sábado, 14 de setembro de 2024

Saiba como a Faria Lima se transformou na mais moderna das avenidas paulistanas

Tem gente que não gosta quando escrevo sobre modernidade, acham que o moderno é fruto da ganância como se no passado não houvesse coisas assim.

São Paulo é uma cidade de negócios e oportunidades, desta característica é que o paulistano vive e adquire experiências, algumas boas e outras nem tanto, mas de todas elas surgem recordações.

A ideia de se construir a Avenida Brigadeiro Faria Lima, nasceu durante a metade dos anos 1960 e partiu do então prefeito que hoje dá nome a este endereço.

José Vicente de Faria Lima era filho de imigrantes portugueses e nasceu no Rio de Janeiro onde serviu às Força Armadas e se tornou “Brigadeiro do Ar”, em 1958.

Eleito prefeito de São Paulo pelo voto direto, em 1966, Faria Lima fez uma gestão considerada exemplar, segundo analistas.

Em sua passagem pela prefeitura aconteceram coisas pitorescas e pouco lembradas nos dias atuais.

Todas as vezes que ia à Brasília, como era brigadeiro, requisitava da FAB um avião que ele mesmo pilotava.

Antes de ir, convidava os jornalistas que compunham o Comitê de Imprensa da Prefeitura para seguirem com ele e cobrir as reuniões.

Essa história quem me contou foi o saudoso repórter Aluane Neto, da Jovem Pan, que viajou com Faria Lima algumas vezes.

O brigadeiro quis construir a avenida pela necessidade de se ocupar com caminhos parte das áreas de várzea surgidas após a retificação Rio Pinheiros, conforme explicamos em nossa postagem anterior.

A retificação deste rio outrora sinuoso, transformado em um canal para o bombeamento das águas do Tietê para a Represa Billings, fez de suas antigas margens um imenso lamaçal repleto de lagoas que aos poucos foram sendo aterradas.


A partir do alargamento da Rua Iguatemi se construiu a nova avenida cujo nome seria Radial Oeste para a ligação entre os bairros de Pinheiros e Brooklin.

Por conta do falecimento do ex-prefeito, em 1969, seu sucessor Paulo Maluf fez homenagem e deu o nome dele para a avenida.

Depois, em seu segundo mandato como prefeito, na década de 1990, Maluf ampliou a Faria Lima do Largo da Batata até a Avenida Hélio Pellegrino, possibilitando a ela o rosto dos dias atuais.

No ano de 2001, com a aprovação do Estatuto das Cidades, a prefeitura paulistana instituiu o projeto Operações Urbanas para promover em regiões da cidade intervenções previstas no Plano Diretor.

Para a “Nova Faria Lima”, a prefeitura fez uso de um instrumento jurídico chamado “outorga onerosa” que oferece incentivos à verticalização através de contrapartidas financeiras.

O mercado imobiliário passou a comprar Certificados de Potencial Adicional de Construção – Cepacs e com o dinheiro, a prefeitura ampliou a infraestrutura urbana de toda a área e deu ao lugar ares de primeiro mundo.

Atualmente, a “Nova Faria Lima” é a que possui o metro quadrado mais caro da cidade e, segundo as imobiliárias, seus edifícios estão entre os mais luxuosos.

Para as novas torres de concreto armado sem mudaram empresas que passaram a ocupar prédios inteiros ou vários andares e sem comércio no térreo como acontece na Paulista e no Centro. Isto, ajuda também explicar a depreciação de áreas da cidade de São Paulo, outrora prósperas.

Quando uma empresa forte muda de lugar, as concorrentes fazem o mesmo para não perder o status.

Na próxima postagem trarei informações sobre a qualidade dessas novas edificações que atraíram para si as empresas e grupos financeiros que ocupam hoje a região mais rica da metrópole.



Fontes e Fotos:

Esquema Economia e Mercado - As origens da Faria Lima: As origens da Faria Lima - Blog | Esquema Imóveis (esquemaimoveis.com.br)

Gestão Urbana – Cidade de São Paulo: Gestão Urbana SP (prefeitura.sp.gov.br)

Outorga Onerosa – Urbanismo e Licenciamento: Outorga Onerosa - Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento - Prefeitura (capital.sp.gov.br)

Acesse nossa postagem anterior: Blog do Geraldo Nunes: Migração dos arranha-céus para a zona sul começou pelo Rio Pinheiros

 


sábado, 7 de setembro de 2024

Migração dos arranha-céus para a zona sul começou pelo Rio Pinheiros

As coisas não acontecem de uma hora para a outra, bem antes dos edifícios suntuosos que temos na zona sul paulistana, uma obra fantástica de engenharia fez mudar para sempre o destino da cidade de São Paulo.

Em 1927 teve início o processo de retificação do Rio Pinheiros para que suas águas passassem a ser bombeadas no sentido inverso e assim formar a Represa Billings.

Objetivo era o de fornecer maior quantidade de energia elétrica à baixada santista e ao mesmo tempo levar água encanada aos municípios do Grande ABC.

A partir de então o Pinheiros deixa de ser rio e se transforma em um canal para fazer o bombeamento das águas do Tietê que fazem girar as turbinas da Hidrelétrica Henry Borden para depois desaguar no estuário de Santos.

As consequências ambientais foram terríveis, as águas poluídas do Tietê passaram a cair no Pinheiros e bombeadas até Billings poluíram até mesmo as praias santistas.

Na foto vemos do alto a Usina Elevatória de Pedreira que fica atrás do Autódromo de Interlagos, as águas escuras na parte de baixo são as do Pinheiros sendo bombeadas para a Represa Billings mais acima.

Esta imagem ainda pode ser vista, embora a Constituição Paulista de 1989 tenha proibido o bombeamento do Pinheiros para a Billings.

Ficou do antigo Pinheiros após a retificação, uma quantidade enorme de lagoas e uma imensidão de terrenos alagadiços.

A prefeitura paulistana não tinha condições de aterrar tudo sozinha e passou a contratar pequenas empresas para fazer esse serviço.

Conheci um senhor de Santo Amaro que ficou rico aterrando as lagoas onde hoje se assentam ruas e avenidas de bairros como o Itaim-Bibi, Brooklin, Vila Olímpia, Chácara Santo Antônio e por aí vai.

Destes aterros surgiram terrenos baratos que foram loteados e vendidos pela prefeitura a pessoas humildes que ali construíram suas casas e passaram a residir nelas.

O traçado em azul desta foto por satélite mostra onde passava o Rio Pinheiros, como ele ficou e os terrenos surgidos.

Em 1972 foi aprovada a primeira Lei de Zoneamento Urbano que estabeleceu um Plano Diretor para a cidade de São Paulo.

Pela nova lei regras passaram a regulamentar a construção e a altura dos edifícios.


Acima está a Avenida Brigadeiro Faria no início da década de 1970 quando os terrenos da zona sul ainda eram baratos.

O mercado imobiliário arregalou os olhos, arregaçou a mangas, comprou os terrenos e demoliu as casas para construir arranha-céus e fazer da região o ponto mais valorizado de São Paulo.

Este lugar hoje é o preferido para a instalação dos escritórios de grandes bancos, corretoras de investimentos em bolsas de valores e demais empresas do mercado financeiro, também conhecidas como "Turma da Faria Lima".

A região no entorno da Avenida Brigadeiro Faria Lima, possui agora o metro quadrado residencial mais caro da capital paulista. Sua cotação em 2023, segundo levantamento da Loft, chegou a R$ 23 mil e pode fechar 2024 ainda mais valorizada.

Esta postagem serviu de introdução para o próximo capítulo da história da verticalização de São Paulo que agora completa 100 anos.

Semana que vem tem mais, saudações e se possível deixe o seu comentário.


Fontes:

Atlas Socioambiental de São Bernardo do Campos - Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal - Represa Billings: nossa água, nossa vida - São Bernardo (saobernardo.sp.gov.br)

Portal Condo News: Notícias do Mercado – Condo.news

Principais rios de São Paulo - Portal São Paulo Secreto

Acesso: Rios de São Paulo: os cursos d'água que moldaram a capital (saopaulosecreto.com)

Revista Exame: Bairros vizinhos à Faria Lima têm o m² mais caro de São Paulo em 2023, diz Loft | Exame

Fotos: Pesquisa Google e Revista Exame

 


sábado, 31 de agosto de 2024

A história do Conjunto Nacional mostra como os arranha-céus chegaram à Avenida Paulista

O Conjunto Nacional é um arranha-céu pujante que segue ativo acompanhando o ritmo de frenético de São Paulo.

Sua construção remonta o tempo em que havia muitos casarões na Avenida Paulista e por este motivo se constitui em um dos símbolos da verticalização de São Paulo. 

Sua localização é privilegiada,  cruzamento Paulista - Augusta e foi erguido no lugar de um casarão art-noveau, projetado pelo arquiteto Victor Dubugrás, que ocupava todo o quarteirão.

Junto ao quintal da citada mansão havia 30 árvores frutíferas entre jabuticabeiras, amoreiras, parreiras e ameixeiras, entre outras.

Possuia no mesmo espaço hortas, flores e tanques com peixes, o leite para as crianças era extraído in natura, havia uma vaca que ficava na cachoeira da casa só para essa finalidade.

Esses detalhes me foram passados pela senhora Helena Maria América Sabino de Souza Queiroz Vieira de Carvalho, longo nome da menina chamada pelo avô de Colibri, era ela neta de Horácio Sabino.

Entrevistei Colibri em 2001, no programa São Paulo de Todos os Tempos e sua história saiu no livro de mesmo nome, publicado pela RG Editores no ano de 2005.

Horácio Sabino, além de ser o dono do casarão, era o proprietário das terras que hoje compõem os bairros da chamada região dos Jardins.

Sua residência não permaneceu de pé nem 50 anos porque em São Paulo, as casas morrem antes que as pessoas.

Inaugurado em 1904, o imóvel foi demolido após a morte dele, em 1950 e a família vendeu o terreno para o empresário Jose Tjurs que desejava construir ali um grande hotel.


A legislação vigente impedia a instalação de hotéis na Avenida Paulista e o impedimento fez surgir o Conjunto Nacional, destinado ao uso comercial, residencial e de escritórios.

Projetado por David Libeskind, sua construção começou em 1953 e a conclusão em 1957, quando de fato começou a funcionar.



O primeiro grande atrativo para fazer da Paulista um ponto de encontro foi o Restaurante Fasano, que abriu caminho para a transferência do comércio elegante do Centro para a região.

Histórias interessantes de personalidades que passaram pelo Fasano, como o presidente norte-americano Dwight Einsenhoer e o cantor Nat King Cole estão no livro “Conjunto Nacional - a conquista da Paulista”, do saudoso escritor Angelo Iacocca.

A foto acima revela a visão da atual Avenida Paulista para quem está nas dependências de onde ficava o antigo Fasano.

O prédio do Conjunto Nacional se divide em espaços horizontais e verticais onde se ergueram as torres Horsa I, Horsa II e Horsa III. Possui 26 andares e cinco elevadores.

Como todo edifício que não recebia manutenção, o Conjunto Nacional viveu uma fase de decadência e até um incêndio aconteceu em 1976. 

Após sua recuperação foi tombado pelo Patrimônio Histórico do Município e não pode mais receber nenhum tipo de alteração em suas linhas arquitetônicas.

A verticalização da Avenida Paulista foi mais um dos motivos que determinaram a decadência do centro histórico paulistano.

Haveria mais para contar sobre o Conjunto Nacional, onde em memoráveis manhãs de sábado, me reuni com Marcos Rey, Assis Ângelo, o poeta Paulo Bomfim e outros escritores, em frente às vitrines da Livraria Cultura, mas hoje ficaremos por aqui.

Fontes:

Livros: Conjunto Nacional - A Conquista da Paulista - Iacocca, Angelo/Origem Editora/São Paulo/1998

São Paulo de Todos os Tempos Vol. II - Nunes, Geraldo/RG Editores/São Paulo/2005

Sites: Condomínio Conjunto Nacional: http://www.ccn.com.br/historia.php

O Palacete Horácio Sabino por Luciana Cotrim: O palacete de Horácio Sabino | Série Avenida Paulista (serieavenidapaulista.com.br)

Fotos: Pesquisa Google

 

 

 





domingo, 25 de agosto de 2024

Farol Santander: O mais emblemático arranha-céu de São Paulo

Sempre tive vontade de escrever sobre o Edifício Altino Arantes que agora recebe o "naming rights" Farol Santander.

Sua posição na parte mais alta do centro da cidade de São Paulo, faz com que ganhe destaque entre os demais edifícios.

Acho esse prédio lindo, é todo branco, possui um mirante no alto e ostenta a bandeira paulista.

Ao longo de sua história recebeu outros nomes e apelidos como Edifício Banespa ou "Banespão".

Entre todos os arranha-céus da Pauliceia, com toda certeza, é o mais emblemático dos edifícios.

Sua imagem serve de representação para São Paulo aos que não moram na capital paulista, assim como o Cristo Redentor nos leva a lembrar do Rio de Janeiro.

Sua construção teve início em 1939 por iniciativa do então interventor federal, Adhemar Pereira de Barros, com o objetivo de fazer dele a sede do Banco do Estado de São Paulo. Seu endereço: Rua João Brícola, 24.

A inauguração aconteceu depois de oito anos, em 27 de junho de 1947, quando Adhemar ocupava o cargo de governador, desta vez eleito pelo voto direto.  


Altino Arantes, que empresta seu nome à majestosa construção projetada pelo arquiteto Plínio do Amaral, foi o décimo governante do Estado de São Paulo no período republicano, entre maio de 1916 e maio de 1920.

Além de político foi presidente efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e o primeiro presidente do Banco do Estado de São Paulo S/A, em 1927.

Por mais de uma década foi o prédio mais alto da cidade, possui 161 metros de altura, 35 andares e 14 elevadores.

Só foi ultrapassado em 1960 pelo Edifício Mirante do Vale com 170 metros e 51 pavimentos, além de 12 elevadores.

Seu estilo inspirado na arquitetura art decó, lembra a moldura do Empire State Building de Nova York.

Em 2000, após a privatização do Banespa, o prédio foi incorporado ao patrimônio do Grupo Santander.

Hoje suas dependências são utilizadas para atividades culturais e de lazer.

Entre as atrações, uma pista de skate para os jovens aficionados deste esporte. 

Nos tempos em que o Edifício Altino Arantes servia aos escritórios do Banespa, fui até lá várias para entrevistar o Prof. Luiz Carlos Bresser Pereira que presidia o banco estatal no governo Franco Montoro.

Os corredores que compunham os escritórios da diretoria foram preservados em seu formato original.

Assim como a escrivaninha de Bresser Pereira e a sala de reuniões com as clássicas cadeiras de espaldar.

Não me chamem de coroa e sim de experiente repórter, porque estive nesses lugares a trabalho e assisti a tudo funcionando em pleno vapor.


Atualmente, o Farol Santander atrai cerca de cinco mil visitantes por mês, são pessoas que sobem até o mirante para ver a cidade com o seu mar de edifícios tendo ao fundo a Serra da Cantareira.

Escrevi tudo isso porque em 2024 estão sendo lembrados os 100 Anos do Início da Verticalização de São Paulo.

O que nos reserva o futuro dentro de uma cidade que não para de construir prédios é um assunto preocupante.

Um fórum de discussões deve ser iniciado em breve, a ideia foi lançada em um encontro que reuniu representantes do Instituto de Engenharia, Associação Comercial e Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, além de outras entidades.

Tive a honra de ser convidado para participar da reunião almoço preparativa desse encontro e quando surgirem novidades iremos informar aqui neste espaço digital.

Esta é a vista da cidade que tenho da janela do meu apartamento vizinho ao Parque da Aclimação.

No fundo quase no canto direito da foto aparece o Farol Santander ostentando em seu topo a bandeira paulista que tanto admiro.

Fontes: www.farolsantander.com.br

Fotos: Acervo Estadão/Arquivo Particular/Pesquisa Google e Instituto de Engenharia


domingo, 4 de agosto de 2024

Plano de Avenidas surgido há 100 anos ajuda explicar o que é São Paulo hoje

Com a inauguração dos primeiros arranha-céus em São Paulo, há 100 anos, houve aumento no fluxo de pessoas na região central e com isso os primeiros problemas de estrutura urbana surgiram.  

Houve necessidade de se ampliar o transporte coletivo, os bondes passaram a não dar conta de tudo e linhas de ônibus foram criadas para suprir a demanda.

Os mais ricos que possuíam automóveis começaram a encontrar dificuldades para estacionar seus veículos, tal situação teve início pelo final da década de 1920.

Nas áreas afastadas do centro, antigas chácaras passaram a ser loteadas para a construção de moradias e novos bairros surgiram, tanto na zona leste quanto nas regiões norte, sul e oeste.

Da mesma forma ocupações irregulares em áreas antes desabitadas, por serem consideradas de risco, passaram a surgir sem nenhum controle dos órgãos públicos. 

As inundações do Rio Tietê, traziam enormes transtornos e bairros como a Vila Maria e Bom Retiro permaneciam alagados por várias semanas, após as tempestades de verão.

Isto levou o então prefeito José Pires do Rio, que comandou os destinos da cidade de 1926 a 1930, a consultar o engenheiro-arquiteto Francisco Prestes Maia sobre um estudo por ele realizado.

Prestes Maia em parceria com João Florence Ulhôa Cintra, publicou em 1924, no Boletim do Instituto de Engenharia, um projeto para facilitar a circulação viária.

Dessa proposta surgiram os planos para a abertura das avenidas radiais que fazem hoje a ligação centro-bairro como a 9 de Julho, 23 de Maio, Prestes Maia e Tiradentes, além da própria Radial Leste.

A grande polêmica, entretanto, residia no projeto de criação das vias perimetrais, ou seja, as duas vias marginais que temos hoje.

Para isso seria necessário retificar os rios Tietê e Pinheiros e implantar em suas margens as avenidas que levariam a pontos mais distantes, sem a necessidade de se cruzar o centro.

A essa ideia, se opôs o então vereador e depois prefeito, o professor Luiz Inácio de Anhaia Mello.

Este professor-engenheiro, defendia deixar os rios paulistanos no seu formato original e se construir em torno deles parques lineares para absorção das enchentes.

Sua sugestão se mostra mais adequada para os dias de hoje, mas isso não fazia parte do pensamento desenvolvimentista da época e o Plano de Avenidas foi o escolhido.


Francisco Prestes Maia exerceu o cargo de prefeito de São Paulo entre os anos de 1938 e 1945 na vigência do “Estado Novo”, imposto por Getúlio Vargas.

Nesta fase se deu a abertura da Avenida 9 de Julho e sua integração com a Avenida Santo Amaro.

Depois, entre 1961 e 1965, eleito pelo voto direto, Prestes Maia voltou a ser prefeito e deu andamento ao Plano de Avenidas.

Seus sucessores na Prefeitura, tendo em mente que a proposta do urbanismo progressista, era sinônimo de modernização, deram continuidade ao projeto viário.

As marginais do Tietê e do  Pinheiros, por exemplo, foram finalizadas após a década de 1960.

Atualmente, parte dos urbanistas considera que o agravamento dos problemas da metrópole se deve em parte ao Plano de Avenidas que fez diminuir a necessidade de se ir ao centro que se tornou um lugar isolado.


A retificação dos rios Tietê e Pinheiros, segundo especialistas, impulsionou a ocupação das várzeas por enormes arranha-céus e fez agravar o transtorno das enchentes.

Os terrenos alagadiços especialmente à margem do Rio Pinheiros, resultantes da retificação, foram adquiridos por um preço barato pelas incorporadoras que construíram edifícios luxuosos para serem vendidos depois a peso de ouro.

O mercado imobiliário agiu errado ao atuar desta maneira? Pelo ponto de vista das oportunidades que a cidade oferece, agiram certo.

A construção civil gera empregos e renda à população e isso deve ser levado em consideração. 

Todos esses acontecimentos fizeram de São Paulo a metrópole que temos hoje tanto para o lado bom quanto para o ruim.


Fontes:

TOLEDO, Benedito Lima de (2005). Prestes Maia e as origens do Urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo: Ed. ABCP

CAMPOS, Candido Malta (2002). Os rumos da cidade: urbanismo e modernização em São Paulo: SENAC.

Fotos extraídas do Google Imagens

 


domingo, 28 de julho de 2024

São Paulo dos arranha-céus, uma história que começou há 100 anos

“São Paulo cresce e se modifica a uma velocidade tão grande que, de uma geração a outra, os jovens já não mais conhecem a cidade onde viveram seus antepassados recentes.”

A frase acima está no livro São Paulo, Três Cidades em um Século, do saudoso professor da FAU/USP, Benedito Lima de Toledo, sobre as mudanças ocorridas na capital paulista do século 20.

Para confirmar o que a frase diz vamos iniciar uma série de postagens sobre a verticalização de São Paulo ao longo dos anos.

Uma estimativa aponta que na capital paulista estão de pé, cerca de 30 mil edifícios acima dos 20 metros de altura, nem mesmo a prefeitura, entretanto, possui o número exato.

Nossa Pauliceia passou a ganhar ares de metrópole pelo início do século 20, com a inauguração em 1913 do Edifício Guinle de 7 andares, na Rua Direita 49, que aparece na foto acima.

Considerado o primeiro prédio vertical construído no Brasil, seu projeto original, desenvolvido pelo arquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior, previa a construção de apenas 3 andares.

Os donos da empresa “Guinle & Cia”, entretanto, mandaram erguer durante a obra, mais 4 pavimentos.

O termo “arranha-céu” surgiu nos Estados Unidos com o nome “skycraper”, para designar as construções com pelo menos 10 andares erguidas em grandes cidades como Chicago, Nova York e Detroit, pelo final do século 19.


Com base na projeção norte-americana, o Edifício Sampaio Moreira, inaugurado em 1924, passou a ser considerado marco inicial da verticalização de São Paulo.

Suas características são de um “arranha-céu”, possui altura de 50 metros e 12 andares.

Tombado pelo Patrimônio Histórico em 1992, o Sampaio Moreira foi desapropriado pela prefeitura e a Secretaria Municipal de Cultura ocupa suas dependências.

A Casa Godinho, tradicional mercearia fundada em 1888, ocupa o espaço da loja térrea do Sampaio Moreira desde 1924, mesmo ano da inauguração deste prédio da Rua Líbero Badaró, 340.

O reinado do Sampaio Moreira como edificação mais alta da cidade, durou apenas cinco anos.

Veio depois o Edifício Martinelli com 28 andares e 106 metros de altura que tomou o seu lugar em 1929.

Quem mandou construir o "arranha-céu" foi Giuseppe Martinelli, um italiano nascido em Lucca, na região Toscana.

Ele chegou ao Brasil em 1893, primeiro trabalhou como açougueiro, depois foi trabalhar numa companhia de despachos aduaneiros em Santos, prosperou na vida e se tornou empresário.

A partir daí seu grande sonho passou a ser deixar uma marca que perpetuasse o seu nome na história da cidade.

Para levar adiante sua meta, comprou as áreas vizinhas e o terreno onde funcionava o requintado Café Brandão, ponto de encontro dos políticos e homens de negócios da São Paulo do início do século 20.

O quarteirão entre a Rua São Bento, Rua Líbero Badaró e a Ladeira de São João era o ponto mais valorizado de São Paulo.

Um imprevisto aconteceu, ao iniciar as obras surgiram problemas, minava água nas fundações e para resolver a questão foi preciso gastar muito dinheiro.

Martinelli não teve dúvida, viajou para a Itália e foi pedir ajuda ao ditador Benito Mussolini.

O mais surpreendente é que o “Duce” atendeu, liberou verbas acima do pedido, com a condição de que o edifício tivesse o dobro da altura prevista, em torno dos 50 metros.

Mussolini exigiu que fosse o mais alto “arranha-céu” da América Latina para assim, projetar o nome da Itália aos olhos do mundo inteiro.


Martinelli não teve mais dúvidas e nem dívidas, dobrou o tamanho da construção para 106 metros e o povo incrédulo, passou a dizer que a construção onde antes minava água, não se sustentaria muito tempo de pé, o prédio iria desabar em pouco tempo.

Em 1929 tudo ficou pronto e foi inaugurado com 28 andares, além da cobertura que serviu de residência para o empresário e sua família.

Ele achava que com isso, representantes da alta sociedade paulistana se mudariam para o edifício, o que não aconteceu.


Depois da inauguração, o gigante “arranha-céu” continuou longo tempo vazio, o preço dos apartamentos era altíssimo, ninguém se interessava em comprar e o primeiro morador foi Arturo Patrizi, um professor de dança.

Além de morar, Patrizi montou nos primeiros andares sua escola, ganhou muito dinheiro e ficou famoso com ela.

Com o passar do tempo, entretanto, o prédio perdeu o glamour, e os apartamentos começaram a ser alugados para famílias de baixa renda.

Crimes aconteceram nas dependências e até a fama de ser mal-assombrado, o edifício recebeu.

Em 1975, o então prefeito Olavo Setúbal desapropriou o Martinelli e sua restauração deu novos ares ao lugar.

Recentemente visitas educativas ao topo do Edifício Martinelli passaram a ser realizadas mediante agendamento prévio.

O passeio dura cerca de uma hora, guias especializados dão explicações históricas relativas ao prédio e ao centro paulistano.

Além disso, a residência da cobertura pode ser alugada para eventos e o sonho de Giuseppe Martinelli, de ter o seu nome perpetuado, ocorreu.


Fontes: Gazeta de São Paulo: Edifício Martinelli: 100 anos de história, cultura e revitalização em São Paulo - Gazeta de São Paulo (gazetasp.com.br)

Edifício Martinelli: Edifício Martinelli – Arquitetura Italiana (usp.br)

Livro: TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo, três cidades em um século. São Paulo: Cosac & Naify/ Livraria Duas Cidades/ Acesso em: 28 jul. 2024

Fotos: Gazeta de São Paulo – Catraca Livre - Google