domingo, 28 de julho de 2024

São Paulo dos arranha-céus, uma história que começou há 100 anos

“São Paulo cresce e se modifica a uma velocidade tão grande que, de uma geração a outra, os jovens já não mais conhecem a cidade onde viveram seus antepassados recentes.”

A frase acima está no livro São Paulo, Três Cidades em um Século, do saudoso professor da FAU/USP, Benedito Lima de Toledo, sobre as mudanças ocorridas na capital paulista do século 20.

Para confirmar o que a frase diz vamos iniciar uma série de postagens sobre a verticalização de São Paulo ao longo dos anos.

Uma estimativa aponta que na capital paulista estão de pé, cerca de 30 mil edifícios acima dos 20 metros de altura, nem mesmo a prefeitura, entretanto, possui o número exato.

Nossa Pauliceia passou a ganhar ares de metrópole pelo início do século 20, com a inauguração em 1913 do Edifício Guinle de 7 andares, na Rua Direita 49, que aparece na foto acima.

Considerado o primeiro prédio vertical construído no Brasil, seu projeto original, desenvolvido pelo arquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior, previa a construção de apenas 3 andares.

Os donos da empresa “Guinle & Cia”, entretanto, mandaram erguer durante a obra, mais 4 pavimentos.

O termo “arranha-céu” surgiu nos Estados Unidos com o nome “skycraper”, para designar as construções com pelo menos 10 andares erguidas em grandes cidades como Chicago, Nova York e Detroit, pelo final do século 19.


Com base na projeção norte-americana, o Edifício Sampaio Moreira, inaugurado em 1924, passou a ser considerado marco inicial da verticalização de São Paulo.

Suas características são de um “arranha-céu”, possui altura de 50 metros e 12 andares.

Tombado pelo Patrimônio Histórico em 1992, o Sampaio Moreira foi desapropriado pela prefeitura e a Secretaria Municipal de Cultura ocupa suas dependências.

A Casa Godinho, tradicional mercearia fundada em 1888, ocupa o espaço da loja térrea do Sampaio Moreira desde 1924, mesmo ano da inauguração deste prédio da Rua Líbero Badaró, 340.

O reinado do Sampaio Moreira como edificação mais alta da cidade, durou apenas cinco anos.

Veio depois o Edifício Martinelli com 28 andares e 106 metros de altura que tomou o seu lugar em 1929.

Quem mandou construir o "arranha-céu" foi Giuseppe Martinelli, um italiano nascido em Lucca, na região Toscana.

Ele chegou ao Brasil em 1893, primeiro trabalhou como açougueiro, depois foi trabalhar numa companhia de despachos aduaneiros em Santos, prosperou na vida e se tornou empresário.

A partir daí seu grande sonho passou a ser deixar uma marca que perpetuasse o seu nome na história da cidade.

Para levar adiante sua meta, comprou as áreas vizinhas e o terreno onde funcionava o requintado Café Brandão, ponto de encontro dos políticos e homens de negócios da São Paulo do início do século 20.

O quarteirão entre a Rua São Bento, Rua Líbero Badaró e a Ladeira de São João era o ponto mais valorizado de São Paulo.

Um imprevisto aconteceu, ao iniciar as obras surgiram problemas, minava água nas fundações e para resolver a questão foi preciso gastar muito dinheiro.

Martinelli não teve dúvida, viajou para a Itália e foi pedir ajuda ao ditador Benito Mussolini.

O mais surpreendente é que o “Duce” atendeu, liberou verbas acima do pedido, com a condição de que o edifício tivesse o dobro da altura prevista, em torno dos 50 metros.

Mussolini exigiu que fosse o mais alto “arranha-céu” da América Latina para assim, projetar o nome da Itália aos olhos do mundo inteiro.


Martinelli não teve mais dúvidas e nem dívidas, dobrou o tamanho da construção para 106 metros e o povo incrédulo, passou a dizer que a construção onde antes minava água, não se sustentaria muito tempo de pé, o prédio iria desabar em pouco tempo.

Em 1929 tudo ficou pronto e foi inaugurado com 28 andares, além da cobertura que serviu de residência para o empresário e sua família.

Ele achava que com isso, representantes da alta sociedade paulistana se mudariam para o edifício, o que não aconteceu.


Depois da inauguração, o gigante “arranha-céu” continuou longo tempo vazio, o preço dos apartamentos era altíssimo, ninguém se interessava em comprar e o primeiro morador foi Arturo Patrizi, um professor de dança.

Além de morar, Patrizi montou nos primeiros andares sua escola, ganhou muito dinheiro e ficou famoso com ela.

Com o passar do tempo, entretanto, o prédio perdeu o glamour, e os apartamentos começaram a ser alugados para famílias de baixa renda.

Crimes aconteceram nas dependências e até a fama de ser mal-assombrado, o edifício recebeu.

Em 1975, o então prefeito Olavo Setúbal desapropriou o Martinelli e sua restauração deu novos ares ao lugar.

Recentemente visitas educativas ao topo do Edifício Martinelli passaram a ser realizadas mediante agendamento prévio.

O passeio dura cerca de uma hora, guias especializados dão explicações históricas relativas ao prédio e ao centro paulistano.

Além disso, a residência da cobertura pode ser alugada para eventos e o sonho de Giuseppe Martinelli, de ter o seu nome perpetuado, ocorreu.


Fontes: Gazeta de São Paulo: Edifício Martinelli: 100 anos de história, cultura e revitalização em São Paulo - Gazeta de São Paulo (gazetasp.com.br)

Edifício Martinelli: Edifício Martinelli – Arquitetura Italiana (usp.br)

Livro: TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo, três cidades em um século. São Paulo: Cosac & Naify/ Livraria Duas Cidades/ Acesso em: 28 jul. 2024

Fotos: Gazeta de São Paulo – Catraca Livre - Google


 

 

 

 


segunda-feira, 15 de julho de 2024

Jornalismo de soluções: Saída para devolver credibilidade à mídia

Cada vez é maior o número de pessoas que deixa de acompanhar os noticiários e uma das causas está na forma como as notícias são apresentadas: “Parece que só existem desgraças?”

“Repórteres só falam em guerras, corrupção, crimes violentos, será que nada presta?”

Essas são algumas questões levantadas por telespectadores e ouvintes.

Notícias ruins chamam mais a atenção que as boas, essa postura não é culpa só da mídia, prova está na grande audiência dos programas policiais dos finais de tarde. 

Essa constatação nos levou a escolher a foto acima. 

Mas é possível modificar a forma de se apresentar as notícias e isso deve ser feito rapidamente, até pela própria sobrevivência do jornalismo.

Uma proposta surgida nos Estados Unidos começa a ganhar adeptos no Brasil, é o Jornalismo de Soluções – “Solutions Journalism Network”

Por este novo processo a reportagem segue na busca de uma solução para o problema que foi mostrado ao público.


Quando fui repórter das estradas em uma emissora de São Paulo, muitos anos atrás, noticiava os acidentes com mortes nas rodovias, aquilo me entristecia e aos ouvintes também.

Mais adiante na Rádio Eldorado, passei a noticiar o trânsito pelo helicóptero, apontava do alto caminhos alternativos.

Era o esboço para a atual proposta do Jornalismo de Soluções, mas fazíamos tudo por intuição, não havia nada conceitual ainda.


Para o Jornalismo de Soluções funcionar, é preciso que toda a redação esteja engajada na cobertura de uma situação para mostrar saídas a partir daquele acontecimento.

O repórter ao receber a pauta deve ser orientado para, após relatar o assunto, buscar formas ou alguém que aponte soluções.

Nem sempre se consegue isso de imediato, por tal motivo, caberá à redação manter o tema em destaque e pesquisar saídas.

Nos meus tempos de repórter das estradas, a justificativa para o tombamento constante de carretas na descida da Serra de Santos pela Via Anchieta, era a falha dos freios e a notícia ficava por isso mesmo.

Estudos mostraram que a implantação de áreas de escape cobertas por cascalho ajudaria na diminuição dos acidentes.

Além de frearem os veículos pesados, as áreas de escape cobertas por cascalho ajudariam a evitar mortes e perdas de carga. Deu certo.

A Via Anchieta, possui hoje duas áreas de escape na pista de descida, constituídas de argila no formato de bolinhas que conseguem segurar melhor ainda os caminhões e carretas.


Para o repórter que trabalhar pelo método jornalístico de buscar soluções, ao cobrir algum acidente do tipo em outra rodovia, deverá lembrar ao público que na Via Anchieta os tombamentos diminuíram com a construção de áreas de escape forradas de argila.

A internet é hoje uma grande fonte de ajuda para quem busca soluções, basta pesquisar com critérios para a escolha dos resultados certos.

Tendo por base pesquisas, o jornalismo de soluções pode até mesmo mudar o tom do discurso político dos governantes, tornando-o menos evasivo e mais construtivo.

Claro que ainda há um longo caminho a ser percorrido, cabe aos que comandam a mídia, aceitarem a ideia.


Fontes: 

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo - Abraji: Abraji | Entenda o que é e como fazer jornalismo de soluções

IJnet – Rede de Jornalistas Internacionais: Jornalismo de soluções: o que é e por que você deveria se importar? | Rede de Jornalistas Internacionais (ijnet.org)

 Fotos: Google - Imagens


sábado, 6 de julho de 2024

Para salvar Plano Real governo precisou dar dinheiro aos bancos

O sucesso do Plano Real é uma realidade, mas a conquista da estabilidade econômica e financeira veio carregada de incertezas

A logomarca do Banco Nacional ainda é vista frequentemente nas fotografias onde aparece o piloto tricampeão Ayrton Senna.

O Banco Nacional era uma instituição privada e sua falência aconteceu após a descoberta que seus demonstrativos contábeis exibiam lucros inexistentes na casa dos bilhões de reais.

Outros bancos de menor porte faziam o mesmo e o Banco Central precisou intervir em todos eles.

Para que os clientes não perdessem seus créditos, outros bancos assumiram o controle acionário dessas instituições inadimplentes.

“Se mais bancos fecharem as empresas irão junto e a economia do país sairá arruinada”, alertava o ministro da Fazenda, Pedro Malan, em novembro de 1995.

O exemplo usado para justificar o perigo, foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.

“Na ocasião a economia dos Estados Unidos entrou em crise porque o governo não abasteceu os bancos com recursos financeiros”, explicaria Malan ao lançar o Proer.

Por este programa o governo brasileiro forneceu aporte financeiro aos bancos para garantir a sobrevivência das empresas e a garantia dos empregos dos funcionários.

Mas a oposição e a mídia, como não poderia deixar de ser, caíram matando.

Apesar das críticas, a economia do país sobreviveu e o Proer permaneceu em vigor até 2001.

O Brasil prosperou, mas algumas mudanças aconteceram: o câmbio que antes era fixo voltou a ser flutuante e o Real perdeu seu poder de compra em relação ao dólar.


A decisão de tornar o dólar flutuante fez aumentar as exportações e fortaleceu o agronegócio, mas as taxas de juros permanecem altas, embora não como antes.

Mesmo assim ainda é possível planejar compras a prazo, algo que no tempo da hiperinflação era impossível.

O Brasil saiu do buraco graças ao Plano Real, mas seu futuro ainda é cheio de incertezas.



Fonte: Texto editado a partir do livro "A História do Brasil sob o olhar da Contabilidade – Os 100 anos do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo – Sindicont-SP", publicado em 2019. Autores: Lenilde Plá De León e Geraldo Nunes.

Fotos extraídas do Google