segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Número de pessoas em situação de rua aumenta e pode crescer mais em 2024: CPI de vereadores causa polêmica

A discussão em torno da proposta de uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo para investigar as ONG’s que atuam na Cracolândia e o envolvimento, ou não, do padre Júlio Lancellotti ainda repercute.

O tema com toda a certeza será amplamente discutido na campanha eleitoral para prefeito e vereadores na capital paulista em 2024.

Surpresa maior veio dos dados recentes apresentados pelo Cadastro Único para Programas Sociais - CadÚnico, que apontou aumento de 1,8% na população de rua na cidade de São Paulo.

Agora são 53.188 pessoas dormindo todas as noites sob o relento ou debaixo de pontes e viadutos na maior metrópole brasileira.

A quantidade tende a aumentar em 2024 porque nos últimos 10 anos a população de rua no país cresceu 211%, conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea.


Essa calamidade, entretanto, não é exclusiva do Brasil ou da cidade de São Paulo, ocorre em outras metrópoles como São Francisco, nos EUA, em Paris e até mesmo no Cairo, capital do Egito.

Como resolver essa situação?

Em Nova York uma pesquisa culpou o preço dos aluguéis: “Se o custo da locação diminuir em 10%, a quantidade de famílias sem-teto tende a cair 8% , revela artigo do Estadão, publicado em 25 de dezembro último.

O jornal também diz que Tóquio é uma das poucas metrópoles onde quase não há moradores de rua, “porque o custo da moradia no Japão não é caro”, indica o artigo.

Mas o aumento da quantidade de pessoas nas ruas, não se resume apenas ao custo dos aluguéis.

A desintegração de laços comunitários ou familiares, ocasionados pelo alcoolismo e consumo de drogas, em especial o crack, colaboram para o aumento desse resultado.

Programas sociais como o Bolsa Família do governo federal, o Recomeço para tratamento dos usuários de crack, do governo estadual, e o Vila Reencontro da prefeitura de São Paulo, que oferece moradias temporárias de 18 m² a famílias em desabrigo, não estão sendo suficientes para resolver a questão que é ainda mais ampla.

Ao que parece o assunto já não é mais uma questão a ser resolvida somente pelas autoridades, ela está relacionada ao comportamento do ser humano, a população precisa ficar mais atenta ao que acontece dentro de sua casa.

Cada vez mais pessoas não conseguem suportar as pressões e as exigências da sociedade atual, especialmente se viverem em um lar desestruturado.

Sem laços afetivos, o ambiente dentro de casa se torna de completa solidão e a fuga para o álcool, as drogas e depois as ruas é questão de curto prazo.

A Cracolândia está cheia de pessoas assim. O que fazer?

Uma das soluções pode ser o despertar da religiosidade, ação que funciona em alguns casos, noutros não.

Não adianta abrir e ler a Bíblia na frente deles, ninguém irá prestar atenção.

Nesse aspecto entra a atividade do padre Júlio Lancellotti que coordena desde 1986, a Pastoral do Povo de Rua.

Nascido em 1948, foi ordenado padre somente em 1985, aos 37 anos. Antes trabalhou de enfermeiro na Santa Casa de Bragança Paulista, cursou pedagogia e só depois estudou teologia.

Lidar com pessoas que vivem nas ruas não é tarefa fácil e o modo dele se expressar é diferente de outros padres.

Ele também não se preocupa em retirar pessoas das ruas: “Se olharmos com atenção, conversarmos um pouco, sentiremos que são seres humanos onde também bate um coração”, diz.

Também dá respostas agressivas do tipo: “Com uma mão a gente dá o pão e com a outra a gente luta”.

Costuma se envolver em política: “Deus não está acima de todos, ele está no meio de nós”.

O padre Júlio alega que sequer faz parte hoje das entidades citadas pelo vereador autor do requerimento.

Suas atividades na pastoral, segundo ele, são feitas com recursos da Arquidiocese e por meio de doações da comunidade na Paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, onde é o pároco. 

Júlio Lancellotti é considerado “esquerdista” pelos opositores, mas seu trabalho é importante e só ele o realiza na cidade de São Paulo.

Acredito que os vereadores que pediram a retirada de seus nomes da lista para a abertura da CPI pensam da mesma forma.

O ano eleitoral está só começando.

 

Fontes:

O Estado de São Paulo - Os mais excluídos dos excluídosOs mais excluídos dos excluídos - Estadão (estadao.com.br)

Prefeitura de São Paulo - Programa Vila Reencontro: Prefeitura inaugura no Pari a maior Vila Reencontro da cidade, com 100 moradias para abrigar famílias em situação de rua e capacidade para 400 pessoas — Prefeitura (capital.sp.gov.br)

Programa RecomeçoPrograma Recomeço - Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo

Portal G1: Cidade de SP registra mais de 53 mil moradores em situação de rua, alta de 1,8% em março, segundo levantamento | São Paulo | G1 (globo.com)

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Muito triste, Geraldo Parabéns pela matéria

    ResponderExcluir
  3. Várias coisas: 1 - a foto do Pátio do Colégio é impressionante! 2 - Tem uma corja fascista na Câmara que tem a petulância de falar mal do padre Julio Lancellotti. Que gente horrorosa! 3 - Muito importante o viés desse seu texto, priorizando a atenção nas famílias. Vou falar uma coisa dura, que me toca diretamente: meu pai foi uma pessoa totalmente ausente na família. Não vou me aprofundar nos detalhes, o que pega é o seguinte: hoje ele tem 91 anos, está lucidíssimo, e recebe uma aposentadoria de 1 s.m. Se ele tivesse filhos que fossem "retribuir" o que ele deu na infância dele, ou seja, nada, onde ele estaria? Poderia estar morando na rua. Essa é uma realidade de muitos idosos que vemos nessa situação. Deixados pela família, pelas mais diversas razões. Enfim... 55 mil pessoas morando na rua são um Morumbi inteiro de pessoas nas ruas, sem eira nem beira. O Estado, para enfrentar isso, precisa ENTENDER profundamente o problema. Tratar isso leviana ou superficialmente, não vai resolver o problema nunca.

    ResponderExcluir
  4. Excelente matéria, Geraldo. Muito boa!!!

    ResponderExcluir
  5. Desculpe só ler agora a respeito dos moradores de rua. Uma certeza eu tenho por ter vivenciado ,por amigas, seus filhos na Cracolândia...nada conseguiu tira-los de lá. O vício tomou conta de tal forma, que eles querem aquela vida. Nem a mãe implorando para ele vir embora não resolveu. E nasceram de boas famílias onde outros irmãos ou irmãs não tiveram este problema.....e outros ,por conta de vício em álcool, sem drogas, não querem tomar banho e seguir regras dos albergues...preferem ficar só alcoolizados e viver com pedido de esmola pra comer de vez em quando. Comentário de Yara Cristina Alvarez de Almeida - via Messenger

    ResponderExcluir