quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Justiça suspende falência da Livraria Cultura, Marcos Rey sorri lá do céu

A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial de São Paulo suspendeu a falência da Livraria Cultura que havia sido decretada, em 9 de fevereiro, por causa das dívidas adquiridas e não quitadas pela empresa.

Queda assustadora nas vendas de livros, especialmente a partir da pandemia do coronavírus e, a diminuição até mesmo da frequência de leitores em todas as lojas, colocaram a livraria em recuperação judicial.

A decisão que dá uma nova chance à Livraria Cultura aconteceu na quinta-feira que antecedeu o carnaval, 16 de fevereiro. 

juiz relator J. B. Franco de Godoi, deferiu o pedido e decretou que se faça um “reexame” das provas que apontaram a falência definitiva.

A crise financeira da livraria continua, é verdade, mas as lojas reabriram na tentativa de se salvar o patrimônio ainda existente e se resolver as pendências, inclusive, de ordem trabalhista. 

“O momento agora é de focar nos projetos que estamos desempenhando em busca da recuperação e expansão da empresa”, disse a Livraria Cultura, em nota, celebrando a decisão.

Nossa torcida é para que tudo se resolva da melhor forma possível. Seu proprietário, Pedro Herz, foi parceiro em vários projetos levados adiante na época dos nossos programas apresentados na Rádio Eldorado.


“Cultura você encontra nos livros e livros você encontra na Cultura”, diziam os anúncios comerciais veiculados durante os intervalos comerciais da emissora.

Pedro Herz disponibilizou espaço em uma das vitrines de sua primeira loja, no Conjunto Nacional, para mostrar ao público o nosso primeiro livro São Paulo de Todos os Tempos. 

O resultado foi amplamente satisfatório, inclusive fizemos outros lançamentos lá.


Foi em frente à Livraria Cultura que conheci o escritor, cronista e colunista nos bons tempos da Revista Veja, Marcos Rey.

Ele comparecia quase todos os sábados pela manhã na livraria, para um café entre amigos dos quais destaco, o jornalista-poeta Assis Ângelo, pesquisador musical e divulgador das coisas do Nordeste, além do saudoso radialista Moraes Sarmento (1922-1998), entre outros.

Marcos Rey adorava ouvir rádio e, ao me ver, sempre pedia um relato das coisas que tinha visto durante a semana a bordo do “meu” helicóptero.

Inspirado no universo radiofônico, Marcos Rey já havia escrito: “Um cadáver ouve rádio”, trama policial que gira em torno da busca do assassino de um sanfoneiro e os motivos de haver um rádio ligado na cena do crime.

Ao vê-lo pela primeira vez, notei que tinha deformidades nas mãos, mas nem quis perguntar a respeito.


Seu nome de batismo é Edmundo Donato, nasceu no Brás, em 1925, e foi criado nos Campos Elísios, época em que o bairro era considerado nobre.

Em 1999, após voltar de uma viagem à Europa, Rey como o chamávamos, foi internado para uma cirurgia, não resistiu às complicações de um câncer já em fase adiantada e morreu aos 74 anos de idade. 

Deixou mais de 30 livros publicados, além de obras para o cinema e televisão.

Sua esposa, Palma Bevilácqua Donato, com quem ficara casado durante quase 40 anos, cumpriu após seu falecimento dois desejos do escritor: ser cremado e que suas cinzas fossem espalhadas em um lugar que houvesse “pedra e concreto”.

Assim, Palma sobrevoou com um helicóptero o centro velho de São Paulo e do alto lançou as cinzas do escritor sobre a cidade que sempre foi a grande personagem de toda a sua obra.

Foi quando fiquei sabendo que na infância, Edmundo Donato, foi portador do Mal de Hansen e naquele tempo as pessoas portadoras da lepra eram levadas para locais de isolamento e afastadas de qualquer convívio social.

A família escondeu-o por três anos, até ser descoberto e levado amarrado para o Asilo-Colônia Santo Ângelo, em Mogi das Cruzes.

Quando conseguiu sua liberdade, seguiu para o Rio de Janeiro e mudou de nome, passando a se chamar Marcos Rey, para não ser perseguido.

Havia preconceito contra os portadores dessa doença, mesmo depois de curados, fato por sinal, que acontece até hoje.

Esse segredo foi guardado durante toda a sua vida, mas autorizou que a esposa o revelasse após sua morte.

Do céu, Marcos Rey, mantém o sorriso simpático e comemora lá das alturas, onde nenhum helicóptero consegue chegar, o prosseguimento das atividades da Livraria Cultura.

Uma biblioteca municipal com seu nome, funciona no Jardim Umarizal, região do Campo Limpo, na capital paulista.

Destinada ao público infanto-juvenil, conta com aproximadamente 22 mil títulos entre livros de literatura impressos e em multimídia.

 

Fontes: Portais Publish News e Estadão, Instituto Pinheiro e Estante Virtual

2 comentários:

  1. Pude conhecer mais sobre esta conceituada Livraria, que também gostava de visita-la e comprar livros.

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  2. Claudio P. Freire via Facebook:
    A história da Livraria Cultura em São Paulo e no Brasil acabou!!! Aguarde os novos capítulos. Têm um fila de quebradeiras pela frente, aguardem. O mercado Editorial livreiro depois da pirataria tecnológica está morto... Só não vê quem não quer!!! Quem vai salvar o livro, as gráficas, as Editoras, as livrarias, os vendedores de livros e tudo que envolve o mercado? Bom dia...

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