Ainda
falando dos acontecimentos que envolveram a tentativa de derrubada de estátuas em
São Paulo, vamos relembrar histórias das quais ficamos sabendo quando das pesquisas que
fazíamos, em trabalho conjunto com a jornalista Valéria Rambaldi, para a
elaboração dos nossos programas de rádio que iam ao ar pela Rádio Estadão.
Sim, quando o rádio é feito com profissionalismo a pesquisa é fundamental e, neste quesito, fizemos um trabalho inédito para a então emissora oficial do Grupo Estado.
Essas lembranças vieram quando o atual governo do Estado decidiu colocar
máscaras nas esculturas do Monumento às Bandeiras - Ibirapuera - São Paulo.
A
ideia de conscientizar a população sobre a batalha contra o coronavírus, em cima das estátuas, nos pareceu insensível, porque há lugares onde não se pode mexer. Decisões assim, incentivam outras
pessoas a fazer o mesmo.
Foto do Portal UOL de 12 de maio de 2020 mostrou o rosto de algumas estátuas com o rosto coberto por máscaras |
“Perdoai-os
senhor, eles não sabem o que fazem”.
Há dois tipos de pichadores: Aqueles que picham sem saber o por que, mas vão no embalo, e os oportunistas da política |
O conjunto de esculturas reunidas no Monumento às Bandeiras não
exibe apenas a saga dos bandeirantes, mas a sensibilidade de um
artista plástico elogiado em todo o mundo.
Embora nascido na Itália, Victor Brecheret fez questão de entrar na justiça, aos 30
anos de idade, exigindo um registro de nascimento brasileiro.
No documento concedido pelo cartório do Jardim América aparece seu nome artístico. Antes ele possuía apenas a certidão de batismo cujo nome original, Vittorio Brecheret, serviu depois para representar somente as lembranças dele, de um passado remoto.
Sua decisão, acreditamos, se deu pelo reconhecimento que teve dos brasileiros, especialmente dos modernistas que conviveram com ele, e de um ex-presidente da
República.
Coincidência,
ou não, tudo isso aconteceu há exatos 100 anos.
Em uma foto de 2008, tirada por Lucas Sales, o Monumento às Bandeiras é mostrado com esplendor |
No
portal da prefeitura paulistana, a inspiração para o Monumento às Bandeiras se explica na saga dos bandeirantes que ampliaram fronteiras recebendo o apoio das diversas etnias que compõem o povo brasileiro.
O homem branco aparece nas estátuas barbadas, os negros e os mamelucos são
mostrados com outras feições, enquanto os índios aparecem ostentando cruzes no pescoço.
Claro que tudo isso surgiu da inspiração do autor tendo por base o que já havia sido escrito de forma romântica por antigos historiadores.
"Todos os povos unidos em um único esforço de puxar a adiante a canoa do desenvolvimento", nos disse certa vez Hernâni Donato, então presidente de honra do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Com
o passar do tempo, a população foi colocando apelidos na obra: empurra-empurra
ou deixa-que-eu-empurro, entre outros. Normal!
De
acordo com a Divisão de Preservação do Patrimônio Histórico – DPH, da
prefeitura paulistana, a brincadeira surgiu pelo fato da embarcação não sair do lugar,
mesmo com tanta gente empurrando.
A interpretação
estaria no fato das figuras mais à frente da comitiva não estarem fazendo
força para mover a canoa.
A
única figura que realmente faz força para empurrar, é a última entre as estátuas.
“No Brasil é assim, alguns trabalham enquanto outros fingem que estão trabalhando”, já me disseram |
Victor
Brecheret nasceu em Farnesi – Itália, em 15 fevereiro de 1894 e ficou órfão
muito cedo.
Foi
trazido a São Paulo pelos tios imigrantes, irmãos de sua mãe, Henrique e Antônio. Eles aqui o criaram.
Iniciou
seus estudos em arte no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, após completar o
curso primário.
Trabalhava
de dia e estudava à noite e o curso foi escolhido porque, desde menino, já
modelava bonecos de barro e gostava de desenhar.
São
Paulo guardou muito de sua arte, além do Monumento às Bandeiras, a estátua de
Duque de Caxias e o túmulo de dona Olívia Guedes Penteado, no cemitério da
Consolação, são de sua autoria.
A arte cemiterial também deveria ser melhor conhecida. Olívia Guedes Penteado foi mecenas de vários artistas |
O talento de Brecheret despontou em
1916, aos 22 anos, quando se inscreveu no concurso para participar da Exposição
Paulista de Belas Artes, ficando em primeiro lugar.
Artigos assinados em jornais pelos
modernistas Mário e Oswald de Andrade teceram elogios ao jovem artista.
Em julho de 1920, expôs seu projeto do Monumento às Bandeiras em uma maquete, com os dizeres: “evocando a saga dos bandeirantes
em busca de novas terras para alargar nossas fronteiras”.
Washington Luiz - então presidente do
Estado - visitou a exposição e prometeu fazer da proposta uma realidade.
Contratada a obra, o escultor dedicou parte de sua vida ao projeto que só ficou pronto em 1953.
O conjunto de esculturas reúne 240
blocos de granito pesando em torno de 50 toneladas. Ao todo são 50 metros de
comprimento e 16 metros de altura.
A inauguração oficial aconteceu em 25 de janeiro de 1954, durante as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo.
“Trabalhei 30 anos nesse monumento e em
cada figura criada eu encontrava sempre novas emoções”, disse Brecheret em uma
entrevista à Rádio Gazeta.
Essa gravação entrou em um
documentário apresentado pela TV Cultura, em 1994, cujo link você poderá acessar mais abaixo:
Na foto vemos Victor Brecheret com a sua inseparável boina, uma marca registrada do artista |
Victor Brecheret morreu em dezembro
1955, aos 61 anos, deixando para a filha, Sandra Brecheret Pellegrini, um rico
acervo de suas obras.
Durante anos as inúmeras esculturas ficaram
guardadas com ela, mas em 2013, decidiu doá-las a interessados que quisessem
colocar as obras de arte em locais visíveis ao público.
“Será uma forma de se conhecer um pouco
mais daquilo que já se conhece dele”, disse a nós em entrevista na Rádio Estadão.
Esculturas de Brecheret fazem parte do acervo permanente da Pinacoteca do Estado e do Teatro Municipal de São Paulo.
Assista agora ao vídeo onde aparece a voz de Victor
Brecheret.
Geraldo, um amigo em comum , Paulo Kasseb , me enviou o link para esta matéria.Sou paulistano apaixonado por São Paulo.
ResponderExcluirNão encontrei nada nos jornais e não moro em São Paulo no momento.
Por favor vc poderia me falar mais a respeito?
Segue meu email:
deciomoreira@gmail.com
Obrigado
Dignificante história
ResponderExcluirA história deve ser preservada e lembrada sempre, para que tenhamos orgulho do povo que nos tornamos. Quantas lutas e tropeços tiveram, para que tenhamos hoje um país maravilhoso como este. Parabéns por manter viva a nossa história.
ResponderExcluir