Com a inauguração dos primeiros arranha-céus em
São Paulo, há 100 anos, houve aumento no fluxo de pessoas na região central e com
isso os primeiros problemas de estrutura urbana surgiram.
Houve necessidade de se ampliar o transporte coletivo, os bondes passaram a não dar conta de tudo e linhas de ônibus foram criadas para suprir a demanda.
Os mais ricos que possuíam automóveis começaram a
encontrar dificuldades para estacionar seus veículos, tal situação teve início pelo final da década de 1920.
Nas áreas afastadas do centro, antigas chácaras passaram a ser loteadas para a construção de moradias e novos bairros surgiram, tanto na
zona leste quanto nas regiões norte, sul e oeste.
Da mesma forma ocupações irregulares em áreas antes desabitadas, por serem consideradas de risco, passaram a surgir sem nenhum controle dos órgãos públicos.
As inundações do Rio Tietê, traziam enormes
transtornos e bairros como a Vila Maria e Bom Retiro permaneciam alagados por várias semanas, após as tempestades de verão.
Isto levou o então prefeito José Pires do Rio, que
comandou os destinos da cidade de 1926 a 1930, a consultar o
engenheiro-arquiteto Francisco Prestes Maia sobre um estudo por ele realizado.
Prestes Maia em parceria com João Florence Ulhôa
Cintra, publicou em 1924, no Boletim do Instituto de Engenharia, um projeto
para facilitar a circulação viária.
Dessa proposta surgiram os planos para a abertura das avenidas radiais que fazem hoje a ligação centro-bairro como a 9 de Julho, 23 de Maio, Prestes Maia e Tiradentes, além da própria Radial Leste.
A grande polêmica, entretanto, residia no projeto de
criação das vias perimetrais, ou seja, as duas vias marginais que temos hoje.
Para isso seria necessário retificar os rios Tietê e
Pinheiros e implantar em suas margens as avenidas que levariam a pontos mais
distantes, sem a necessidade de se cruzar o centro.
A essa ideia, se opôs o então vereador e depois
prefeito, o professor Luiz Inácio de Anhaia Mello.
Este professor-engenheiro, defendia deixar os rios
paulistanos no seu formato original e se construir em torno deles parques
lineares para absorção das enchentes.
Sua sugestão se mostra mais adequada para os dias de
hoje, mas isso não fazia parte do pensamento desenvolvimentista da época e o
Plano de Avenidas foi o escolhido.
Francisco Prestes Maia exerceu o cargo de prefeito de
São Paulo entre os anos de 1938 e 1945 na vigência do “Estado Novo”, imposto
por Getúlio Vargas.
Nesta fase se deu a abertura da Avenida 9 de Julho e
sua integração com a Avenida Santo Amaro.
Depois, entre 1961 e 1965, eleito pelo voto direto,
Prestes Maia voltou a ser prefeito e deu andamento ao Plano de Avenidas.
Seus sucessores na Prefeitura, tendo em mente que a proposta
do urbanismo progressista, era sinônimo de modernização, deram continuidade ao
projeto viário.
As marginais do Tietê e do Pinheiros, por exemplo, foram
finalizadas após a década de 1960.
Atualmente, parte dos urbanistas considera que o agravamento dos problemas da metrópole se deve em parte ao Plano de Avenidas que fez diminuir a necessidade de se ir ao centro que se tornou um lugar isolado.
A retificação dos rios Tietê e Pinheiros, segundo
especialistas, impulsionou a ocupação das várzeas por enormes arranha-céus e
fez agravar o transtorno das enchentes.
Os terrenos alagadiços especialmente à margem do Rio
Pinheiros, resultantes da retificação, foram adquiridos por um preço barato pelas incorporadoras que
construíram edifícios luxuosos para serem vendidos depois a peso de ouro.
O mercado imobiliário agiu errado ao atuar desta
maneira? Pelo ponto de vista das oportunidades que a cidade oferece, agiram
certo.
A construção civil gera empregos e renda à população e isso deve ser levado em consideração.
Todos esses acontecimentos fizeram de São Paulo a metrópole que temos hoje tanto para o lado bom quanto para o ruim.
Fontes:
TOLEDO, Benedito Lima de (2005). Prestes
Maia e as origens do Urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo: Ed. ABCP
CAMPOS, Candido Malta (2002). Os rumos da
cidade: urbanismo e modernização em São Paulo: SENAC.
Fotos extraídas do Google Imagens
Excelente artigo. Muuuita informação para os paulistanos conhecerem um pouco da história da cidade. Parabéns Geraldo.
ResponderExcluirGeraldo Nunes, uma reserva cultural e intelectual paulistana, exercendo uma de suas nobres missões de vida: resgatar e preservar a memória da nossa São Paulo de Todos os Tempos.
ResponderExcluirMuito bom! Adoro suas pesquisas e relatos. Nos inundando de memórias, conhecimentos e compreensão de onde é porque estamos Agora!
ResponderExcluirÓtimo panorama geral do desenvolvimento urbano de São Paulo. E a coisa continua. Ontem fiquei impressionado com a quantidade de terrenos já preparando prédios para subir na Vila Prudente, Vila Zelina... Gera empregos, sabemos. Mas será que é bom para a cidade colocar torres de 20 andares em bairros semi-periféricos? Uma coisa é certa: a essa altura da problemática de São Paulo, qualquer novo empreendimento deveria vir acompanhado de um bom estudo de impacto ambiental, e formas de mitigação, além de contra-partidas para a vizinhança. No mínimo isso. Infelizmente uma utopia.
ResponderExcluirhttps://blogdogeraldonunes.blogspot.com/2023/11/vila-alpina-de-terras-historicas-corre.html
ExcluirComo Paulistana me sinto contemporânea de todos estes acontecimentos que tenho na memoria inclusive Geraldo algumas das fotos me fazem lembrar da enchente do Tiete nos bairros da Zona Norte da Vila Maria e Vila Guilherme onde moravamos e tivemos que sair de cima do telhado atraves de barcos ! Onde hoje é o centro de exposição e Lar Center e Shoping Center Norte da Vila Guilherme ! E pelapesquisa lembro de todos estes mrlhoramentos e desenvolvimentos desta Querida Cidade de São Paulo dos quais participei ! Obrigada pelas boas lembrancas que me fez recordar !
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