quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

O carnaval sempre se modifica e sua história também

A palavra carnaval vem do latim, “carnevale” e até metade do século 19 essa denominação era desconhecida pelos brasileiros.

O que havia entre nós era o entrudo, festa popular de origem religiosa surgida em Portugal que permitia ao povo se esbaldar quatro dias antes da quaresma.

Essa brincadeira acontecia de diferentes maneiras, uma delas era dar banhos de surpresa nos transeuntes com muita água escondida em algum ponto para molhar os mais distraídos.

Essa tradição manteve-se em algumas partes do Brasil até a década de 1960, para a alegria das crianças que faziam guerras de água utilizando seringas de plástico vendidas nas feiras livres.

Dizia-se que Dom Pedro II quando jovem se divertia durante o entrudo, atirando às escondidas limõezinhos de cheiro.

A palavra carnaval passou a ser usada no Brasil ainda no século 19, quando integrantes da corte descobriram o carnaval de Veneza e passaram a imitá-lo com o uso de máscaras e fantasias.

Surgiram assim os primeiros bailes de carnaval da elite carioca e com eles as tradições de Veneza, do Pierrot, Arlequim e Colombina.

O samba não fazia parte dos eventos promovidos pelos endinheirados, a música primordial era o Can Can trazido da belle-epóque francesa.

Os negros da Bahia e do Rio de Janeiro foram os introdutores do samba no carnaval feito nas ruas, reprimidos claro, pela polícia.

“Pelo Telefone”, composição de Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, é considerado o primeiro samba gravado no Brasil, conforme a maioria dos pesquisadores musicais.

Essa música puxou a fila das marchinhas carnavalescas cantadas nos bailes promovidos pelos clubes de todo o Brasil durante décadas.

A letra original nas vozes de Bahiano e Coro, foi lançada em disco pela Casa Edson em 1916, sucesso no carnaval do ano seguinte e diz assim:

“O chefe da folia, pelo telefone manda me avisar, que com alegria não se questione para se brindar...”

Mas a malandragem do Rio de Janeiro parodiou a letra para criticar a polícia que reprimia o carnaval, mas permitia a jogatina.

“O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar, que na Carioca tem uma roleta para se jogar...”

Martinho da Vila, regravou “Pelo Telefone” com a letra no formato de paródia e a música fez sucesso novamente.

Em São Paulo, um negro chamado Dionísio Barbosa, fundou por volta de 1910, a primeira banda de carnaval da cidade.

O Grupo Barra Funda evocava o choro com pandeiro e cavaquinho como expressão musical carnavalesca.

Deste grupo surgiram as raízes que deram vida aos primeiros cordões carnavalescos que passaram a ser a marca registrada do samba paulista.

Mas os próprios sambistas de São Paulo deram fim aos cordões para transformá-los em escolas de samba e assim, segundo eles, tornar o carnaval de São Paulo mais animado.

As primeiras escolas de samba foram a Lavapés, Camisa Verde e Branco, a Vai-Vai do Bixiga e Nenê de Vila Matilde.

Atualmente os desfiles das Escolas de Samba de São Paulo possuem identidade própria.

Bairrista que sou, considero os desfiles do sambódromo do Anhembi melhores que os do Rio de Janeiro, ao meu ver, técnicos demais.

A São Paulo do século 21 trouxe de volta o seu carnaval de rua que fez tradição nas décadas de 1940 e 1950.

Este ano no primeiro dia de desfiles do pré-carnaval, a cidade teve cerca de 140 cortejos de blocos nas ruas espalhados por várias regiões da Pauliceia Desvairada novamente, graças à alegria dos foliões e foliãs.

Entre os blocos que mais arrebanharam pessoas na “Sampa do Samba”, está o ‘Acadêmicos do Baixo Augusta’, cuja Rainha de Bateria é a atriz Alessandra Negrini.

Ao todo sairão mais de 500 blocos até o final dos “Festejos de Momo” para a alegria dos que gostam da folia e para endossar as reclamações dos chatos de plantão.

De minha parte recomendo beber com moderação e, se beber, não dirija. Sendo assim: Viva o carnaval!

Ouça Pelo Telefone em sua versão original:



Ouça Pelo Telefone com Martinho da Vila:



 Fontes: Revista Nosso Século, Enciclopédia da Música Popular Brasileira – Editora Abril/1982 Livro - Sua Excelência o Samba, Henrique L. Alves – 2ª Edição, São Paulo, Editora Símbolo, 1976. Portais: G1 e Estadão

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Eu não sabia , vc é um gênio Sou sua fã

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  2. Boa Gera!!!!! Não sabia nada disso!!!!!!

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  3. Muito bom, não sabia que era essa a letra original de : Pelo Telefone. Gilberto Gil fez uma versão mais recente para ela: Pela Internet.

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  4. Brilhantes considerações.... excelente reportagem....

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