segunda-feira, 5 de maio de 2025

A história do conclave que durou quase três anos

“Habemus Papam”, é a expressão em latim utilizada pela Igreja Católica para anunciar a escolha de um novo pontífice.

Já estão reunidos em Roma os 133 cardeais vindos de todas as partes do mundo para apontar o nome de quem irá suceder o papa Francisco.

O “conclave” nome utilizado para este colegiado que reúne cardeais do mundo todo costuma durar menos de uma semana, mas nem sempre foi assim.

No século XIII a divisão na Igreja era tamanha que a eleição levou 33 meses para ser concluída. 

Os cardeais da época se reuniram em Viterbo, região central da Itália, em 29 de novembro de 1268 e o impasse prosseguiu até 1º de setembro de 1271.

O eleito acabou sendo Gregório X e dessa experiência foram estabelecidas por ele as regras para a escolha de seu sucessor e delas se deu origem ao termo “conclave”.

Após a morte de Clemente IV, em 29 de novembro de 1268, vinte cardeais eleitores se reuniram, mas as assembleias acabavam obstruídas pela contraposição entre duas correntes.

Cansada de acompanhar o impasse que já passava de um ano, a população de Viterbo decidiu aprisionar os cardeais em um palácio e diminuir o fornecimento de alimentos aos reclusos.

A partir dessa decisão vinda do povo, os cardeais tiveram que se entender e em 1º de setembro de 1271, se deu a escolha de Tebaldo Visconti que deu para si o nome Gregório X.

Coroado em Roma no dia 13 de março de 1272, mesmo sem experiência nos trâmites da Cúria, não se deixou manipular.

Dele vieram as propostas para organizar as regras de sua sucessão, mas houve forte resistência da maioria dos cardeais.

Foi então que dos padres veio a proposta de se apoiar as ideias de Gregório X para a escolha dos futuros Papas. 

Ficou estabelecido que após três dias de reunião, se os cardeais não chegassem a um eleito, as refeições seriam reduzidas de dois para um prato durante os cinco dias seguintes.

Depois desses cinco dias, se ainda não houvesse um escolhido, as refeições seriam reduzidas a apenas pão, água e vinho até a eleição.

A essas normas se deu o nome “conclave”, utilizadas até hoje para designar o local fechado para as votações, com regras estabelecidas sobre a duração do encontro, incluindo penas que dizem respeito à alimentação.

Para os cardeais da atualidade a ideia de se passar fome parece não preocupá-los, mas essas leis ainda existem assim como outras que caíram em desuso.

Notícias dão conta que a Igreja Católica se encontra dividida e polarizada em facções.

Os cardeais então que se entendam para não passar fome.

Quem diria que as regras para a escolha dos papas surgiriam com penalidades para o estômago?

As histórias sobre os sucessores de Pedro são muitas, mas hoje ficaremos por aqui.


Fontes e fotos: Vatican News

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Peço respeito ao Papa Francisco e à sua Igreja

A morte de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, tem sido nos últimos dias o assunto mais comentado nas redes sociais.

Como sempre há os que elogiam e os que criticam, mas percebe-se muita desinformação sobre o que representa a figura do sumo-pontífice.

Até já me perguntaram: Para que serve o Papa?

Todo Papa é escolhido para ser o líder espiritual e administrativo da Igreja Católica no mundo todo.

Durante seu pontificado, ele guia os destinos da instituição no que diz respeito aos assuntos ligados à fé e ao comportamento dos católicos sob a luz do Evangelho.

Cabe ao Papa também zelar pela integridade da Igreja e exercer as funções de chefe de Estado do Vaticano.

Muitos não percebem, ou não sabem, mas a Igreja Católica é a mais antiga instituição em atividade no mundo ocidental.

Ao longo da história cometeu inúmeros erros, mas se fosse tão ruim como dizem os detratores que só se lembram das fogueiras da Inquisição, já teria sido extinta.

Os romanos já estavam cansados de perseguir os cristãos que cresciam em número cada vez maior.

Foi então que o imperador Constatino I, que viveu entre 272 e 337, e governou Roma por 31 anos, anuncia ter visto no céu uma cruz com a inscrição "In Hoc Signo Vinces", ou seja, "Com este Sinal Vencerás"!

Alguns historiadores discordam que Constantino tenha se convertido e, de fato, não há como se afirmar se houve a sua conversão.

Ele, entretanto, pôs fim às perseguições e deu liberdade ao cristianismo que se tornou de fato em uma religião.

A queda do Império Romano do Ocidente ocorre em 476 e marca a deposição do último líder, Romulo Augusto, por Odoacro, um líder e guerreiro bárbaro.

O esfacelamento completo levaria mais tempo, mas a Igreja Católica Apostólica Romana sobrevive e prossegue sua jornada.

Resumindo, muita gente manifesta suas opiniões nas redes tendo por base somente os erros cometidos pela Igreja, mas e os benefícios?

Muitas pessoas não sabem que a Igreja Católica é a maior instituição caritativa do planeta.

Se a Igreja Católica saísse da África, 60% das escolas e hospitais seriam fechados.

No Brasil, até a década de 1950, quando não existia nenhuma política de saúde pública em nosso País, eram as casas de caridade da Igreja que cuidavam das pessoas que não tinham condições de pagar um hospital.

Isto sem falar dos orfanatos, asilos e leprosários existentes na Ásia, na Oceania e na América Latina.

Depois de ser eleito Papa, em 2013, Francisco deu início a um processo que trouxe transparência às contas do Vaticano.

Ele criou um Conselho para a Economia, com membros religiosos e laicos, visando centralizar a contabilidade para impor disciplina econômica com governança orçamentária.

Descobriu-se que havia, €1,1 bilhão em ativos não declarados e se contratou uma auditoria externa abrangente com a Pricewaterhouse Coopers -PwC.

Após 12 anos de pontificado, Francisco deixa um Vaticano financeiramente mais transparente e responsável.

Auditorias independentes, prestação pública de contas e colaboração internacional agora são rotina.

O que virá daqui pra frente, só mesmo Deus para saber, mas os caminhos da transparência foram abertos.

Há outros problemas a se resolver como as divisões internas entre progressistas e fundamentalistas e a polarização política.

Meu objetivo nesse texto não é o de seguir adiante nas discussões sobre o futuro da Igreja e sim alertar para que não se levantem "falsos testemunhos" contra quem quer que seja, até mesmo o Papa, sem a devida informação.


Fontes:

Invest News - Transparência nas finanças do Vaticano: um legado do papa Francisco - por Alexandre Versignassi e Dhiego Maia - 21 abr.2025

https://investnews.com.br/economia/transparencia-nas-financas-do-vaticano-um-legado-do-papa-francisco/

Vatican News e Wikipedia

 


quarta-feira, 16 de abril de 2025

Reflexões sobre a última ceia na pintura de Leonardo da Vinci

Recebo diariamente mensagens em podcast que me chegam através do WhatsApp.

Uma delas é o “Mini Sermão”, do padre Joãozinho, de Santa Catarina, outra me é transmitida por um colega evangélico, o pastor e jornalista Walter Fernandes, residente na Itália, e se chama “Presente Diário”.

Desses recados matinais, extraí as reflexões que seguem nessa postagem, tendo por base o quadro “Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, pintado entre 1494 e 1498.


 A obra na época foi financiada pelo duque Ludovico Sforza, responsável pelo convento dominicano de Santa Maria delle Grazie, em Milão.

O quadro original mede 4,6 metros de altura por 8,8 metros de comprimento e segue exposto, conforme informações que obtive, neste mesmo convento até hoje.

Leonardo da Vinci viveu entre 1452 e 1519 e pode ser considerado um polímata, ou seja, aquele que detém conhecimento em diversos assuntos.

Antes de fazer a pintura ele pesquisou os textos bíblicos, daí a postura e o gestual de cada dos participantes da ceia, incluindo Jesus Cristo, o mestre de Nazaré.


Várias reproduções da pintura original aparecem pelo mundo afora, não vamos entrar em detalhes sobre isso.

Procure, entretanto, observar atentamente cada um dos participantes da cena.

O jantar chegava ao final e Jesus faz uma revelação inesperada e sincera: “Um de vós há de me trair”.

Cada convidado passa a reagir de acordo com aquilo que traz em seu pensamento, a obra de arte parece ganhar movimento.

Leonardo da Vinci capta esta reação por isso a pintura também chamada de “Santa Ceia” se destaca ao longo dos séculos.


João, sentado à direita se mostra calmo, é o discípulo amado. À esquerda do mestre, está Tiago, seu irmão com rosto admirado e de braços abertos como a perguntar. “Qual a razão para trai-lo?”

Tomé levanta o dedo e quer uma prova. Filipe de pé, parece não entender o que está acontecendo, talvez estivesse distraído. 

Mateus olha para os últimos à sua esquerda, Tadeu e Simão, e pede que eles prestem atenção.

Bartolomeu, do outro lado, segura na mesa e se lembra que quando conheceu Jesus, o tratou com ironia e agora se mostra inseguro, parece não acreditar no que acabou de ouvir.

André, o irmão de Pedro, levanta as mãos como a dizer: "Eu não!" Pedro pede a João que explique o que aconteceu e pergunta ao Mestre: "Quem seria?" O traidor, Judas Iscariotes, agarra um saquinho de moedas.  


Descobrir-se vítima de uma traição deve ser um dos piores sentimentos para o ser humano. Jesus passou por isso

Neste caso, já sabia de antemão quem cometeria a traição e que não seria apenas um.

Pedro, sempre impetuoso, afirma que jamais o abandonaria e o Senhor, para sua surpresa, anuncia que ele o negaria por três vezes.

É possível que Judas pertencesse a um grupo chamado “zelotes”, formado por nacionalistas que queriam ver a nação de Israel liberta do domínio dos romanos.

Talvez Judas tenha ficado decepcionado porque o “reino” que Jesus anunciava não tinha a conotação política que esperava.

Ele, portanto, não teve dificuldade de o entregar ao Sinédrio por 30 moedas de prata.

Quando Jesus foi preso, Pedro o acompanhou de longe e por três vezes, quando indagado se fazia parte do grupo dos doze, negou o Mestre.

Então o galo cantou e depois, o texto bíblico informa que Pedro “chorou amargamente”.

Mateus relata que Judas sentiu remorso, devolveu o dinheiro e se enforcou.

Depois de ressuscitar, Jesus apareceu aos discípulos e teve uma conversa séria e difícil com Pedro.

Perguntou a ele três vezes se o amava e pede para que apascente suas ovelhas, tal como um pastor cuida dos seus cordeiros.

O "Presente Diário" afirma que se Judas não tivesse se matado e pedido perdão, certamente Jesus também o perdoaria.

Conclusão: “Não importa o tamanho de nosso pecado. Se nos arrependermos sinceramente e o confessarmos ao Senhor, ele sempre perdoará”.


Fontes: João Carlos Almeida; padre músico e apresentador do "Mini Sermão", edição dia 15/04/25

Clarice Tammerik - Rádio Transmundial - programa "Presente Diário", edição dia 13/04/25

Trechos bíblicos citados: Jo 13,21-33.36-38 e Jo 21.15-19

Mt 26, 34-47-50 e Mt. 27. 1-5

 


domingo, 23 de março de 2025

Queda do chichá no Largo do Arouche foi um grito de alerta

Terminou o verão e com a chegada do outono, diminuem os temporais e as consequentes quedas de árvores.

Isto representa um alívio para a prefeitura que empurra para o ano seguinte a solução do problema das enchentes.

Como se sabe este é um caso insolúvel diante de uma metrópole com mais de mil córregos subterrâneos.

Mas o que me surpreendeu foi a notícia da queda, em 12 de março, de uma das árvores mais antigas de São Paulo.

O chichá do Largo do Arouche, cujo nome científico é sterculia chicha, tinha mais de 200 anos e fazia toda a diferença paisagística daquele lugar.


A foto de 1963 postada no site São Paulo Antiga, do estimado colega Douglas Nascimento, apresenta uma antologia iconográfica do Arouche que define visualmente a altura do chichá em cerca de 20 metros.

Nessa outra estampa do São Paulo Antiga, de Douglas Nascimento, registrada de um edifício em um ponto mais alto, em 1977, a foto apresenta o chichá ainda mais exuberante.

Esse triste registro tirado em frente de uma tela de televisão, aponta que a árvore caiu para o lado do Hotel São Rafael após a tempestade do dia 12 de março, felizmente nenhuma pessoa foi atingida.


Alguns dias depois pedi para o meu confrade na Academia Cristã de Letras, Reinaldo Bressani, que mora nas imediações, para que desse uma passada pelo local e tirasse uma foto.

Como se percebe a fratura do tronco se deu a uma altura de quatro metros, aproximadamente.

A prefeitura fez a limpeza, serrou a parte quebrada e colocou uma cerca em torno das raízes. 

O que será daqui para frente, se a antiga planta terá condições de sobreviver e brotar, ainda não se sabe.

Cabe à prefeitura uma análise mais detalhada, visto que se trata da terceira árvore mais antiga de São Paulo.

De um levantamento realizado em 2013, estima-se que a mais velha seja a Figueira das Lágrimas, no Sacomã, com cerca de 250 anos, seguida de um Jequitibá plantado na área onde hoje está o Jardim da Luz.

G1

Esperamos que o assunto proteção das árvores não caia no esquecimento da prefeitura com a diminuição das chuvas.

No dia 12 de março, o taxista Elton Ferreira de Oliveira morreu após uma árvore cair sobre o seu automóvel em plena Avenida Senador Queiroz, durante a tempestade.

A árvore que a prefeitura alegou estar sadia, ainda atingiu a fiação causando curto circuito, faíscas e falta de energia elétrica.

 

Fontes:

A queda do chichá e uma antologia visual do Largo do Arouche - São Paulo Antiga – Douglas Nascimento: A queda do chichá e uma antologia visual do Largo do Arouche » São Paulo Antiga

Chuva em São Paulo derruba terceira árvore mais velha da cidade: https://odia.ig.com.br/brasil/2025/03/7020070-chuva-em-sao-paulo-derruba-terceira-arvore-mais-velha-da-cidade.html

Árvores centenárias em São Paulo – Tomás Chiaverini: https://vejasp.abril.com.br/cidades/arvores-centenarias-sao-paulo/

 

 


segunda-feira, 17 de março de 2025

Salomão Ésper será sempre exemplo de ética e respeito profissional

Salomão Ésper viveu 95 anos bem vividos graças ao respeito e ética profissional junto aos colegas e por todos ao seu redor. 

O conheci como ouvinte ainda nos meus tempos de menino e desde quando era estudante na faculdade passei a tê-lo como uma referência ao bom jornalismo naqueles anos de chumbo. 

Passou o tempo e nos tornamos colegas de trabalho na Rádio Bandeirantes, ele sempre solícito em esclarecer as dúvidas de todo novato.



Moderado nos comentários e tido por muitos como conservador, Salomão para mim era o contraponto das reflexões políticas, por isso sempre fiz questão de ouvi-lo. 

No dia a dia, ensinava coisas importantes para o aprimoramento não só do nosso trabalho, mas de todos os jovens repórteres que ingressavam na emissora.

Preocupado com a saúde, não só dele mas de todos, guardava em uma gaveta de sua sala todos os tipos de comprimidos. Azia ou dor de cabeça? Procure o Salomão, sempre sorridente a nos atender. 

Durante os bate papos recitava de improviso poemas de Olavo Bilac, Carlos Drumond e outros tantos poetas. 

Fazia isso também diante dos microfones de acordo com os assuntos que estivessem sendo tratados.

Respeitoso com os ouvintes lia com atenção as mensagens enviadas ao programa na "Hora do Café", do Jornal Gente da Bandeirantes. 


Antes da emissora do Morumbi,  passou pelas rádios América, Cruzeiro do Sul, Piratininga e comandou programas nas TVs Cultura e Bandeirantes.
 
Na foto acima o vemos jovem na Rádio Cruzeiro do Sul ao lado da apresentadora Elizabeth Darcy, mãe do narrador esportivo Sílvio Luiz.

Nascido em Santa Rita do Passa Quatro - SP, mudou-se para a capital paulista com a finalidade de aprimorar seus estudos e formou-se advogado. 

Ainda quando estudante, em um concurso da Rádio Cruzeiro do Sul para a contratação de dois locutores, foi aprovado e contratado junto com Cid Moreira.

Na Rádio América conheceu o então jovem repórter esportivo José Paulo de Andrade, depois com ele já na Rádio Bandeirantes, deu continuidade ao horário das oito da manhã para comentários noticiosos.

Vicente Leporace tradicional apresentador de "O Trabuco", faleceu em 1978 e para substituí-lo houve uma preocupação enorme.

Após seguidas reuniões ficou decidido que três comentaristas seriam necessários para substiuir Leporace. 

Salomão Ésper, que ficava em seu lugar nas férias foi designado e com ele José Paulo de Andrade e Joelmir Beting.

O resultado foi perfeito, a audiência não diminuiu e o Jornal Gente segue no ar até hoje e mesmo com novos apresentadores a audiência do horário ficou garantida.



Quem conheceu Salomão Ésper com certeza teve o privilégio de ver diante de si um ser humano notável, amigo e sincero com todos.

O melhor, é que estava sempre de bom humor, tanto que em um dos almoços promovidos pela Academia Paulista de Jornalismo - APJ, Salomão Ésper soltou essa:

"Acontecem coisas boas em todas as fases da vida, estou adorando a velhice, pena que dura pouco". 

Salomão foi para o céu e para nós aqui na Terra, fica o exemplo e a saudade.

De agora em diante os almoços da APJ nunca mais serão os mesmos


sábado, 14 de setembro de 2024

Saiba como a Faria Lima se transformou na mais moderna das avenidas paulistanas

Tem gente que não gosta quando escrevo sobre modernidade, acham que o moderno é fruto da ganância como se no passado não houvesse coisas assim.

São Paulo é uma cidade de negócios e oportunidades, desta característica é que o paulistano vive e adquire experiências, algumas boas e outras nem tanto, mas de todas elas surgem recordações.

A ideia de se construir a Avenida Brigadeiro Faria Lima, nasceu durante a metade dos anos 1960 e partiu do então prefeito que hoje dá nome a este endereço.

José Vicente de Faria Lima era filho de imigrantes portugueses e nasceu no Rio de Janeiro onde serviu às Força Armadas e se tornou “Brigadeiro do Ar”, em 1958.

Eleito prefeito de São Paulo pelo voto direto, em 1966, Faria Lima fez uma gestão considerada exemplar, segundo analistas.

Em sua passagem pela prefeitura aconteceram coisas pitorescas e pouco lembradas nos dias atuais.

Todas as vezes que ia à Brasília, como era brigadeiro, requisitava da FAB um avião que ele mesmo pilotava.

Antes de ir, convidava os jornalistas que compunham o Comitê de Imprensa da Prefeitura para seguirem com ele e cobrir as reuniões.

Essa história quem me contou foi o saudoso repórter Aluane Neto, da Jovem Pan, que viajou com Faria Lima algumas vezes.

O brigadeiro quis construir a avenida pela necessidade de se ocupar com caminhos parte das áreas de várzea surgidas após a retificação Rio Pinheiros, conforme explicamos em nossa postagem anterior.

A retificação deste rio outrora sinuoso, transformado em um canal para o bombeamento das águas do Tietê para a Represa Billings, fez de suas antigas margens um imenso lamaçal repleto de lagoas que aos poucos foram sendo aterradas.


A partir do alargamento da Rua Iguatemi se construiu a nova avenida cujo nome seria Radial Oeste para a ligação entre os bairros de Pinheiros e Brooklin.

Por conta do falecimento do ex-prefeito, em 1969, seu sucessor Paulo Maluf fez homenagem e deu o nome dele para a avenida.

Depois, em seu segundo mandato como prefeito, na década de 1990, Maluf ampliou a Faria Lima do Largo da Batata até a Avenida Hélio Pellegrino, possibilitando a ela o rosto dos dias atuais.

No ano de 2001, com a aprovação do Estatuto das Cidades, a prefeitura paulistana instituiu o projeto Operações Urbanas para promover em regiões da cidade intervenções previstas no Plano Diretor.

Para a “Nova Faria Lima”, a prefeitura fez uso de um instrumento jurídico chamado “outorga onerosa” que oferece incentivos à verticalização através de contrapartidas financeiras.

O mercado imobiliário passou a comprar Certificados de Potencial Adicional de Construção – Cepacs e com o dinheiro, a prefeitura ampliou a infraestrutura urbana de toda a área e deu ao lugar ares de primeiro mundo.

Atualmente, a “Nova Faria Lima” é a que possui o metro quadrado mais caro da cidade e, segundo as imobiliárias, seus edifícios estão entre os mais luxuosos.

Para as novas torres de concreto armado sem mudaram empresas que passaram a ocupar prédios inteiros ou vários andares e sem comércio no térreo como acontece na Paulista e no Centro. Isto, ajuda também explicar a depreciação de áreas da cidade de São Paulo, outrora prósperas.

Quando uma empresa forte muda de lugar, as concorrentes fazem o mesmo para não perder o status.



Fontes e Fotos:

Esquema Economia e Mercado - As origens da Faria Lima: As origens da Faria Lima - Blog | Esquema Imóveis (esquemaimoveis.com.br)

Gestão Urbana – Cidade de São Paulo: Gestão Urbana SP (prefeitura.sp.gov.br)

Outorga Onerosa – Urbanismo e Licenciamento: Outorga Onerosa - Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento - Prefeitura (capital.sp.gov.br)

Acesse nossa postagem anterior: Blog do Geraldo Nunes: Migração dos arranha-céus para a zona sul começou pelo Rio Pinheiros

 


sábado, 7 de setembro de 2024

Migração dos arranha-céus para a zona sul começou pelo Rio Pinheiros

As coisas não acontecem de uma hora para a outra, bem antes dos edifícios suntuosos que temos na zona sul paulistana, uma obra fantástica de engenharia fez mudar para sempre o destino da cidade de São Paulo.

Em 1927 teve início o processo de retificação do Rio Pinheiros para que suas águas passassem a ser bombeadas no sentido inverso e assim formar a Represa Billings.

Objetivo era o de fornecer maior quantidade de energia elétrica à baixada santista e ao mesmo tempo levar água encanada aos municípios do Grande ABC.

A partir de então o Pinheiros deixa de ser rio e se transforma em um canal para fazer o bombeamento das águas do Tietê que fazem girar as turbinas da Hidrelétrica Henry Borden para depois desaguar no estuário de Santos.

As consequências ambientais foram terríveis, as águas poluídas do Tietê passaram a cair no Pinheiros e bombeadas até Billings poluíram até mesmo as praias santistas.

Na foto vemos do alto a Usina Elevatória de Pedreira que fica atrás do Autódromo de Interlagos, as águas escuras na parte de baixo são as do Pinheiros sendo bombeadas para a Represa Billings mais acima.

Esta imagem ainda pode ser vista, embora a Constituição Paulista de 1989 tenha proibido o bombeamento do Pinheiros para a Billings.

Ficou do antigo Pinheiros após a retificação, uma quantidade enorme de lagoas e uma imensidão de terrenos alagadiços.

A prefeitura paulistana não tinha condições de aterrar tudo sozinha e passou a contratar pequenas empresas para fazer esse serviço.

Conheci um senhor de Santo Amaro que ficou rico aterrando as lagoas onde hoje se assentam ruas e avenidas de bairros como o Itaim-Bibi, Brooklin, Vila Olímpia, Chácara Santo Antônio e por aí vai.

Destes aterros surgiram terrenos baratos que foram loteados e vendidos pela prefeitura a pessoas humildes que ali construíram suas casas e passaram a residir nelas.

O traçado em azul desta foto por satélite mostra onde passava o Rio Pinheiros, como ele ficou e os terrenos surgidos.

Em 1972 foi aprovada a primeira Lei de Zoneamento Urbano que estabeleceu um Plano Diretor para a cidade de São Paulo.

Pela nova lei regras passaram a regulamentar a construção e a altura dos edifícios.


Acima está a Avenida Brigadeiro Faria no início da década de 1970 quando os terrenos da zona sul ainda eram baratos.

O mercado imobiliário arregalou os olhos, arregaçou a mangas, comprou os terrenos e demoliu as casas para construir arranha-céus e fazer da região o ponto mais valorizado de São Paulo.

Este lugar hoje é o preferido para a instalação dos escritórios de grandes bancos, corretoras de investimentos em bolsas de valores e demais empresas do mercado financeiro, também conhecidas como "Turma da Faria Lima".

A região no entorno da Avenida Brigadeiro Faria Lima, possui agora o metro quadrado residencial mais caro da capital paulista. Sua cotação em 2023, segundo levantamento da Loft, chegou a R$ 23 mil e pode fechar 2024 ainda mais valorizada.

Esta postagem serviu de introdução para o próximo capítulo da história da verticalização de São Paulo que agora completa 100 anos.

Semana que vem tem mais, saudações e se possível deixe o seu comentário.


Fontes:

Atlas Socioambiental de São Bernardo do Campos - Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal - Represa Billings: nossa água, nossa vida - São Bernardo (saobernardo.sp.gov.br)

Portal Condo News: Notícias do Mercado – Condo.news

Principais rios de São Paulo - Portal São Paulo Secreto

Acesso: Rios de São Paulo: os cursos d'água que moldaram a capital (saopaulosecreto.com)

Revista Exame: Bairros vizinhos à Faria Lima têm o m² mais caro de São Paulo em 2023, diz Loft | Exame

Fotos: Pesquisa Google e Revista Exame