sábado, 14 de setembro de 2024

Saiba como a Faria Lima se transformou na mais moderna das avenidas paulistanas

Tem gente que não gosta quando escrevo sobre modernidade, acham que o moderno é fruto da ganância como se no passado não houvesse coisas assim.

São Paulo é uma cidade de negócios e oportunidades, desta característica é que o paulistano vive e adquire experiências, algumas boas e outras nem tanto, mas de todas elas surgem recordações.

A ideia de se construir a Avenida Brigadeiro Faria Lima, nasceu durante a metade dos anos 1960 e partiu do então prefeito que hoje dá nome a este endereço.

José Vicente de Faria Lima era filho de imigrantes portugueses e nasceu no Rio de Janeiro onde serviu às Força Armadas e se tornou “Brigadeiro do Ar”, em 1958.

Eleito prefeito de São Paulo pelo voto direto, em 1966, Faria Lima fez uma gestão considerada exemplar, segundo analistas.

Em sua passagem pela prefeitura aconteceram coisas pitorescas e pouco lembradas nos dias atuais.

Todas as vezes que ia à Brasília, como era brigadeiro, requisitava da FAB um avião que ele mesmo pilotava.

Antes de ir, convidava os jornalistas que compunham o Comitê de Imprensa da Prefeitura para seguirem com ele e cobrir as reuniões.

Essa história quem me contou foi o saudoso repórter Aluane Neto, da Jovem Pan, que viajou com Faria Lima algumas vezes.

O brigadeiro quis construir a avenida pela necessidade de se ocupar com caminhos parte das áreas de várzea surgidas após a retificação Rio Pinheiros, conforme explicamos em nossa postagem anterior.

A retificação deste rio outrora sinuoso, transformado em um canal para o bombeamento das águas do Tietê para a Represa Billings, fez de suas antigas margens um imenso lamaçal repleto de lagoas que aos poucos foram sendo aterradas.


A partir do alargamento da Rua Iguatemi se construiu a nova avenida cujo nome seria Radial Oeste para a ligação entre os bairros de Pinheiros e Brooklin.

Por conta do falecimento do ex-prefeito, em 1969, seu sucessor Paulo Maluf fez homenagem e deu o nome dele para a avenida.

Depois, em seu segundo mandato como prefeito, na década de 1990, Maluf ampliou a Faria Lima do Largo da Batata até a Avenida Hélio Pellegrino, possibilitando a ela o rosto dos dias atuais.

No ano de 2001, com a aprovação do Estatuto das Cidades, a prefeitura paulistana instituiu o projeto Operações Urbanas para promover em regiões da cidade intervenções previstas no Plano Diretor.

Para a “Nova Faria Lima”, a prefeitura fez uso de um instrumento jurídico chamado “outorga onerosa” que oferece incentivos à verticalização através de contrapartidas financeiras.

O mercado imobiliário passou a comprar Certificados de Potencial Adicional de Construção – Cepacs e com o dinheiro, a prefeitura ampliou a infraestrutura urbana de toda a área e deu ao lugar ares de primeiro mundo.

Atualmente, a “Nova Faria Lima” é a que possui o metro quadrado mais caro da cidade e, segundo as imobiliárias, seus edifícios estão entre os mais luxuosos.

Para as novas torres de concreto armado sem mudaram empresas que passaram a ocupar prédios inteiros ou vários andares e sem comércio no térreo como acontece na Paulista e no Centro. Isto, ajuda também explicar a depreciação de áreas da cidade de São Paulo, outrora prósperas.

Quando uma empresa forte muda de lugar, as concorrentes fazem o mesmo para não perder o status.

Na próxima postagem trarei informações sobre a qualidade dessas novas edificações que atraíram para si as empresas e grupos financeiros que ocupam hoje a região mais rica da metrópole.



Fontes e Fotos:

Esquema Economia e Mercado - As origens da Faria Lima: As origens da Faria Lima - Blog | Esquema Imóveis (esquemaimoveis.com.br)

Gestão Urbana – Cidade de São Paulo: Gestão Urbana SP (prefeitura.sp.gov.br)

Outorga Onerosa – Urbanismo e Licenciamento: Outorga Onerosa - Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento - Prefeitura (capital.sp.gov.br)

Acesse nossa postagem anterior: Blog do Geraldo Nunes: Migração dos arranha-céus para a zona sul começou pelo Rio Pinheiros

 


sábado, 7 de setembro de 2024

Migração dos arranha-céus para a zona sul começou pelo Rio Pinheiros

As coisas não acontecem de uma hora para a outra, bem antes dos edifícios suntuosos que temos na zona sul paulistana, uma obra fantástica de engenharia fez mudar para sempre o destino da cidade de São Paulo.

Em 1927 teve início o processo de retificação do Rio Pinheiros para que suas águas passassem a ser bombeadas no sentido inverso e assim formar a Represa Billings.

Objetivo era o de fornecer maior quantidade de energia elétrica à baixada santista e ao mesmo tempo levar água encanada aos municípios do Grande ABC.

A partir de então o Pinheiros deixa de ser rio e se transforma em um canal para fazer o bombeamento das águas do Tietê que fazem girar as turbinas da Hidrelétrica Henry Borden para depois desaguar no estuário de Santos.

As consequências ambientais foram terríveis, as águas poluídas do Tietê passaram a cair no Pinheiros e bombeadas até Billings poluíram até mesmo as praias santistas.

Na foto vemos do alto a Usina Elevatória de Pedreira que fica atrás do Autódromo de Interlagos, as águas escuras na parte de baixo são as do Pinheiros sendo bombeadas para a Represa Billings mais acima.

Esta imagem ainda pode ser vista, embora a Constituição Paulista de 1989 tenha proibido o bombeamento do Pinheiros para a Billings.

Ficou do antigo Pinheiros após a retificação, uma quantidade enorme de lagoas e uma imensidão de terrenos alagadiços.

A prefeitura paulistana não tinha condições de aterrar tudo sozinha e passou a contratar pequenas empresas para fazer esse serviço.

Conheci um senhor de Santo Amaro que ficou rico aterrando as lagoas onde hoje se assentam ruas e avenidas de bairros como o Itaim-Bibi, Brooklin, Vila Olímpia, Chácara Santo Antônio e por aí vai.

Destes aterros surgiram terrenos baratos que foram loteados e vendidos pela prefeitura a pessoas humildes que ali construíram suas casas e passaram a residir nelas.

O traçado em azul desta foto por satélite mostra onde passava o Rio Pinheiros, como ele ficou e os terrenos surgidos.

Em 1972 foi aprovada a primeira Lei de Zoneamento Urbano que estabeleceu um Plano Diretor para a cidade de São Paulo.

Pela nova lei regras passaram a regulamentar a construção e a altura dos edifícios.


Acima está a Avenida Brigadeiro Faria no início da década de 1970 quando os terrenos da zona sul ainda eram baratos.

O mercado imobiliário arregalou os olhos, arregaçou a mangas, comprou os terrenos e demoliu as casas para construir arranha-céus e fazer da região o ponto mais valorizado de São Paulo.

Este lugar hoje é o preferido para a instalação dos escritórios de grandes bancos, corretoras de investimentos em bolsas de valores e demais empresas do mercado financeiro, também conhecidas como "Turma da Faria Lima".

A região no entorno da Avenida Brigadeiro Faria Lima, possui agora o metro quadrado residencial mais caro da capital paulista. Sua cotação em 2023, segundo levantamento da Loft, chegou a R$ 23 mil e pode fechar 2024 ainda mais valorizada.

Esta postagem serviu de introdução para o próximo capítulo da história da verticalização de São Paulo que agora completa 100 anos.

Semana que vem tem mais, saudações e se possível deixe o seu comentário.


Fontes:

Atlas Socioambiental de São Bernardo do Campos - Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal - Represa Billings: nossa água, nossa vida - São Bernardo (saobernardo.sp.gov.br)

Portal Condo News: Notícias do Mercado – Condo.news

Principais rios de São Paulo - Portal São Paulo Secreto

Acesso: Rios de São Paulo: os cursos d'água que moldaram a capital (saopaulosecreto.com)

Revista Exame: Bairros vizinhos à Faria Lima têm o m² mais caro de São Paulo em 2023, diz Loft | Exame

Fotos: Pesquisa Google e Revista Exame