domingo, 26 de outubro de 2025

Relatório aponta violações na liberdade religiosa de 198 países

Recebi de um colega professor de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica – PUC, o Relatório Liberdade Religiosa no Mundo – 2025.

Esse levantamento é realizado a cada dois anos e a versão atual foi apresentada em Roma no dia 15 de outubro.

Os organizadores integram a Aid to the Church in Need – ACN, sigla da fundação de origem católica cujo nome traduzido para o português significa; “Ajuda à Igreja que Sofre”.

Esta é a 17ª edição do relatório que avalia atuações, resultados e dificuldades que passam os religiosos em 196 países. 

No Brasil se fala muito em “intolerância” religiosa, mas esta palavra não é citada em nenhum momento, o relatório de 82 páginas aponta casos em que houve cerceamento ou ataques à liberdade religiosa.

Chama a atenção o fato de até mesmo países democráticos e de altos índices na qualidade de ensino em todos os níveis registrarem atos de violência contra religiões ou religiosos.

No Canadá, de acordo com notícias da CBC News, pelo menos 33 igrejas cristãs foram destruídas por incêndios provocados entre maio de 2021 e dezembro de 2023.

Ações semelhantes ocorreram também na Espanha, Itália, Estados Unidos e Croácia, incluindo profanações em locais de culto.

O estudo aponta que tais atitudes se dão, na maioria dos casos, por hostilidade ideológica, ativismo militante ou extremismo antirreligioso.

No Oriente Médio, antes da Síria mergulhar em uma guerra civil de 13 anos, a presença de cristãos representava cerca de 10% da população.

Boa parte se refugiou em outros países ou acabou morrendo durante o conflito e hoje os cristãos da Síria não passam de 2% a 3% dos habitantes.

No Iraque a comunidade cristã, segundo o documento, foi dizimada após a ação internacional de 2003 e passou de 1,5 milhão de fiéis para apenas 150 a 250 mil nos dias atuais.

Em outros países de regimes autoritários como na África, Ásia e América Latina, a narrativa oficial costuma retratar a Igreja como inimiga do Estado e da soberania.

O trabalho pastoral nesses países é puramente cerimonial, na Nicarágua, Venezuela e em Cuba, por exemplo, procissões ou qualquer outro tipo de ato litúrgico nas ruas são proibidos.

Por outro lado, no Líbano, não há uma religião oficial porque o país reconhece de forma democrática, a presença de 18 comunidades religiosas quem convivem de forma harmoniosa.

Há muçulmanos, cristãos católicos, armênios e ortodoxos, além de drusos e judeus e não ocorrem dissensões entre eles.

No cerne dessa coexistência pacífica funcionam escolas cristãs que oferecem espaços seguros para a aprendizagem partilhada com outras religiões.

Tais liberdades permitem o intercâmbio cultural e a amizade inter-religiosa. Exemplos assim, como estes do Líbano, servem para mostrar que a causa missionária promove efeitos positivos.

Ao final do Relatório Liberdade Religiosa no Mundo – 2025 a conclusão que se chega é a seguinte:

“Não poderá haver paz no mundo se não houver liberdade religiosa, liberdade de pensamento, liberdade de expressão e respeito pelas opiniões dos outros”.



Fonte: Relatório publicado pela Fundação Pontifícia ACN – “Ajuda à Igreja que Sofre”. O relatório de 2025 é a 17ª edição do Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo da Fundação Pontifícia ACN, produzido de dois em dois anos. É publicado em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português.

Fotos: ACN e Vatican News

Agradecimentos ao jornalista Domingos Zamagna

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Confirmado: Casa histórica de Fulvio Pennacchi no Jardim Europa foi demolida

Ninguém se mexeu para impedir. A casa localizada em um dos endereços mais significativos para a história da arte moderna, surgida na São Paulo do século 20, veio abaixo.

A confirmação chegou através do colega Douglas Nascimento, jornalista e memorialista, dono do site São Paulo Antiga.

As fotos abaixo viraram documentos, servem agora como lembranças de uma linda casa que já não existe mais.

Quem passava em frente não se dava conta da beleza interna da casa onde o artista plástico Fulvio Pennacchi (1905–1992) viveu por 44 anos com sua esposa Filomena Matarazzo (1918-2018) e os oito filhos do casal.

Situada na Rua Espanha, 312 no Jardim Europa, a residência tinha nas janelas afrescos que juntamente a uma parte das obras de arte, foram removidos para outros museus, mas as pinturas moldadas internamente se perderam. 

Ficaram as fotos para provar que o lugar de fato existiu.

Fulvio Pennacchi nasceu na Itália, viveu em São Paulo e fez parte do Grupo Santa Helena, conhecido por se reunir no edifício que levava este nome, localizado na Praça da Sé.

Do grupo fizeram parte pintores como Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, Alfredo Rizzotti, Mario Zanini, Humberto Rosa, Clovis Graciano, entre outros.

A casa de Fulvio Pennacchi serviu de lar e local de trabalho ao artista plástico a partir de 1948 e assim seguiu até o dia de sua morte em 5 de outubro de 1992.


Sua pintura sensível e pessoal passou a decorar algumas das paredes da casa, dando ao lugar um modo todo especial até mesmo na cozinha.

Tudo isso se perdeu porque nada foi feito em defesa. Não houve ações do Ministério Público ou dos órgãos de preservação, todos ficaram quietos.

Depois do falecimento de Fulvio, sua esposa Filomena continuou vivendo na casa até 2018, quando partiu aos 100 anos e meio de idade.

Desde então os filhos arcaram com a manutenção do imóvel de custo elevado pela localização em um bairro nobre. 

A residência seguiu aberta ao público por meio de visitas monitoradas e se buscou o apoio de políticos das áreas federal, estadual e municipal.

Instituições culturais e empresariais também foram procuradas com o objetivo de preservação, mas ninguém deu apoio.

O descaso com o patrimônio histórico e cultural entre o empresariado paulistano é de assustar.

No passado não era assim, basta lembrar figuras como Paulo Prado, Freitas Valle e Ciccillo Matarazzo, entre outros.

Órgãos públicos como o Conpresp, em nível municipal e o Condephaat, sob a gestão do governo estadual, não moveram uma palha no sentido de preservar o imóvel.


Até mesmo professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU/USP ficaram calados, não houve nenhuma palavra em proteção, infelizmente. Só não se explica o porquê.

Nem o vereador Nabil Bonduki que é professor e doutor em estruturas urbanas, sempre atento a essas questões, se pronunciou em defesa do legado de Fulvio Pennacchi.

O que está por trás de tudo isso? Nenhuma porta se abriu e quem perde mais uma vez, é a história, a cultura e a memória do povo paulista de tantas tradições.

Como diz Caetano Veloso em Sampa, “a força da grana que ergue e destrói coisas belas”.


Fontes: Casa Museu Fulvio Pennacchi/Wikipedia/São Paulo Antiga – Douglas Nascimento

Fotos de como era a casa de Fulvio Pennacchi entre 2016 e 2022 tiradas por Andrea Matarazzo

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Prefeitura planeja bonde fixo para o Viaduto do Chá

O Viaduto do Chá está com problemas de infiltração das águas de chuvas em suas estruturas e precisa passar por um processo de recuperação e impermeabilização.

A prefeitura pretende iniciar os trabalhos entre fevereiro e março de 2026 e a entrega completa está prevista para acontecer em 18 meses ao custo de R$ 70 milhões.

A licitação será lançada nos próximos dias e faz parte de um projeto que prevê, além da reestruturação completa, a implantação de um quiosque no formato de um bonde para informações turísticas.



As calçadas serão remodeladas, o mosaico português será substituído pelo granito e as cores atuais serão mantidas.

O bonde será colocado no local onde hoje está uma banca de jornais, em frente ao Shopping Center Light.

Ainda ninguém sabe para onde irá a banca, mas em frente será feito um recuo para embarque e desembarque de passageiros, igual ao da entrada na sede da Prefeitura.



A questão é que a proposta não prevê fazer do quiosque uma réplica, ainda que em tamanho reduzido, de algum dos modelos de bondes que durante décadas circularam em São Paulo ao longo do século 20.




Um dos primeiros modelos de bondes elétricos é este todo aberto. Não havia pontos de parada, o passageiro tinha que correr e se pendurar nele andando, como mostra a foto.

Essa estampa é da década de 1920, mas convenhamos, este modelo é feio para os padrões atuais, não serve de inspiração para o quiosque.



Este outro bonde também aberto circulou até por volta de 1965, cheguei a vê-lo nas ruas quando era criancinha.



Esta fotografia é de 1963 onde aparece o bonde camarão que fazia ponto final na Vila Maria, o modelo ganhou este apelido por causa da cor vermelha.


Já este outro é o Centex, de fabricação norte-americana que passou a circular em São Paulo na década de 1940.

A população passou a chamá-lo de Gilda em homenagem à atriz Rita Hailworth, estrela de um filme que levava este nome.

Ao nosso ver esse é o formato mais adequado para a réplica fixa que se pretende colocar no Viaduto do Chá.



O bonde deixou de circular em São Paulo no ano de 1968 acusado de atravancar o trânsito e de lá para cá, algumas ideias para um substituto foram ventiladas.




Em 2017 o então prefeito João Doria, recebeu do setor privado, um projeto de recuperação do centro que incluía a proposta de um passeio turístico a bordo de um Veículo Leve sobre Pneus – VLP.

Este VLP, “bonde elétrico sobre rodas”, circularia no centro histórico de São Paulo unindo dois pontos de cultura musical.

O “bondinho” sairia da Estação Júlio Prestes com destino ao Teatro Municipal e vice-versa, mas a sugestão não foi adiante.

Quem sabe a memória dos bondes se perpetue com essa nova ideia que esperamos possa vingar. Só mesmo ver para crer.



Fontes: Estadão Conteúdo/Revista Carta Capital/Google