres, defendia com unhas e dentes o conservadorismo da classe dominante.
Criou um partido próprio, o PSP - Partido Social Progressista, abraçando em seus quadros todos os que se diziam adhemaristas.
Quando Getúlio Vargas se lançou candidato à Presidência da República pelo voto direto, nas eleições de 1950, Adhemar preferiu não concorrer.
Os dois selaram um acordo: Getúlio apoiaria Adhemar na sua sucessão, mas em 24 de agosto de 1954, Vargas praticou o suicídio e o apoio deste foi por água abaixo,
Ainda assim, Adhemar de Barros se candidatou na eleição eleição presidencial de 1956, mas perdeu para Juscelino Kubitschek.
Na eleição seguinte, 1960, foi derrotado por Jânio Quadros e pelo marechal Teixeira Lott, ficando na terceira colocação.
Voltou como
governador eleito em 1962 e acabou cassado antes mesmo do término do seu mandato.
Em 1964 apoiou a derrubada de João Goulart pelos militares acreditando que as eleições presidenciais de 1965 aconteceriam e com elas a chance de tentar, mais uma vez, chegar ao cargo mais importante da nação.
Quando o marechal Castelo Branco anunciou a extinção dos partidos e a supressão das eleições presidenciais, Adhemar fez críticas severas à decisão.
Acabou cassado pelos generais, tendo sido o seu nome o terceiro na lista de cassação, atrás apenas de Carlos Lacerda e Juscelino Kubistchek, também pré-candidatos.
Pela terceira vez em sua vida política, Adhemar de Barros seguiria ao exílio, fixando moradia em Paris, capital francesa.
Tendo
adoecido, foi operado em janeiro de 1969, de hérnia e litíase, buscando
a cura em águas consideradas milagrosas do santuário e gruta de
Lourdes, na França, após visitar sofreu uma síncope.
Morreu em Paris, a 12
de março de 1969, aos 68 anos.
Seu corpo transladado para o Brasil foi desembarcado no Aeroporto de Viracopos, obra inaugurada por ele.
O transporte até a capital paulista se deu pela Via Anhanguera, outra obra que teve a sua inauguração.
O
sepultamento aconteceu no Cemitério da Consolação, em 16 de março, com grande
presença de público e o toque de silêncio para o veterano da Revolução de 1932.
Fontes: Paulistânia Eleitoral Ensaios e Memórias – Organização: José D’Amico Baub – pg. 209 com a colaboração de Rodrigo Archangelo, doutor em história social pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e autorização do Centro de Memória Eleitoral do TRE-SP.
Muito bom saber sobre nossa história. Parabéns!
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