terça-feira, 9 de maio de 2023

O dia em que beijei Rita Lee por tabela

Diferente de Caetano Veloso, alguma coisa acontece no meu coração, só quando cruzo a Rui Barbosa com a Conselheiro Carrão.

Na esquina dessas duas ruas do Bixiga, funcionava o Teatro Aquarius onde vi pela primeira vez Rita Lee. 

O show se chamava Fruto Proibido, mesmo nome do álbum lançado pela cantora na gravadora Som Livre, com direito a comerciais na Rede Globo de Televisão, algo importantíssimo, em 1975.

Esse disco se constitui em um capítulo à parte dentro da história do rock nacional. 

No show, acompanhada pela excelente banda Tutti-Frutti, Rita Lee vestida de branco, era como se fosse uma deusa diante de um público embasbacado. 

Sua presença no palco impressionava, ninguém conseguia tirar os olhos dela.

Voltei para casa e naquela noite nem dormi direito, fiquei apaixonado pela cantora, à espera de que em algum momento pudesse vê-la novamente. Na escola procurava no rosto das meninas, alguma que se parecesse com a Rita Lee.

Ainda menor de idade, fiquei sabendo que a minha musa se apresentaria em uma associação de São Bernardo do Campo e para lá segui de busão, acompanhado de um amigo, hoje jornalista, José Antonio Leite, até o ABC.



Era uma quinta-feira e fazia frio, o público foi pequeno, mas quem compareceu pôde ficar bem pertinho de Rita Lee para ouvi-la cantar Ovelha Negra e outros hits daquele álbum inesquecível para os fãs.

Durante a apresentação, deram a ela uma garrafa de água mineral que após o término do show ficou esquecida sobre o palco.

Não tive dúvida, segurei comigo a garrafa de vidro vazia, e aproximei minha boca sobre o gargalho para sentir o gosto e o perfume do batom que Rita Lee usou naquela noite.

Por ser adolescente, contei depois para os amigos que cheguei a beijá-la por tabela, graças à garrafa autografada pela cantora.


A assinatura deixada para mim, por Rita Lee, foi semelhante a essa que aparece no outdoor acima. Quando cheguei em casa, cobri o gargalo com papel alumínio e a garrafa permaneceu anos e anos sobre um armário onde guardava meus discos, depois desapareceu.

Quando recebi a notícia de sua partida, por volta do meio-dia deste 9 de maio de 2023, as lembranças de Rita Lee vieram à tona e me fizeram chorar em um canto, escondido.

Para que a tarde não ficasse tão triste, resolvi escrever essas palavras de amor à minha primeira musa inspiradora.

Assim como Elvis, Rita Lee não morrerá jamais, guardarei para sempre em minhas lembranças o sabor e o perfume dos seus lábios.


“...como um mutante, no fundo sempre sozinho, em busca do meu caminho, ai de mim que sou assim, romântico...”

 

 

 

12 comentários:

  1. Que declaração de amor Gerald!

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  2. Fui uma "ovelha negra na família" , por causa de Rita Lee. Ainda sei , muito trechos de músicas de cor . Siga , em Paz .

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  3. Parabéns Geraldo pela história e pelo texto. Heitor Oliveira.

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  4. Que linda história!!! 👏👏👏😍

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  5. Rita Lee.
    Ninguém pode imaginar que dois artistas de estilos tão diversos, podem ser fãs do trabalho um do outro. Rita e eu fomos assim, e declaradamente. E todas as vezes que cruzamos nossos caminhos, aí pelos recantos desse imenso país, nosso cumprimento era sempre um forte e fraternal abraço inesquecível. Rita Lee: Genial artista. Inteligência. Simplicidade. Luiz Ayrão via WhatsApp.

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  6. História bonita, mas se você era adolescente em 1975, então você era gato e não estou falando de beleza ..kkkkk

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  7. Simplesmente, sensacional!

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  8. Festa no céu e nos Jardins da Babilônia. Para os fãs, "assim como eu, uma pessoa comum", Rita Lee não morrerá jamais. Viva o Rock!

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