Adoro fotos aéreas, mas
admito que nem sempre se pode estar voando.
Deste modo, fotografias tiradas de lugares altos também ajudam elucidar um pouco mais da nossa história.
No passado, quando nem se cogitava existir helicópteros ou aviões, os fotógrafos buscavam lugares mais altos para fazer seus registros.
Agora, em pleno século 21, o avanço da tecnologia está
permitindo se recuperar fotos antigas, inclusive do século 19, no formato digital.
Tal possibilidade tem se mostrado sadia na elucidação de
detalhes relativos ao crescimento da cidade de São Paulo.
O tempo presente já não segue sozinho no propósito da constante mudança.
O passado também está sendo modificado, graças à tecnologia.
Fotos antes esquecidas nos arquivos públicos ou dos jornais, estão ganhando vida e sendo estão postadas cada vez mais na internet.
Ao mesmo tempo o que dias atrás se mostrava atual já parece antigo tamanha a velocidade da informação.
Foto tirada em 2018 em algum andar do edifício sede da prefeitura, mostra abaixo do Viaduto do Chá, o antigo calçadão que sendo remodelado: Luiz França - CMSP |
Em breve a região do Anhangabaú estará com um novo visual provando mais uma vez que as mudanças em São Paulo são vertiginosas e quase permanentes.
O ano de 1877 marca o início dessa ebulição desenvolvimentista.
São Paulo era considerada uma cidade grande para os padrões daquela época, mas sua população ainda era menor que a de Santos e Rio Janeiro, então a capital da nação.
Entre os paulistas os
negócios prosperavam impulsionados pelo café e pelas ferrovias.
Cada vez mais pessoas buscavam
na Pauliceia, ainda não tão desvairada, o seu sustento através do trabalho.
Foi nessa fase, inclusive, que os primeiros
imigrantes europeus começaram a chegar por aqui.
Um empresário
francês residente na capital paulista, Jules Martin, levou às autoridades a proposta de se construir um
viaduto ligando o velho centro com o outro lado da cidade.
O Viaduto do Chá
iria valorizar o mercado imobiliário, por facilitar o acesso aos terrenos destinados à implantação de novos bairros.
Foto feita do telhado de algum casarão mostra na linha do horizonte as estruturas do viaduto sobre as plantações de Chá |
A proposta de construção
foi aceita depois de longas discussões envolvendo todas as partes
interessadas.
O grande empecilho, entretanto, foi o
Barão de Tatuí, cujo nome de batismo era Francisco Xavier Paes de Barros.
Casado com a viúva do
Barão de Itapetininga, dona das plantações de chá que deram nome ao viaduto, ele
ingressou na justiça.
Seu grande objetivo e da esposa passou a ser, impedir a obra.
A construção do viaduto iria permitir a extensão da Rua Direita, cujo trajeto passaria sobre seu amplo sobrado que seria demolido.
O casal endinheirado não gostou
nem um pouco dessa ideia.
A briga judicial ganhou as
páginas dos jornais e a sentença, após inúmeras apelações, decidiu pela
demolição do imóvel.
Este foi o primeiro caso de
desapropriação noticiado pela imprensa na história da cidade.
Definida a construção do
Viaduto do Chá, foi necessário se criar uma empresa municipal para gerenciar o
andamento da obra.
As peças chegaram importadas
da Alemanha junto com a armação metálica instalada sob medida.
Sobre ela foram
colocados trilhos de bondes assentados não sobre o asfalto, mas em um piso de
madeira.
Para pagar as despesas da
construção um pedágio municipal de 3 vinténs foi instituído.
A cobrança era feita tanto na ida quanto na volta.
Foto de 1893 mostra na cabeceira do Viaduto do Chá, as cabines de cobrança de pedágio e suas cancelas |
Foi essa a primeira experiência de pedágio urbano surgida na cidade de São Paulo.
A passagem pelo viaduto
só se tornaria gratuita em 1897.
Todas essas fotos andam sendo postadas quase que diariamente nas redes sociais.
A qualidade do conteúdo histórico é surpreendente e, por causa dessas surpresas agradáveis preparei essa reportagem.
Estes registros do passado são de
domínio público, mas faço questão de citar as fontes de onde tirei essas postagens.
O Grupo Memórias
Paulistanas, gerenciado no Facebook pelo colega Pedro Nastri, tem trazido fotos
interessantíssimas.
Nessa mesma rede social, outros memorialistas
como o fotógrafo Gilberto Calixto Rios, o historiador Douglas Nascimento e o pesquisador Eduardo Britto, merecem
citação.
A foto acima tirada provavelmente no início de 1892, da torre da Igreja de Santo Antônio, mostra a casa do Barão de Tatuí sendo demolida.
Vale complementar que a Igreja de Santo
Antônio, segue de pé e conservada na atual Praça do Patriarca que nesse tempo ainda não existia.
Nessa mesma fotografia aparecem homens
trabalhando na demolição e o Viaduto do Chá original ao fundo, sendo construído.
O córrego do Anhangabaú ainda
seguia a céu aberto.
Este registro é curioso porque
mostra nas proximidades um edifício de dois andares e cerca de 20 janelas.
Quem seria seu proprietário? Não sabemos quem era o
dono e a que se destinava esse prédio.
O formato faz lembrar um
colégio ou mesmo um convento.
A Rua Direita nesse
tempo, terminava em frente ao sobrado do Barão de Tatuí.
Poeticamente poderíamos dizer: "Havia uma casa no meio do caminho, no meio do caminho havia uma casa", hehe.
A população comparece em massa para assistir a inauguração do Viaduto do Chá |
No dia em que o Viaduto
do Chá foi inaugurado, 6 de novembro de 1892, o povo ocupou quase todos os
espaços.
Ainda assim é possível
ver o assoalho em madeira do viaduto fazendo lembrar do piso de antigas casas.
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Ao fundo temos a residência do
barão e da baronesa, demolida em parte e a torre da Igreja de Santo Antônio, quase encoberta
pela névoa.
Aquele prédio das várias
janelas também está nessa foto.
Pena que o poeta Paulo
Bomfim (1926-2019) já não está entre nós, ele saberia explicar a que se
destinava esse antigo edifício.
Tenho certeza: Paulo Bomfim que faleceu em 07/07/2019 faz falta.
Foto de 1923 revela que as plantações de chá não existiam mais, o Anhangabaú estava canalizado e sobre ele um estacionamento entre jardins cobertos por grama e arbustos |
O Viaduto do Chá original
propiciava a circulação sobre ele de bondes, carros de passeio e pedestres.
Com o tempo, entretanto, a armação metálica mostrou-se insuficiente.
Fotografia de 1937 em uma manhã de neblina mostra o atual Viaduto do Chá sendo construído |
Tirada no ano de 1937, em
uma manhã de neblina, a foto mostra o atual Viaduto do Chá sendo construído.
O metal alemão
e a sustentação em madeira já não suportava o peso excessivo e o volume de tráfego cada vez mais intenso.
O novo modelo em concreto teria o dobro de largura e 204 metros de extensão.
Sua entrega à população aconteceu em 18 de abril de 1938.
À direita da mesma foto, na
parte de cima, vemos na esquina da Rua Líbero Badaró no lado direito, o
Edifício Matarazzo sendo construído.
Inaugurado em 1942, o
arranha-céu hoje abriga a sede da prefeitura paulistana e o gabinete do
prefeito.
No lado esquerdo ainda aparece
o Palacete Prates, antiga sede da Câmara Municipal, demolido durante a década de 1950.
A visão de um princípio de noite no final dos anos 1940 revela um Anhangabaú bem iluminado com carros estacionados e filas para o embarque nos pontos de ônibus |
Com a chegada do século 21, o Viaduto do Chá prossegue servindo à população como passarela para os automóveis e pedestres, mas sem o grande de movimento de
outrora.
Em breve, a parte debaixo
do Viaduto do Chá, onde existe o bulevar projetado por Jorge Wilhein, terá um novo visual.
Manifestações populares costumam acontecer em frente ao prédio da prefeitura |
Na fotografia de Ronaldo Rodrigues, repórter aéreo da Rádio Trânsito, de novembro de 2019 aparece o bulevar do Anhangabaú em obras.
Como diz o ditado: "São Paulo não pode parar".
bacana
ResponderExcluirQue lindo Geraldo, manda mais prá nós - grande abraço
ResponderExcluirMarques - Tatuapé - SP
Saudade de suas reportagens - kd você ?
ResponderExcluirExcelente e elucidativa matéria.
ResponderExcluirTem que voltar com o seu "Sao Paulo de Todos os Tempos", que muito conhecimento trouxe para aqueles que amam a história desta Cidade.
Grato pela citação do Grupo Memórias Paulistanas.
Parabéns pelo registro detalhado! Sobre a atual reforma do Anhangabaú, aguardemos o resultado. Vi outro dia na TV que em Moscou tem uma proposta semelhante, com boluevar dom vários pontos de jorro de água direto do piso. Bem, São Paulo não é Moscou... Tenho dúvidas de que a manutenção e a conservação permitam esse tipo de coisa aqui. Vamos ver. Abraço! Britto
ResponderExcluirFoi bom ver td isso, bateu sds.
ResponderExcluirParticipo do grupo, algumas fotos já havia visto na postagem do grupo, geralmente acompanhado de informações, q vc compilou nesta postagem, um trabalho muito bem feito, está de parabéns, sucesso no blog, abraços...
ResponderExcluirMuito bom saber, ou relembrar a nossa história. Você descreve de uma forma que nos transportamos para este tempo maravilhoso. Parabéns.
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