segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

São Paulo - 469 anos: Comemorar o quê?

Eis que chega mais um 25 de janeiro, aniversário de São Paulo - 469 anos.

Graças a Deus seguimos vivos mesmo diante da pandemia, da desgastante campanha eleitoral mais polarizada da história, apesar de ter assistido a eliminação do Brasil, em mais uma Copa do Mundo e de assistir as maldades carregadas de ódio e rancor distribuídas através das "redes insociais".


Nem tudo o que se lê no WhatsApp é confiável, quando a notícia é preparada por um profissional, são citados os nomes dos entrevistados ou das fontes de informação. A mídia de verdade possui nome, endereço e CNPJ.

“Para se noticiar, é preciso antes checar a informação”, dizia exaustivamente, Fernando Vieira de Mello (1929-2001) diretor de jornalismo durante décadas da saudosa rádio Jovem Pan nos tempos em que a emissora apresentava a Sinfonia Paulistânia, de Billy Blanco, como fundo musical de seu noticiário.


O aniversário de São Paulo este ano serve sim como reflexão: Existem ainda motivos para se festejar esta data? Os costumes se modificam, isto é natural. Só que uma parte da população se fechou nos apartamentos e está individualista demais.

A sociedade atual coloca os filhos nas creches, os pais nos asilos e depois desfila pelas calçadas para exibir os cães de estimação. Tomem cuidado; o que se planta, é aquilo que se colhe depois. 

Nossa sorte é que as boas sementes lançadas no passado ainda frutificam no meio empresarial graças às oportunidades que sempre surgem de se alcançar um bom emprego. As melhores escolas, hospitais e universidades permanecem em São Paulo e por isso as pessoas vão ficando.

Mas durante o ano que passou luzes amarelas de alerta se acenderam apontando para o ressurgimento de antigos preconceitos.


As contradições aumentaram e a convivência de dois Brasis dentro de uma só metrópole está cada vez mais difícil. Basta ver a Favela Paraisópolis e o Portal do Morumbi.

O velho centro se transformou de vez em refúgio das famílias sem moradia e dos frequentadores da cracolândia que envergonham a todos nós.

Ao mesmo tempo, a Nova Faria Lima, se apresenta como símbolo da modernidade do mercado de capitais. 

São Paulo é a filha mais rica e a mais pobre de toda a nação. Basta circular pela Oscar Freire, fazer um rolê no Shopping JK e depois seguir em uma condução lotada até o Jardim Pantanal. Descobre-se neste trajeto, um resumo do que é o Brasil em apenas um dia.

Certa vez alguém me disse, acho que foi Lourenço Diaféria (1933-2008), o mais apaixonado cronista paulistano que conheci:

“Para se entender São Paulo, é preciso lembrar do apóstolo que deu o nome para esta cidade. Ao sentir o que Jesus queria dele, viu cair escamas de seus olhos...” Está em Atos 9-18.



“... Para entender São Paulo, nós também precisaremos perder as escamas dos nossos olhos.”

Pena que a frase foi dita pelo cronista já faz algum tempo, quando ainda havia esperanças de se ter um povo mais solidário.

Já houve solidariedade humana em São Paulo, mas me parece que ela anda escondida. Por isso, a cidade está carente de bons olhos. 

Quase ninguém mais observa São Paulo com o olhar do coração, como fazia o mestre Lourenço Diaféria.



Este ano não vejo motivos para comemorar, mesmo assim; Feliz Aniversário, sofrida cidade de São Paulo!

 

 

 

5 comentários:

  1. Faltou acrescentar: Diferente dos paulistas de 1932, a população atual se esqueceu do significado da palavra democracia.

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  2. Passados 2 anos da atual gestão municipal, deu pra ver: não há nenhuma esperança de mudança no vetor dos principais dramas paulistanos. Daqui a 2 anos, se dermos muita sorte, ou se fizermos por merecer, teremos um governante mais esclarecido, que vai empossar outras pessoas esclarecidas para cargos importantes de planejamento e gestão, e então a cidade poderá gradualmente ir melhorando.

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  3. Excelente crônica do Geraldo Nunes

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  4. Quando prefeito, Figueiredo Ferraz, progessor de engenharia na USP disse que São Paulo precisava parar de crescer. Estava certo mas não foi ouvido. Não dá para apagar o erro, mas é preciso continuar com sua missão, de lutar por dias melhores. Já que não parou de crescer, não pode parar de tentar melhorar, mudar, voltar a ser como no passado. Vim com 17, estou há 72 e não vou desistir, por mim, por meus netos... José Maria de Aquino, no Facebook.

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  5. Marco Antonio Ferreroni: Meu Pai conta que estava na última Missa da Igreja Santa Generosa, antes da demolição para construção da 23 de Maio.
    O então Prefeito, Faria Lima, prometeu que a PMSP ajudaria o Paróco, Pe. José, na reconstrução. Pelo que consta, não houve ajuda.
    Fortíssimo abraço.

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