terça-feira, 14 de março de 2023

Mesmo com tantas qualidades Ruy Barbosa não conseguiu se eleger presidente da República

Durante a Segunda Conferência Internacional pela Paz, em Haia, na Holanda - 1907, o representante brasileiro ao ser chamado para discursar, despertou curiosidade aos presentes por causa da baixa estatura.

Aquele homenzinho com pouco mais de 1 metro e meio precisou passar por duas grandes portas de um corredor que levava ao imenso salão.

Historiadores apontam que alguém na plateia teria dito: “Para que portas grandes para um homem tão pequeno?”

Ao final do discurso ao passar de volta pelas portas, a mesma pessoa comentou: “Essas portas são pequenas para um homem tão grande!”

Quem entrou pequeno e saiu grande foi Ruy Barbosa, cuja participação em Haia mexeu com a política internacional da época como veremos adiante.

Este é só o começo da segunda parte de nossa homenagem a Ruy Barbosa, um dos mais ilustres brasileiros em todos os tempos, que faleceu há 100 anos.

Conforme explicamos na postagem anterior, quando ministro da Fazenda, Ruy implantou um plano econômico chamado “Encilhamento” de resultados catastróficos para o país que pela primeira vez precisou conviver com os altos índices de inflação.

Ao deixar o cargo, retornou ao parlamento e em seguida pediu licença para viajar à Europa.

Em Paris encontrou-se com D Pedro II a quem disse: “Majestade perdoe-me, eu não sabia que a República era assim!”

Mesmo na Europa, em 1897, lançou-se candidato à sucessão de Prudente de Moraes, a Constituição daquele tempo permitia esse tipo de candidatura.

Não foi eleito, ficou na quarta colocação da eleição vencida por Campos Sales.


Para equilibrar a economia devastada pelo plano do encilhamento, o novo presidente obteve um empréstimo de 10 milhões de libras esterlinas e colocou o país nos eixos.

De volta ao Brasil, Ruy Barbosa se elegeu senador em 1900, cargo que ocupou durante 23 anos.

Foi o senador mais vezes reeleito na história do Brasil, recorde alcançado muitos anos depois por José Sarney.


Mas eis que, em 1907, acontece a Segunda Conferência pela Paz, em Haia, cujo objetivo era criar uma liga de nações para julgar crimes de guerra.

Convocado pelo ministro das Relações Exteriores, o Barão do Rio Branco, Ruy Barbosa foi representar o Brasil neste encontro.

Seu discurso surpreendeu positivamente porque trouxe novidades ao pensamento político e intelectual da época.

Ele defendeu a igualdade de soberania entre as nações.

Pode parecer estranho, mas esse tipo ideia de pregar a igualdade democrática foi algo considerado inovador.

Entendia-se que apenas os países com maior poder armamentista eram capazes de exercer o poder de decisão.

Em seu discurso Ruy Barbosa deixou claro que se apenas as potências bélicas pudessem decidir os destinos dos demais países, haveria mais conflitos do que a paz que a conferência almejava.

Tamanha eloquência impressionou as delegações estrangeiras e o Brasil, pela primeira vez, se fez presente no palco das decisões.

Elogiado por todos os representantes, Ruy Barbosa ganhou as páginas dos noticiários internacionais que fizeram dele, o brasileiro mais conhecido do mundo em sua época.

De volta ao Brasil, o Barão do Rio Branco, fez questão de elogiá-lo publicamente. Partiu dele o termo “Águia de Haia” para lembrar a astúcia do grande orador diante de uma plateia tão seleta.

Quando o marechal Hermes da Fonseca decidiu sair candidato à Presidência da República, Ruy Barbosa ocupou a tribuna do Senado para dizer que “os militares não devem se sobrepor aos poderes políticos da nação, tarefa essa que cabe aos civis”.

Este pronunciamento serviu de início para a sua campanha eleitoral à qual deu o nome de civilista para enfrentar os militaristas com vistas à chefia nação. 

Foi ele o pioneiro a viajar pelo Brasil em campanha eleitoral, como mostra a charge, para fazer discursos e comícios.

Mesmo assim,  Hermes da Fonseca sagrou-se vencedor, pois naquele tempo o voto apesar de colocado na urna, tinha que ser assinado pelo eleitor.

Depois de aberto dava margem para os donos dos currais eleitorais, exercerem o chamado voto de cabresto. 

Quem votasse contra os interesses dos coronéis e demais líderes das várias regiões do país, corria o risco de ser descoberto.

Ainda assim Ruy Barbosa insistiu, enfrentou Venceslau Brás na eleição de 1914 e depois Epitácio Pessoa, em 1919 e perdeu nessas duas ocasiões.

O mais desalentador é que Epitácio Pessoa, nem campanha fez por estar no exterior, mas ganhou pela força do cabresto.

Ao todo como candidato, Ruy Barbosa disputou quatro eleições presidenciais e perdeu as quatro, igual a Ciro Gomes um século depois. 

Em julho de 1922, o “Águia de Haia”, foi internado para tratar um edema pulmonar e seus problemas de saúde foram se agravando pouco a pouco.

Meses depois da internação ele próprio, ciente da situação, disse ao médico: “Doutor, não há mais nada a fazer”.

Ruy Barbosa morreu em 1º de março de 1923, antes de completar 74 anos. Foi sepultado no mausoléu da família, no cemitério São João Batista, do Rio de Janeiro.


Em 1949, durante as comemorações do centenário do seu nascimento, os restos mortais foram transportados para um memorial construído em sua homenagem em sua cidade natal,  Salvador – Bahia.

Dos discursos de Ruy Barbosa ficaram muitas frases célebres:

- “Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado...”

- “A palavra é um instrumento irresistível na conquista da liberdade.”

- “A justiça pode irritar-se porque é precária, mas a verdade não se impacienta, porque é eterna.”

A mais célebre de suas frases:

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

Como é bom saber que Ruy Barbosa existiu e foi brasileiro




Fontes:

Portais: Senado Federal do Brasil, Casa Rui Barbosa, Rio de Janeiro Aqui

Paulo Rezzutti - A História Não Contada - YouTube

10 comentários:

  1. Muito bom! O grande Águia de Haia!

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  2. Muito bom saber um pouco mais desse grande diplomata brasileiro! Obrigado!🙏🏻🙌🏻👏🏻

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  3. Fiquei emocionada em saber o quão sábio era e foi Rui Barbosa, precisamos mais de homens assim 👏👏👏

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  4. Excelente texto. Parabéns

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  5. Ótima matéria. Não conhecia muitos detalhes. Heitor Oliveira

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  6. Ótimo , importante divulgar a história de brasileiros célebres..

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  7. Maravilha poder conhecer e difundir história de verdadeiros políticos em uma época em que vivemos tão descrentes de nosso país. Obrigada pelo texto

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  8. O nosso querido país hoje vive de histórias. Não temos mais homens de fibra no comando da nação ,somente ladrões.

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