sábado, 31 de agosto de 2024

A história do Conjunto Nacional mostra como os arranha-céus chegaram à Avenida Paulista

O Conjunto Nacional é um arranha-céu pujante que segue ativo acompanhando o ritmo de frenético de São Paulo.

Sua construção remonta o tempo em que havia muitos casarões na Avenida Paulista e por este motivo se constitui em um dos símbolos da verticalização de São Paulo. 

Sua localização é privilegiada,  cruzamento Paulista - Augusta e foi erguido no lugar de um casarão art-noveau, projetado pelo arquiteto Victor Dubugrás, que ocupava todo o quarteirão.

Junto ao quintal da citada mansão havia 30 árvores frutíferas entre jabuticabeiras, amoreiras, parreiras e ameixeiras, entre outras.

Possuia no mesmo espaço hortas, flores e tanques com peixes, o leite para as crianças era extraído in natura, havia uma vaca que ficava na cachoeira da casa só para essa finalidade.

Esses detalhes me foram passados pela senhora Helena Maria América Sabino de Souza Queiroz Vieira de Carvalho, longo nome da menina chamada pelo avô de Colibri, era ela neta de Horácio Sabino.

Entrevistei Colibri em 2001, no programa São Paulo de Todos os Tempos e sua história saiu no livro de mesmo nome, publicado pela RG Editores no ano de 2005.

Horácio Sabino, além de ser o dono do casarão, era o proprietário das terras que hoje compõem os bairros da chamada região dos Jardins.

Sua residência não permaneceu de pé nem 50 anos porque em São Paulo, as casas morrem antes que as pessoas.

Inaugurado em 1904, o imóvel foi demolido após a morte dele, em 1950 e a família vendeu o terreno para o empresário Jose Tjurs que desejava construir ali um grande hotel.


A legislação vigente impedia a instalação de hotéis na Avenida Paulista e o impedimento fez surgir o Conjunto Nacional, destinado ao uso comercial, residencial e de escritórios.

Projetado por David Libeskind, sua construção começou em 1953 e a conclusão em 1957, quando de fato começou a funcionar.



O primeiro grande atrativo para fazer da Paulista um ponto de encontro foi o Restaurante Fasano, que abriu caminho para a transferência do comércio elegante do Centro para a região.

Histórias interessantes de personalidades que passaram pelo Fasano, como o presidente norte-americano Dwight Einsenhoer e o cantor Nat King Cole estão no livro “Conjunto Nacional - a conquista da Paulista”, do saudoso escritor Angelo Iacocca.

A foto acima revela a visão da atual Avenida Paulista para quem está nas dependências de onde ficava o antigo Fasano.

O prédio do Conjunto Nacional se divide em espaços horizontais e verticais onde se ergueram as torres Horsa I, Horsa II e Horsa III. Possui 26 andares e cinco elevadores.

Como todo edifício que não recebia manutenção, o Conjunto Nacional viveu uma fase de decadência e até um incêndio aconteceu em 1976. 

Após sua recuperação foi tombado pelo Patrimônio Histórico do Município e não pode mais receber nenhum tipo de alteração em suas linhas arquitetônicas.

A verticalização da Avenida Paulista foi mais um dos motivos que determinaram a decadência do centro histórico paulistano.

Haveria mais para contar sobre o Conjunto Nacional, onde em memoráveis manhãs de sábado, me reuni com Marcos Rey, Assis Ângelo, o poeta Paulo Bomfim e outros escritores, em frente às vitrines da Livraria Cultura, mas hoje ficaremos por aqui.

Fontes:

Livros: Conjunto Nacional - A Conquista da Paulista - Iacocca, Angelo/Origem Editora/São Paulo/1998

São Paulo de Todos os Tempos Vol. II - Nunes, Geraldo/RG Editores/São Paulo/2005

Sites: Condomínio Conjunto Nacional: http://www.ccn.com.br/historia.php

O Palacete Horácio Sabino por Luciana Cotrim: O palacete de Horácio Sabino | Série Avenida Paulista (serieavenidapaulista.com.br)

Fotos: Pesquisa Google

 

 

 





domingo, 25 de agosto de 2024

Farol Santander: O mais emblemático arranha-céu de São Paulo

Sempre tive vontade de escrever sobre o Edifício Altino Arantes que agora recebe o "naming rights" Farol Santander.

Sua posição na parte mais alta do centro da cidade de São Paulo, faz com que ganhe destaque entre os demais edifícios.

Acho esse prédio lindo, é todo branco, possui um mirante no alto e ostenta a bandeira paulista.

Ao longo de sua história recebeu outros nomes e apelidos como Edifício Banespa ou "Banespão".

Entre todos os arranha-céus da Pauliceia, com toda certeza, é o mais emblemático dos edifícios.

Sua imagem serve de representação para São Paulo aos que não moram na capital paulista, assim como o Cristo Redentor nos leva a lembrar do Rio de Janeiro.

Sua construção teve início em 1939 por iniciativa do então interventor federal, Adhemar Pereira de Barros, com o objetivo de fazer dele a sede do Banco do Estado de São Paulo. Seu endereço: Rua João Brícola, 24.

A inauguração aconteceu depois de oito anos, em 27 de junho de 1947, quando Adhemar ocupava o cargo de governador, desta vez eleito pelo voto direto.  


Altino Arantes, que empresta seu nome à majestosa construção projetada pelo arquiteto Plínio do Amaral, foi o décimo governante do Estado de São Paulo no período republicano, entre maio de 1916 e maio de 1920.

Além de político foi presidente efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e o primeiro presidente do Banco do Estado de São Paulo S/A, em 1927.

Por mais de uma década foi o prédio mais alto da cidade, possui 161 metros de altura, 35 andares e 14 elevadores.

Só foi ultrapassado em 1960 pelo Edifício Mirante do Vale com 170 metros e 51 pavimentos, além de 12 elevadores.

Seu estilo inspirado na arquitetura art decó, lembra a moldura do Empire State Building de Nova York.

Em 2000, após a privatização do Banespa, o prédio foi incorporado ao patrimônio do Grupo Santander.

Hoje suas dependências são utilizadas para atividades culturais e de lazer.

Entre as atrações, uma pista de skate para os jovens aficionados deste esporte. 

Nos tempos em que o Edifício Altino Arantes servia aos escritórios do Banespa, fui até lá várias para entrevistar o Prof. Luiz Carlos Bresser Pereira que presidia o banco estatal no governo Franco Montoro.

Os corredores que compunham os escritórios da diretoria foram preservados em seu formato original.

Assim como a escrivaninha de Bresser Pereira e a sala de reuniões com as clássicas cadeiras de espaldar.

Não me chamem de coroa e sim de experiente repórter, porque estive nesses lugares a trabalho e assisti a tudo funcionando em pleno vapor.


Atualmente, o Farol Santander atrai cerca de cinco mil visitantes por mês, são pessoas que sobem até o mirante para ver a cidade com o seu mar de edifícios tendo ao fundo a Serra da Cantareira.

Escrevi tudo isso porque em 2024 estão sendo lembrados os 100 Anos do Início da Verticalização de São Paulo.

O que nos reserva o futuro dentro de uma cidade que não para de construir prédios é um assunto preocupante.

Um fórum de discussões deve ser iniciado em breve, a ideia foi lançada em um encontro que reuniu representantes do Instituto de Engenharia, Associação Comercial e Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, além de outras entidades.

Tive a honra de ser convidado para participar da reunião almoço preparativa desse encontro e quando surgirem novidades iremos informar aqui neste espaço digital.

Esta é a vista da cidade que tenho da janela do meu apartamento vizinho ao Parque da Aclimação.

No fundo quase no canto direito da foto aparece o Farol Santander ostentando em seu topo a bandeira paulista que tanto admiro.

Fontes: www.farolsantander.com.br

Fotos: Acervo Estadão/Arquivo Particular/Pesquisa Google e Instituto de Engenharia


domingo, 4 de agosto de 2024

Plano de Avenidas surgido há 100 anos ajuda explicar o que é São Paulo hoje

Com a inauguração dos primeiros arranha-céus em São Paulo, há 100 anos, houve aumento no fluxo de pessoas na região central e com isso os primeiros problemas de estrutura urbana surgiram.  

Houve necessidade de se ampliar o transporte coletivo, os bondes passaram a não dar conta de tudo e linhas de ônibus foram criadas para suprir a demanda.

Os mais ricos que possuíam automóveis começaram a encontrar dificuldades para estacionar seus veículos, tal situação teve início pelo final da década de 1920.

Nas áreas afastadas do centro, antigas chácaras passaram a ser loteadas para a construção de moradias e novos bairros surgiram, tanto na zona leste quanto nas regiões norte, sul e oeste.

Da mesma forma ocupações irregulares em áreas antes desabitadas, por serem consideradas de risco, passaram a surgir sem nenhum controle dos órgãos públicos. 

As inundações do Rio Tietê, traziam enormes transtornos e bairros como a Vila Maria e Bom Retiro permaneciam alagados por várias semanas, após as tempestades de verão.

Isto levou o então prefeito José Pires do Rio, que comandou os destinos da cidade de 1926 a 1930, a consultar o engenheiro-arquiteto Francisco Prestes Maia sobre um estudo por ele realizado.

Prestes Maia em parceria com João Florence Ulhôa Cintra, publicou em 1924, no Boletim do Instituto de Engenharia, um projeto para facilitar a circulação viária.

Dessa proposta surgiram os planos para a abertura das avenidas radiais que fazem hoje a ligação centro-bairro como a 9 de Julho, 23 de Maio, Prestes Maia e Tiradentes, além da própria Radial Leste.

A grande polêmica, entretanto, residia no projeto de criação das vias perimetrais, ou seja, as duas vias marginais que temos hoje.

Para isso seria necessário retificar os rios Tietê e Pinheiros e implantar em suas margens as avenidas que levariam a pontos mais distantes, sem a necessidade de se cruzar o centro.

A essa ideia, se opôs o então vereador e depois prefeito, o professor Luiz Inácio de Anhaia Mello.

Este professor-engenheiro, defendia deixar os rios paulistanos no seu formato original e se construir em torno deles parques lineares para absorção das enchentes.

Sua sugestão se mostra mais adequada para os dias de hoje, mas isso não fazia parte do pensamento desenvolvimentista da época e o Plano de Avenidas foi o escolhido.


Francisco Prestes Maia exerceu o cargo de prefeito de São Paulo entre os anos de 1938 e 1945 na vigência do “Estado Novo”, imposto por Getúlio Vargas.

Nesta fase se deu a abertura da Avenida 9 de Julho e sua integração com a Avenida Santo Amaro.

Depois, entre 1961 e 1965, eleito pelo voto direto, Prestes Maia voltou a ser prefeito e deu andamento ao Plano de Avenidas.

Seus sucessores na Prefeitura, tendo em mente que a proposta do urbanismo progressista, era sinônimo de modernização, deram continuidade ao projeto viário.

As marginais do Tietê e do  Pinheiros, por exemplo, foram finalizadas após a década de 1960.

Atualmente, parte dos urbanistas considera que o agravamento dos problemas da metrópole se deve em parte ao Plano de Avenidas que fez diminuir a necessidade de se ir ao centro que se tornou um lugar isolado.


A retificação dos rios Tietê e Pinheiros, segundo especialistas, impulsionou a ocupação das várzeas por enormes arranha-céus e fez agravar o transtorno das enchentes.

Os terrenos alagadiços especialmente à margem do Rio Pinheiros, resultantes da retificação, foram adquiridos por um preço barato pelas incorporadoras que construíram edifícios luxuosos para serem vendidos depois a peso de ouro.

O mercado imobiliário agiu errado ao atuar desta maneira? Pelo ponto de vista das oportunidades que a cidade oferece, agiram certo.

A construção civil gera empregos e renda à população e isso deve ser levado em consideração. 

Todos esses acontecimentos fizeram de São Paulo a metrópole que temos hoje tanto para o lado bom quanto para o ruim.


Fontes:

TOLEDO, Benedito Lima de (2005). Prestes Maia e as origens do Urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo: Ed. ABCP

CAMPOS, Candido Malta (2002). Os rumos da cidade: urbanismo e modernização em São Paulo: SENAC.

Fotos extraídas do Google Imagens